CARTA AO EDITOR
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Autho(rs): Andréa Farias de Melo Leite1; Bruna Venturieri1; Rosana Gonçalves de Araújo1; Eduardo Just Costa e Silva1; Jorge Elias Junior2 |
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Sr. Editor,
Menina, 9 anos de idade, com quadro de hiperparatireoidismo. A ultrassonografia (US) demonstrou cistos renais e aumento da ecogenicidade do parênquima de ambos os rins. Pensou-se em hiperparatireoidismo secundário a doença renal crônica/policística. A paciente piorou progressivamente da função renal e da hipertensão arterial, sendo então realizados novos exames de imagem. A US mostrou imagens anecoicas, parapiélicas, multiloculadas em ambos os rins, e cistos de localização perirrenais e subcapsulares. Tomografia computadorizada (TC) sem contraste prejudicou a exata caracterização, porém, revelou alterações similares à US. Foi realizada ressonância magnética (RM), que demonstrou cistos de localização parapiélica, perirrenais com alteração da intensidade de sinal do parênquima renal e perda da diferenciação corticomedular (Figura 1A), fechando o diagnóstico de linfangiectasia renal (LR), em conjunto com dados clínicos e laboratoriais. Figura 1. A: Corte coronal de RM ponderado em T2 mostra perda da diferenciação corticomedular em ambos os rins e múltiplas lesões císticas, de paredes delgadas, que se localizam na cortical (setas). B: Formações císticas subcapsulares corticais (setas). C: Plano axial T2 revela cistos localizados nos seios renais (cabeças de setas) e espaços perinefréticos simulando dilatação piélica. D: As mesmas imagens císticas corticais simulam coleções subcapsulares (seta). A LR é uma doença benigna rara que ocorre por falha de comunicação entre o sistema de drenagem linfática renal com o sistêmico retroperitoneal(1). Como consequência, há acúmulo de linfa nos ductos linfáticos, ectasiando-os e formando coleções renais parapiélicas, perinefréticas ou intraparenquimatosas, uni ou multiloculadas, normalmente assimétricas e bilaterais; podendo afetar também apenas uma parte de um rim (Figura 1 – B,C). Não há predileção por sexo ou faixa etária, e até 2005 apenas 40 casos tinham sido descritos(1,2). A descoberta da LR é acidental, com ou sem sinais e sintomas de dor, aumento do volume abdominal, hematúria, ascite, edema de membros inferiores, hipertensão arterial, eritrocitose com trombose da veia renal associada e, excepcionalmente, quilúria(3). Tais manifestações podem ser justificadas pela distensão da fáscia renal e compressão do parênquima renal pelos cistos, fistulização para a cavidade pélvica e alteração do sistema reninaangiotensina(2–4). Insuficiência renal crônica já foi relatada em casos raros(5). No conhecimento dos autores, não há relatos específicos da evolução clínica com hiperparatireoidismo, embora a relação com insuficiência renal crônica possa ser presumida. A TC pode demonstrar formações expansivas perirrenais com coeficientes de atenuação de líquido, delimitadas pela fáscia renal, que se amoldam e não invadem estruturas vizinhas, podendo comprimir o córtex renal, expandir o seio e distorcer o sistema calicinal; ou, também, identificar coleções hipodensas periféricas predominantemente pequenas, observando-se valores de atenuação de 0 a 15 UH(3). Pode haver espessamento das fáscias renais e coleções retroperitoneais cruzando a linha média ao nível do hilo renal. Não há realce das coleções ou das paredes das formações císticas após uso de contraste iodado(6). Na RM os cistos exibem baixo sinal em T1 (pode haver hipersinal, caso haja sangramento(6)) e hipersinal em T2, sem realce, e ainda se pode diagnosticar a LR demonstrando coleções linfáticas perirrenais com inversão da intensidade de sinal corticomedular(1,4) (Figura 1 – B,C,D). É essencial o conhecimento dos aspectos radiológicos da LR, para sugerir o diagnóstico, orientar a terapêutica e a prevenção de complicações, sendo necessário diferenciá-la de outras doenças que mimetizam enfermidades renais císticas. Embora seja rara a associação com insuficiência renal, seu conhecimento é importante também para prevenir morbidades que, se associadas, podem evoluir com esta complicação, como a obesidade e a hipertensão arterial. REFERÊNCIAS 1. Rastoji R, Rastogi V. Computed tomographic scan in the diagnosis of bilateral renal lymphangiectasia. Saudi J Kidney Dis Transpl. 2008;19: 976–9. 2. Ashraf K, Raza SS, Ashraf O, et al. Renal lymphangiectasia. Br J Radiol. 2007;80:e117–8. 3. Vega J, Santamarina M. Linfangiectasia renal unilateral. Caso clínico. Rev Méd Chile. 2012;140:1312–5. 4. Restrepo JM, Amaya JEL, Sepúlveda NA, et al. Renal lymphangiectasia: MDCT and MRI findings. Rev Colomb Radiol. 2011;22:1–8. 5. Ueda S, Yanagida H, Sugimoto K, et al. Chronic renal insufficiency in a boy with cystic renal lymphangiectasia: morphological findings and longterm follow-up. Clin Nephrol. 2007;68:416–21. 6. Vasconcelos RA, Pereira ES, Bauab Jr T, et al. Renal lymphangiectasia: incidental finding at multislice computed tomography and literature review. Radiol Bras. 2012;45:178–80. 1. Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira de Pernambuco (IMIP), Recife, PE, Brasil 2. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil Endereço para correspondência: Dra. Andréa Farias de Melo Leite Rua Laura Campelo, 130, Torre Recife, PE, Brasil, 50710-270 E-mail: andreafariasm@gmail.com |