CARTA AO EDITOR
|
|
|
|
Autho(rs): Veluma Lopes Teixeira; Pedro José de Santana Júnior; Kim-Ir-Sen Santos Teixeira; Daniella Carneiro; Marise Moreira; Gabriela Moura Paula |
|
Sr. Editor,
Paciente masculino, 29 anos, homossexual, com história de perda ponderal de 20 kg, astenia, náuseas e epigastralgia há três meses, associadas a aparecimento de lesões cutâneas em membros superiores e na bolsa escrotal. A sorologia era positiva para o vírus HIV. No estudo radiológico com duplo contraste do estômago (Figura 1A) foram observadas lesões polipoides. Na tomografia computadorizada (TC) do abdome (Figuras 1B e 1C) foram vistas formações nodulares sólidas polipoides na submucosa gástrica com componente endoluminal, com realce precoce pelo meio de contraste. Foi realizada endoscopia digestiva alta (Figura 1D), que mostrou lesões eritematosas, algumas violáceas, polipoides e planas, com mucosa gástrica íntegra. Nessa ocasião foi realizada biópsia das lesões da pele e do estômago, que mostrou lesão vascular atípica, e os estudos anatomopatológico e imuno-histoquímico confirmaram o diagnóstico de sarcoma de Kaposi. Figura 1. A: Radiografia de esôfago, estômago e duodeno mostra falha de enchimento polipoide. B,C: TC de abdome fase arterial mostra lesões polipoides subepiteliais hipervasculares. D: Endoscopia digestiva alta mostra a lesão correspondente, polipoide e avermelhada. O comprometimento do trato gastrintestinal pelo sarcoma de Kaposi é a forma mais comum de apresentação da doença disseminada, visto em até 50% dos pacientes. Pode-se ter envolvimento desde a orofaringe até o reto, sendo o duodeno o local mais afetado, seguido pelo estômago, esôfago e cólon(1,2). O sarcoma de Kaposi é cerca de 300 vezes mais comum em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida do que em outros tipos de imunodeficiência, e geralmente ocorre no contexto de contagem de CD4 abaixo de 150-200 células/mm3(1). O diagnóstico é feito por meio de estudo por endoscopia digestiva e biópsia. O achado endoscópico clássico são lesões ulceradas ou não, subepiteliais, de coloração avermelhada(3). Ao estudo radiológico baritado são caracterizadas lesões polipoides, de contorno liso, de tamanhos variando de poucos milímetros até 3 cm. As lesões maiores podem ulcerar, dando à lesão aspecto de "olho de boi" ou "em alvo"(4). Na TC são detectadas lesões polipoides subepiteliais ou como espessamento irregular das pregas gástricas, que após injeção do contraste intravenoso mostram comportamento hipervascular, com realce maior que o da mucosa adjacente na fase arterial, devido a intensa vascularização do tumor. Ainda pode ser observada linfonodomegalia peripancreática, na porta hepatis, mesentério e retroperitônio em até 80% dos casos(1,3). O envolvimento visceral do sarcoma de Kaposi é frequentemente associado a mau prognóstico. O tratamento inclui terapia antirretroviral, radioterapia e quimioterapia(5). Em conclusão, o sarcoma de Kaposi deve ser considerado entre os diagnósticos diferenciais das lesões hipervasculares da submucosa gástrica, notadamente em pacientes com imunodeficiência adquirida. REFERÊNCIAS 1. Restrepo CS, Martinez S, Lemos JA, et al. Imaging manifestations of Kaposi sarcoma. Radiographics. 2006;26:1169–85. 2. Arora M, Goldberg EM. Kaposi sarcoma involving the gastrointestinal tract. Gastroenterol Hepatol. 2010;6:459–62. 3. Lee NK, Kim S, Kim GH, et al. Hypervascular subepithelial gastrointestinal masses: CT-pathologic correlation. Radiographics. 2010;30:1915–34. 4. Rose HS, Balthazar EJ, Megibow AL, et al. Alimentary tract involvement in Kaposi sarcoma: radiographic and endoscopic findings in 25 homosexual men. AJR Am J Roentgenol. 1982;139:661–6. 5. Radu O, Pantanowitz L. Kaposi sarcoma. Arch Pathol Lab Med. 2013;137:289–94. Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Pedro José de Santana Júnior Departamento de Radiologia Avenida Primeira Avenida, s/nº, Setor Leste Universitário Goiânia, GO, Brasil, 74605-020 E-mail: pedrojosesantanajr@hotmail.com |