RELATO DE CASO
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Autho(rs): Mário Müller Lorenzato, Enrico Granzotto, André Della Barba Barros, Natasha Zacharias Arruda Silveira, Pedro Henrique Raffa de Souza |
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Descritores: Aneurisma, Veia porta, Veia esplênica, Veias mesentéricas |
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Resumo:
INTRODUÇÃO Os aneurismas no sistema esplenoportomesentérico são entidade clínica rara, com o primeiro caso de aneurisma da veia esplênica descrito na literatura em 1953 por Lowenthal e Jacob(1), tendo sido relatados menos de 40 casos até hoje. A etiologia dos aneurismas é desconhecida, podendo ter origem congênita ou adquirida(2). Eles podem ser assintomáticos ou levarem a condições severas, como dor abdominal em cólica, icterícia e hemorragia digestiva alta secundária a hipertensão portal. Doença hepática crônica, hipertensão portal, trauma ou inflamação são fatores contribuintes no caso dos aneurismas secundários(2,3). O enfraquecimento da parede do vaso consequente a trauma, condições inflamatórias como pancreatite ou alterações degenerativas locais também foram implicados na gênese da dilatação esplênica. O diagnóstico é geralmente feito por ultrassonografia (modo B ou Doppler colorido), tomografia e ressonância magnética. Procedimentos invasivos como arteriografia mesentérica em fase venosa ou esplenoportografia podem ser auxiliares ao diagnóstico(4).
RELATO DO CASO Paciente do sexo feminino, branca, 62 anos de idade, procedente de Ribeirão Preto, SP, portadora de diabete mellitus. Iniciou com quadro de dor abdominal no mesogástrio, sendo encaminhada para investigação ultrassonográfica e posterior realização de tomografia computadorizada. Na ultrassonografia observou-se imagem sacular hipoecoica na região da junção esplenomesentérica. O estudo dopplerfluxométrico demonstrou padrão venoso do fluxo e turbilhonamento no interior da lesão (Figura 1).
Com o prosseguimento na investigação, a paciente foi encaminhada para realização de tomografia computadorizada, que evidenciou formação arredondada medindo 5,2 × 4,0 cm na junção entre as veias mesentérica superior, veia esplênica e emergência da veia porta, apresentando realce semelhante a esses vasos. Essa formação determinava efeito compressivo sobre a cabeça pancreática, veia cava inferior e veia renal direita (Figuras 2, 3 e 4).
A avaliação clínica descartou hipertensão portal, hepatopatias ou icterícia como achados de exame físico ou laboratorial, não sendo encontrada causa para as alterações.
DISCUSSÃO Os aneurismas venosos são malformações atípicas raramente encontradas na clínica habitual. A maioria tem sua localização na região cervical e membros inferiores(5); dentro das vísceras, os que afetam o sistema venoso portal são o tipo mais frequentemente encontrado(4,6,7). A etiologia dos aneurismas da junção esplenoportomesentérica é desconhecida, tendo sido propostas causas congênitas e adquiridas, como hipertensão portal, cirrose, inflamação, fístulas arteriovenosas e traumatismos prévios(2,4,7). Entretanto, nem todos os pacientes com hipertensão portal desenvolvem dilatações aneurismáticas, parecendo existir, portanto, um mecanismo de ação multifatorial. Com respeito ao quadro clínico, os aneurismas da veia esplênica, em sua maioria, são assintomáticos e aparecem como achados casuais em explorações abdominais(4). A história natural e o comportamento dos aneurismas do sistema esplenoportomesentérico são desconhecidos. Complicações como ruptura, trombose, compressão de estruturas adjacentes e hemorragia gastrintestinal secundária a varizes esofágicas foram descritas na literatura.
CONCLUSÃO Os aneurismas do sistema esplenoportomesentérico já foram considerados extremamente raros, mas atualmente já são entidade clínica bem documentada. Todavia, ainda representam apenas 3% dos aneurismas do sistema venoso(8). O diagnóstico pode ser feito por estudo Doppler colorido demonstrando fluxo venoso no interior da cavidade aneurismática, exceto nos casos de trombose. A tomografia computadorizada helicoidal com contraste intravenoso, além de proporcionar informações sobre a massa e as estruturas adjacentes, oferece imagens tridimensionais, o que favorece o diagnóstico preciso(9). A eleição do tratamento (conservador ou cirúrgico) depende de vários fatores. Para a maioria dos autores, nos casos de hipertensão portal, o tratamento mais acertado parece ser a colocação de um tubo de derivação portossistêmico(4). A controvérsia aparece nos casos sem hipertensão portal. No caso ora descrito, o gastrocirurgião optou por conduta expectante, com exames de imagem periódicos, pois a paciente apresentava quadro clínico intermitente e sem outros achados.
REFERÊNCIAS 1. Lowenthal M, Jacob H. Aneurysm of splenic vein. Report of a case. Acta Med Orient. 1953;12:170-4. [ ] 2. Barzilai R, Kleckner MS Jr. Hemocholecyst following ruptured aneurysm of portal vein: report of a case. AMA Arch Surg. 1956;72:725-7. [ ] 3. Glazer S, Gaspar MR, Esposito V, et al. Extrahepatic portal vein aneurysm: report of a case treated by thrombectomy and aneurysmorraphy. Ann Vasc Surg. 1992;6:338-43. [ ] 4. Bernal C, Ocaña J, Gandarias C, et al. Aneurismas de la vena esplénica. A propósito de un caso y revisión de la literatura. Angiología. 2001;53: 28-32. [ ] 5. Calligaro KD, Ahmad S, Dandora R, et al. Venous aneurysms: surgical indications and review of the literature. Surgery. 1995;117:1-6. [ ] 6. Fulcher A, Turner M. Aneurysms of the portal vein and superior mesenteric vein. Abdom Imaging. 1997;22:287-92. [ ] 7. Brock PA, Jordan PH Jr, Barth MH, et al. Portal vein aneurysm: a rare but important vascular condition. Surgery. 1997;121:105-8. [ ] 8. Gallego C, Velasco M, Marcuello P, et al. Congenital and acquired anomalies of the portal venous system. Radiographics. 2002;22:141-59. [ ] 9. Pinto OL, Tornin OS, Botelho RA, et al. Aneurisma de artéria hepática simulando lesão em cabeça de pâncreas: relato de caso. Radiol Bras. 2005;38:467-70. [ ]
Endereço para correspondência: Recebido para publicação em 30/8/2007.
* Trabalho realizado na Documenta Clínica Radiológica, Ribeirão Preto, SP, Brasil. |