RELATO DE CASO
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Autho(rs): André Francisco Gomes, Vinícius Chissini Paganella, Mateus Chissini Paganella, Caroline Schwartz Henkin, Giana Giostri |
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Descritores: Os styloideum, Edema ósseo trabecular, Imagem por ressonância magnética |
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Resumo:
INTRODUÇÃO Os styloideum é um ossículo acessório, imóvel, localizado dorsalmente no carpo, que representa uma variante anatômica. Situa-se entre os ossos do carpo trapezóide, capitato e entre o segundo e terceiro ossos metacarpos. A associação entre os styloideum e dor no punho é conhecida como carpal boss syndrome(1,2). Estudos por exames de imagem são decisivos para a realização do diagnóstico correto. Relatos utilizando ressonância magnética (RM) ainda são escassos, apesar desse método ser ferramenta de grande valia para o diagnóstico diferencial de os styloideum sintomático(3,4). Apresentamos um caso de os styloideum sintomático avaliado por RM, com revisão da literatura deste achado.
RELATO DO CASO Paciente do sexo feminino, 14 anos de idade, de origem caucasiana, natural e procedente de Curitiba, PR, jogadora semiprofissional de tênis, apresentou-se na consulta ortopédica com dor no dorso do punho direito há mais de um ano, com piora no último mês. Mesmo com exacerbação da dor no último mês, a paciente manteve os treinos, porém utilizando o outro punho, que iniciou com leve dor. No exame físico ortopédico dos punhos havia uma proeminência de consistência dura, dolorosa à palpação, na base do terceiro metacarpo direito, com aumento de volume discreto em partes moles do local. Havia referência a dor leve, no final dos movimentos de flexão e de extensão, porém sem limitação da amplitude articular. Foi realizado exame de tomografia computadorizada (TC) e obtidas reconstruções multiplanares e tridimensionais, que demonstraram os styloideum na região dorsal do punho (Figura 1). No exame de RM observaram-se redução da intensidade de sinal em T1, aumento de sinal em T2 e realce de sinal após injeção intravenosa de meio de contraste paramagnético (gadolínio) do os styloideum, sugestivo de edema ósseo trabecular (Figura 2).
DISCUSSÃO Os styloideum, um ossículo acessório do carpo, faz parte de um espectro de condições que se manifestam como uma protuberância óssea na base do segundo e terceiro metacarpos, que compõem a bossa carpal (carpal boss)(5). Entre os diagnósticos diferenciais destacam-se fratura da base do segundo e terceiro metacarpos, osteófitos (osteoartrose), exostoses, neoplasias ósseas e de partes moles, e lesões ósseas císticas(3,5). Segudo Conway et al.(6), a primeira descrição de os styloideum foi em 1725 por Saltzmann, todavia, o termo carpal boss foi proposto por Fiolle em 1931(7). A explicação mais plausível para a etiologia de os styloideum baseia-se na persistência de um centro de ossificação acessório que surge durante o desenvolvimento embriológico. Na maioria dos casos, desaparecem durante o desenvolvimento fetal, porém, quando persistem, podem interferir com a biomecânica da articulação do carpo. Podem ocorrer de forma isolada (2%), fusionado ao capitato (3,5%) ou ao trapezóide (0,5%). Entretanto, na grande maioria dos casos (94%), o os styloideum encontra-se fusionado à base do segundo e terceiro metacarpos(3,5). A maioria dos sintomas crônicos associados com o carpal boss pode ser causada por processo osteodegenerativo, gânglion, bursa ou tendão extensor inflamados sobre a proeminência óssea. Por outro lado, em casos de sintoma agudo no dorso do punho associado a trauma, devemos suspeitar de fratura da base dos metacarpos, avulsão do tendão extensor radial curto do carpo ou fratura de os styloideum(3,5). O quadro clínico é variável, podendo apresentar-se com dor de surgimento espontâneo ou precipitada pelo uso excessivo da articulação (esportes com uso de raquete ou golfe), edema subcutâneo e ausência de bloqueio articular. A dor pode ser agravada por pressão local e extensão forçada do punho e, geralmente, cessa ao repouso(5). O estudo por imagem é fundamental para a definição do diagnóstico de os styloideum. Na radiografia simples, a incidência lateral do punho com a mão flexionada, supinada em 30° a 40° e com desvio ulnar de 20° a 30° tem sido descrita como a mais adequada(5,8). Entretanto, as condições patológicas associadas a esse ossículo acessório não são adequadamente avaliadas por esse método de imagem. Cintilografia óssea também tem sido utilizada, evidenciando aumento da captação do radiotraçador (99mTc -MDP) no local do ossículo(1,8). A TC multiplanar e com reconstrução em três dimensões ajuda a avaliar a relação entre o os styloideum e os ossos adjacentes(8). Todavia, nos casos de dor aguda relacionada a trauma ou dor persistente, é a RM o método de imagem mais acurado para avaliar a integridade dos metacarpos, ossos cárpicos e acessórios, assim como da medula óssea, ênteses e ligamentos regionais(3). No caso aqui relatado observamos edema ósseo trabecular no os styloideum, provavelmente decorrente de alterações biomecânicas com traumatismos de repetição. O tratamento inicial de os styloideum consiste em imobilização e uso de drogas anti-inflamatórias. Em pacientes com dor persistente, a excisão cirúrgica, com ou sem artrodese, costuma ser indicada(1,3,6,8).
REFERÊNCIAS 1. Apple JS, Martinez S, Nunley JA. Painful os styloideum: bone scintigraphy in carpe bossu disease. AJR Am J Roentgenol. 1984;142:181-2. [ ] 2. Kalantari BN, Seeger LL, Motamedi K, et al. Accessory ossicles and sesamoid bones: spectrum of pathology and imaging evaluation. Appl Radiol. 2007;36:28-37. [ ] 3. Maquirriain J, Ghisi JP. Acute os styloideum injury in an elite athlete. Skeletal Radiol. 2006;35:394-6. [ ] 4. Zanetti M, Saupe N, Nagy L. Role of MR imaging in chronic wrist pain. Eur Radiol. 2007;17:927-38. [ ] 5. Park MJ, Namdari S, Weiss AP. The carpal boss: review of diagnosis and treatment. J Hand Surg Am. 2008;33:446-9. [ ] 6. Conway WF, Destouet JM, Gilula LA, et al. The carpal boss: an overview of radiographic evaluation. Radiology. 1985;156:29-31. [ ] 7. Fiolle J. Le "carpe bossu". Bull Mem Soc Natl Chir. 1931;57:1687-90. [ ] 8. Karmazyn B, Siddiqui AR. Painfull os styloideum in a child. Pediatr Radiol. 2002;32:370-2. [ ]
Endereço para correspondência: Recebido para publicação em 25/6/2008.
* Trabalho realizado na Clínica DAPI - Diagnóstico Avançado por Imagem e no Hospital Universitário Cajuru, Curitiba, PR, Brasil. |