Sr. Editor,
Os autores do artigo "Síndrome do seio cavernoso secundária a mucormicose rino-orbitocerebral", publicado na edição de maio/junho de 2013 deste periódico(1), relatam um caso incomum de mucormicose, avaliado por tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM). A sinusite fúngica invasiva é uma infecção rapidamente progressiva, ocorrendo mais frequentemente em pacientes imunocomprometidos e diabéticos. O termo não deve ser considerado sinônimo de mucormicose(2,3), já que qualquer fungo saprofítico com afinidade por invasão vascular pode causar a condição, sendo Mucorales e Aspergillus os agentes etiológicos mais comuns. A maioria dos casos tem infecção bacteriana superposta(3). A diferenciação etiológica entre os agentes fúngicos não altera a terapia medicamentosa, cumprindo ressaltar que o desbridamento sinusal amplo e o tratamento da condição predisponente constituem adjuvantes importantes para o sucesso terapêutico(3). Os autores mencionam a opacificação e o espessamento da mucosa sinusais como sinais de doença crônica. Cronicidade tem como achado distinto o espessamento e esclerose das limitantes ósseas da cavidade paranasal(3), o que não se aplica ao caso em questão. A TC, em geral, é o primeiro método de imagem na avaliação dos quadros rinossinuso-orbitários agudos, devido à rapidez do exame, maior disponibilidade nos centros de emergência e excelente habilidade em demonstrar erosão óssea. Aumento da densidade das secreções sinusais, associado a erosões ósseas e doença extrassinusal, sugere colonização fúngica à TC(3). A RM é superior para o mapeamento da doença extrassinusal e complicações orbitocranianas, incluindo a análise do seio cavernoso(1-5). No relato de caso de Vilela et al.(1), a TC no plano coronal demonstra a erosão das lâminas crivosas e são descritos abscessos nos lobos frontais, em correspondência às erosões e também claramente identificados à RM. No parágrafo seguinte, a descrição dos abscessos à RM os situa na adjacência dos seios cavernosos e, portanto, na fossa craniana média bilateralmente. No entanto, o achado no plano axial da RM no nível dos seios cavernosos, referente à figura 3, é somente de impregnação assimétrica da parede lateral do seio cavernoso direito. Este achado pode representar um sinal indireto de tromboflebite, o que justificaria a síndrome referida. Salienta-se a ausência de quaisquer outros sinais radiológicos de comprometimento do seio cavernoso, como alteração do volume e contorno deste, ou dilatação da veia oftálmica superior ipsolateral. Mais contundente é a presença de componente lesional (abscesso subperiosteal) no quadrante medial da órbita direita, não citado pelos autores, apesar de incluído no próprio título do artigo(1). Pode-se inclusive inferir que o realce anormal dural do seio cavernoso deste lado seja mais provavelmente decorrente do acometimento orbitário do que propriamente do abscesso cerebral da fossa craniana anterior, haja vista a reconhecida via direta de disseminação da infecção da órbita ao seio cavernoso nestas situações(4,5). O grande volume do abscesso cerebral frontal direito em confronto à alteração focal cavernosa também permitem especular o acometimento temporal posterior do seio cavernoso homolateral, subsequente ao orbitário. A multiplicidade de lesões por extenso comprometimento locorregional é um desafio ao médico radiologista, devendo-se ter em mente a complexidade anatômica da região da cabeça e pescoço para o subsídio diagnóstico mais fidedigno.
REFERÊNCIAS
1. Vilela MV, Marques HC, Carvalho REDS, et al. Síndrome do seio cavernoso secundária a mucormicose rino-orbitocerebral. Radiol Bras. 2013;46:187-9.
2. Groppo ER, El-Sayed IH, Aiken AH, et al. Computed tomography and magnetic resonance imaging characteristics of acute invasive fungal sinusitis. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2011;137:1005-10.
3. Harnsberger HR. Diagnostic imaging head and neck. 1st ed. Philadelphia: Amirsys; 2004.
4. Lee JH, Lee HK, Park JK, et al. Cavernous sinus syndrome: clinical features and differential diagnosis with MR imaging. AJR Am J Roentgenol. 2003;181:583-90.
5. LeBedis CA, Sakai O. Nontraumatic orbital conditions: diagnosis with CT and MR imaging in the emergent setting. Radiographics. 2008;28:1741-53.
Ana Célia Baptista Koifman
Livre-Docente em Radiologia, Professora Adjunta de Radiologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.