Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 48 nº 3 - Maio / Jun.  of 2015

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 197 to 198



Edema pulmonar agudo por pressão negativa pós-tonsilectomia

Autho(rs): Lais Bastos Pessanha; Adriana Maria Fonseca de Melo; Flavia Silva Braga; Gabriel Antonio de Oliveira; Livia Guidoni de Assis Barbosa; Antonio Roberto Carrareto

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Sr. Editor,

Paciente feminina, 28 anos, foi submetida a tonsilectomia e desenvolveu desconforto respiratório no pós-operatório imediato. No dia seguinte realizou radiografias de tórax nas incidências posteroanterior e perfil que mostraram opacidades em ambos os pulmões, coalescentes, de bordas imprecisas, poupando a periferia, caracterizando o padrão dito em "asas de borboleta", compatível com processo alveolar difuso. A imagem cardíaca era normal (Figura 1A). Radiografias nas mesmas incidências realizadas três dias após, sem que a paciente usasse qualquer medicação, mostraram desaparecimento dessas opacidades (Figura 1B).


Figura 1. A: Incidência posteroanterior de tórax mostrando opacidades coalescentes, de limites imprecisos, bilaterais, configurando o padrão dito "em asas de borboleta", típico de processo alveolar. A imagem cardíaca tem dimensões normais. Este exame foi feito um dia após tonsilectomia. A paciente apresentava discreta dispneia. B: Incidência posteroanterior de tórax, três dias após. Houve involução total do processo alveolar demonstrado no exame anterior.



O edema pulmonar por pressão negativa (EPPN) constitui uma ocorrência rara em cirurgias (0,094%), mais frequentemente em cirurgias bucomaxilofaciais e orais devido a probabilidade de obstrução das vias aéreas superiores(1-3). Divide-se o EPPN em duas classes. O do tipo I é decorrente de obstrução das vias aéreas superiores, como, por exemplo, laringoespasmo pós-extubação traqueal, epiglotite, obstrução da cânula traqueal e paralisia pós-operatória das cordas vocais(3-6). O tipo II ocorre após realização de procedimentos cirúrgicos para correção de obstrução crônica das vias aéreas, como hiperplasia das tonsilas, apneia do sono, tumores e acromegalia(7,8). O tratamento, nesses casos, deve ser direcionado no intuito de reverter a hipóxia e diminuir o volume líquido dos pulmões(1-5). O prognóstico é bom, com involução, na maioria dos casos, nas primeiras 24 horas(8).

Os achados na EPPN nas radiografias e na tomografia computadorizada de tórax são edema intersticial, evoluindo para edema alveolar nos casos mais graves. Os sintomas e os achados radiológicos geralmente involuem em dois ou três dias(6). Muitas doenças apresentam quadro radiológico de processo alveolar difuso, não sendo este achado específico de nenhuma delas(9). A paciente era hígida, sem comorbidades, em pós-operatório imediato de cirurgia de vias aéreas superiores (tonsilectomia), com resolução espontânea em apenas três dias.

Embora o padrão radiológico tenha sido inespecífico, o antecedente cirúrgico e a rápida resolução do quadro permitiram excluir outras causas, restando como único diagnóstico possível a EPPN. Desse modo, julgamos desnecessário prosseguir a investigação diagnóstica com outros métodos de imagem ou exames laboratoriais.


REFERÊNCIAS

1. Cascade PN, Alexander GD, Mackie DS. Negative-pressure pulmonary edema after endotracheal intubation. Radiology. 1993;186:671-5.

2. Mamiya H, Ichinohe T, Kaneko Y. Negative pressure pulmonary edema after oral and maxillofacial surgery. Anesth Prog. 2009;56:49-52.

3. Deepika K, Kenaan CA, Barrocas AM, et al. Negative pressure pulmonary edema after acute upper airway obstruction. J Clin Anesth. 1997;9:403-8.

4. Davidson S, Guinn C, Gacharna D. Diagnosis and treatment of negative pressure pulmonary edema in a pediatric patient: a case report. AANA J. 2004;72:337–8.

5. Timby J, Reed C, Zeilender S, et al. "Mechanical" causes of pulmonary edema. Chest. 1990;98;973–9.

6. Sulek C. Negative-pressure pulmonary edema. In: Gravenstein N, Kirby RR, editors. Complications in anesthesiology. 2nd ed. Philadelphia, PA: Lippincott-Raven; 1996. p. 191–7.

7. Hobaika ABS, Lorentz MN. Laringoespasmo. Rev Bras Anestesiol. 2009;59:487–95.

8. Albergaria VF, Soares CM, Araújo RM, et al. Edema pulmonar por pressão negativa após hipofisectomia transesfenoidal. Relato de caso. Rev Bras Anestesiol. 2008;58:391–6.

9. Felson B. Disseminated interstitial diseases of the lung. Ann Radiol. 1966;9:325–45.










Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil

Endereço para correspondência:
Dra. Lais Bastos Pessanha
Rua Primeiro de Maio, 79, Centro
Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, 28035-145
E-mail: laispessanha@hotmail.com
 
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