Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Vol. 50 nº 5 - Set. / Out.  of 2017

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 346 to 347



Síndrome Terson: importante diagnóstico diferencial no contexto das hemorragias subaracnóideas

Autho(rs): Ana Paula Alves Fonseca; Marcos Rosa Júnior

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Sr. Editor,

Paciente do gênero feminino, 42 anos, admitida no pronto-socorro com cefaleia intensa e urgência hipertensiva (pressão arterial: 220 × 110 mmHg), evoluindo com hemiparesia à esquerda, anisocoria à direita e rebaixamento do nível de cons­ciência, com escala de coma de Glasgow igual a 4. A tomografia computadorizada de crânio mostrou hemorragia subaracnoide aguda Fisher 4, decorrente de ruptura de aneurisma da circulação anterior. Além disso, mostrou sinais de hemorragia intra-ocular bilateral (Figura 1). Tais achados são compatíveis com o diagnóstico de síndrome Terson.


Figura 1. A: TC demonstrando sinais de hemorragia subaracnoide e hemorragia intraocular direita, como foco espontaneamente hiperatenuante na porção posterior do globo ocular direito. B: TC mostrando hemorragia intraocular à esquerda.



A síndrome Terson foi descrita inicialmente como hemorragia vítrea secundária a hemorragia subaracnoide aguda, mas publicações recentes também demonstram que pode resultar de traumatismo cranioencefálico ou mesmo de hemorragia intraparenquimatosa cerebral não traumática(1). Descrita originalmente em 1900 por Albert Terson, a síndrome tem incidência variando entre 2,6% e 27% no contexto das hemorragias subaracnóideas por ruptura de aneurismas(2-4). Sua etiologia, apesar de controversa, tem sido atribuída ao rápido aumento da pressão venosa ou intracraniana, que rompe os capilares peripapilares ou causa compressão da veia central da retina, o que resulta em diminuição da drenagem venosa retiniana, provocando estase e hemorragia(5).

O diagnóstico de hemorragia intraocular é confirmado com mais precisão por meio de avaliação fundoscópica, mas a tomografia computadorizada pode sugeri-lo, com sensibilidade estimada de 66%. As alterações mais encontradas são espessamento da retina e nódulos hiperatenuantes recobrindo o disco óptico(6).

A síndrome Terson é mais frequentemente encontrada em pacientes com doença neurológica grave, escala de coma de Glasgow menor ou igual a 8 e Fisher maior ou igual a 3 no momento da apresentação. Ressalta-se ainda que a morbidade e a mortalidade têm sido elevadas nesses pacientes. Na série de Fountas et al., a mortalidade foi 2% para os pacientes que não apresentavam hemorragia ocular e 28,6% para os que a apresentavam(7).

A síndrome Terson não é uma condição infrequente, sendo possivelmente subdiagnosticada. Dadas as implicações de prognóstico para a morbidade e mortalidade, bem como o potencial de lesão ocular secundária, este diagnóstico é de extrema relevância ao radiologista e aos demais profissionais assistentes, principalmente no cenário da hemorragia subaracnoide aguda(8), mas também em outras formas de hemorragia intracraniana.


REFERÊNCIAS

1. Czorlich P, Skevas C, Knospe V, et al. Terson syndrome in subarachnoid hemorrhage, intracerebral hemorrhage, and traumatic brain injury. Neurosurg Rev. 2015;38:129-36.

2. de Vries-Knoppert W. Vitreous findings in a patient with Terson's syndrome. Doc Ophthalmol. 1995;90:75-80.

3. Vanderlinden RG, Chisholm LD. Vitreous hemorrhages and sudden increased intracranial pressure. J Neurosurg. 1974;41:167-76.

4. Pobereskin LH. Incidence and outcome of subarachnoid haemorrhage: a retrospective population based study. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2001;70:340-3.

5. Ogawa T, Kitaoaka T, Dake Y, et al. Terson syndrome: a case report suggesting the mechanism of vitreous hemorrhage. Ophthalmology. 2001;108: 1654-6.

6. Avila M, Cialdini AP, Crivelin M, et al. Vitrectomia na síndrome de Terson. Arq Bras Oftalmol. 1997;60:67-71.

7. Fountas KN, Kapsalaki EZ, Lee GP, et al. Terson hemorrhage in patients suffering aneurysmal subarachnoid hemorrhage: predisposing factors and prognostic significance. J Neurosurg. 2008;109:439-44.

8. Wajnberg E. Síndrome de takotsubo após hemorragia subaracnóidea. Radiol Bras. 2012;45:132-4.










Hospital Universitário Cassiano Antônio Morais da Universidade Federal do Espírito Santo (HUCAM-UFES), Vitória, ES, Brasil

Endereço para correspondência:
Dra. Ana Paula Alves Fonseca
Rua Major Clarindo Fundão, 110, ap. 604, Praia do Canto
Vitória, ES, Brasil, 29055-655
E-mail: anapaf.fonseca@gmail.com
 
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