CARTA AO EDITOR
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Autho(rs): Luciana Mendes Araújo Borem1; Dimitrius Nikolaos Jaconi Stamoulis2; Ana Flávia Mundim Ramos2 |
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Sr. Editor,
Pré-escolar do sexo feminino, sete anos, com quadro de dispneia e edema cervical associados a tosse, foi atendida em outro serviço onde foram prescritos anti-inflamatórios e aerossol. Evoluiu com piora da dispneia e da tosse, além de tiragem intercostal e aumento de volume cervical. Foi atendida em nosso serviço em regular estado geral, orofaringe sem alterações, edema cervical e periorbital bilateralmente, murmúrio vesicular diminuído, com sibilos esparsos, frequência respiratória de 30 incursões por minuto, tiragem intercostal, crepitações subcutâneas à palpação torácica anterior e posterior, sinal de Hamman negativo. A radiografia de tórax da admissão (Figura 1) mostrou pneumomediastino e extenso enfisema subcutâneo. Foram realizados cortes tomográficos de tórax (Figura 2), que demonstraram, ainda, o raro achado de pneumórraque. A paciente foi mantida em internação hospitalar por cinco dias em tratamento de suporte, tendo havido remissão completa dos sintomas. Figura 1. Radiografia de tórax em posteroanterior mostrando pneumomediastino (cabeças de setas) e extenso enfisema subcutâneo em regiões supraclaviculares e axilares (setas). Figura 2. TC de tórax nos planos axial (A) e sagital (B) demonstrando pneumórraque (setas) e enfisema mediastinal (cabeças de setas). A síndrome de Hamman é condição incomum na prática médica, ocorrendo em aproximadamente 1/30.000 admissões hospitalares(1) e em 1% dos casos de asma(2). Suas principais causas são: exercício físico intenso, trabalho de parto, barotrauma pulmonar, mergulhos em grandes profundidades, tosse em paroxismos de forte intensidade, vômitos, inalação de drogas entorpecentes, asma brônquica e biotipo longilíneo(1,2). O marco inicial da fisiopatologia da síndrome de Hamman é a superdistensão e ruptura alveolar, que resulta de uma alta pressão intra-alveolar, de uma baixa pressão perivascular, ou de ambas. Após o evento inicial, o ar penetra livremente no mediastino durante o ciclo respiratório, buscando equilibrar os gradientes pressóricos(3,4). Desencadeantes conhecidos incluem exacerbação aguda de asma e situações que exigem a realização de manobra de Valsava(4). A associação do pneumomediastino espontâneo com a pneumórraque é extremamente rara(5,6). Possíveis causas de pneumórraque incluem: consumo de êxtase, abscessos, ataques de asma ou tosse, vômitos violentos, anestesia peridural, punção lombar, cirurgia ou trauma torácico e vertebral(7,8). Mais raramente, também pode ser associada a meningite ou pneumoencéfalo(7). A pneumórraque geralmente ocorre diretamente, quando o ar atmosférico chega ao espaço epidural por meio de uma agulha ou de ferimentos penetrantes diretos da coluna vertebral, ou indiretamente, como na asma brônquica. Nesse caso, o ar proveniente da ruptura de um alvéolo pulmonar periférico vaza para o interstício perivascular pulmonar e disseca o caminho de menor resistência do mediastino aos planos faciais do pescoço. Devido à inexistência de barreiras faciais, o ar atravessa o forame neural e se deposita no espaço epidural. Em qualquer situação, a sua presença é geralmente assintomática na maioria dos casos e desaparece espontaneamente em poucas semanas. Enquanto a tomografia computadorizada visualiza diretamente a presença de ar no(s) compartimento(s) atingido(s), a avaliação radiográfica pode demonstrar sinais típicos de pneumomediastino, produzidos quando o ar que deixa o mediastino delineia as estruturas anatômicas normais, como o enfisema subcutâneo, o “sinal da vela” do timo, o pneumopericárdio, o sinal do “anel ao redor da artéria”, o sinal do “diafragma contínuo”, o sinal da “parede brônquica dupla”, entre outros(3). REFERÊNCIAS 1. Lopes FPL, Marchiori E, Zanetti G, et al. Pneumomediastino espontâneo após esforço vocal: relato de caso. Radiol Bras. 2010;43:137-9. 2. Bote RP, Moreno AM, Núñez JMF, et al. Enfisema epidural associado a traumatismo torácico grave. Emergencias. 2008;20:70-1. 3. Fatureto MC, Santos JPV, Goulart PEN, et al. Pneumomediastino espontâneo: asma. Rev Port Pneumol. 2008;14:437-41. 4. van Veelen I, Hogeman PHG, van Elburg A, et al. Pneumomediastinum: a rare complication of anorexia nervosa in children and adolescents. A case study and review of the literature. Eur J Pediatr. 2008;167:171-4. 5. Nascimento J, Gomes M, Moreira C, et al. Caso radiológico. Nascer e Crescer. 2012;21:153-4. 6. Alves GRT, Silva RVA, Corrêa JRM, et al. Pneumomediastino espontâneo (síndrome de Hamman). J Bras Pneumol. 2012;38:404-7. 7. Aribas OK, Gormus N, Aydogdu Kiresi D. Epidural emphysema associated with primary spontaneous pneumothorax. Eur J Cardiothorac Surg. 2001;20:645-6. 8. Araujo MS, Fernandes FLA, Kay FU, et al. Pneumomediastino, enfi sema subcutâneo e pneumotórax após prova de função pulmonar em paciente com pneumopatia intersticial por bleomicina. J Bras Pneumol. 2013;39:613-9. 1. Santa Casa de Montes Claros, Montes Claros, MG, Brasil 2. Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Dimitrius Nikolaos Jaconi Stamoulis Departamento de Radiologia e Diagnóstico por Imagem – UFTM Avenida Getúlio Guaritá, 130, Nossa Senhora da Abadia Uberaba, MG, Brasil, 38025-250 E-mail: dimitriusss@hotmail.com |