QUAL É O SEU DIAGNÓSTICO?
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Autho(rs): Pedro José de Santana Júnior1; Ana Caroline Vieira Aurione2; Rafael Dangoni2; Roberta Rodrigues Monteiro da Gama3; Tiago Marinho Almeida Noleto3; Kim-Ir-Sen Santos Teixeira4 |
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Paciente de 62 anos de idade, sexo masculino, com queixa de astenia, hiporexia, náuseas e vômitos há dois meses. Referiu perda de 20 kg neste período. Trouxe endoscopia digestiva alta de outro serviço, com relato de lesão ulcerada gástrica. Ao exame mostrava-se emagrecido e hipocorado. Negou doenças e cirurgias prévias. Foi realizada tomografia computadorizada (TC) (Figuras 1 e 2) e em seguida o paciente foi submetido a laparotomia com gastroenteroanastomose e jejunostomia com biópsia.
Figura 1. TC de abdome total com contraste, cortes axiais. Figura 2. TC de abdome total com contraste, reformatações coronal (A) e sagital (B). Descrição das imagens Figura 1. TC de abdome total com contraste, cortes axiais. Volumosa lesão envolvendo a região antropilórica gástrica e primeira porção duodenal caracterizada por acentuado espessamento parietal concêntrico irregular, com áreas centrais hipoatenuantes (necrose/liquefação). Figura 2. TC de abdome total com contraste, reformatações coronal (A) e sagital (B). Volumosa lesão envolvendo a região antropilórica gástrica e primeira porção duodenal caracterizada por acentuado espessamento parietal concêntrico irregular, com áreas centrais hipoatenuantes (necrose/liquefação). Há sinais de invasão dos segmentos III e IV hepáticos. Diagnóstico: Tumor neuroendócrino gástrico tipo III. COMENTÁRIOS A avaliação do aparelho digestivo por métodos de imagem tem sido motivo de uma série de publicações recentes na literatura radiológica nacional(1–8). Os tumores neuroendócrinos originam-se em diversos órgãos, sendo os sítios mais comuns o trato gastrintestinal (TGI) e, em segundo lugar, o broncopulmonar(9,10). Mais raramente acometem o fígado, vesícula biliar, ovário, testículo e timo, locais onde também há células que fazem parte do sistema neuroendócrino(9). O tumor neuroendócrino gástrico (carcinoide) é uma neoplasia rara proveniente das células enterocromafins gástricas e corresponde a 1,2–1,5% dos tumores do estômago, com incidência de 1,6–2,0 casos por 100.000 pacientes ao ano(11). É o local menos comum de acometimento de tumores neuroendócrinos no TGI, perdendo em frequência para o intestino delgado, reto, cólon, ceco e apêndice(12). A idade média dos pacientes diagnosticados é de 60 anos, com predominância no sexo feminino (2:1)(12). Os carcinoides gástricos são habitualmente classificados em três tipos. O tipo I (70–85% dos casos) cursa com hipergastrinemia e está relacionado com gastrite atrófica e anemia perniciosa. Ocorre em mulheres de meia idade, apresentando-se como múltiplas pequenas lesões polipoides e raramente produzem metástases. O tipo II (5–10%) cursa com hipergastrinemia relacionada à síndrome de Zollinger-Ellison, quase sempre num contexto de neoplasia endócrina múltipla do tipo I (NEM I). O tipo III (15–25%), no qual se enquadra a lesão apresentada, tem prognóstico ruim. Não há relação com hipergastrinemia e é esporádico. Incide principalmente em homens durante a sexta década de vida, com metástases ao diagnóstico, frequentemente nodal e hepática. Tal lesão apresenta-se solitária, maiores que 2 cm, com comportamento agressivo e disseminação por contiguidade para o fígado, por vezes com tendência à necrose(11–13). O diagnóstico diferencial para as lesões dos tipos I e II inclui pólipos adenomatosos ou hamartomatosos(13). Sarcoma de Kaposi e metástases podem também se manifestar como pequenas lesões parietais gástricas. Adenocarcinoma, linfoma e tumor estromal gastrintestinal são considerados diferenciais para as lesões do tipo III(13), substancialmente mais frequentes, o que ressalta a relevância deste relato. O diagnóstico do tumor neuroendócrino gástrico envolve endoscopia digestiva alta, ultrassonografia endoscópica, tomografia ou ressonância magnética, além de biópsia com estudo imuno-histoquímico. O tratamento cirúrgico depende do tipo e extensão das lesões e corresponde a ressecção local, antrectomia ou gastrectomia total, associadas ou não a linfadenectomia. O tratamento clínico envolve uso de análogos da somatostatina para controle sintomático, além de tratamento complementar quimioterápico e/ou radioterápico quando necessário. REFERÊNCIAS 1. Fernandes DA, Chagas ACP, Jesus AR, et al. Aspectos ultrassonográficos associados à morbidade de formas clínicas crônicas de esquistossomose mansônica, utilizando-se protocolo proposto pela Organização Mundial da Saúde. Radiol Bras. 2013;46:1–6. 2. Monjardin RF, Costa DMC, Romano RFT, et al. Diagnóstico da esteatose hepática pela tomografia computadorizada de abdome com meio de contraste intravenoso. Radiol Bras. 2013;46:134–8. 3. Salvadori PS, Costa DMC, Romano RFT, et al. Quando a fase de equilíbrio pode ser suprimida nos exames de tomografia computadorizada de abdome? Radiol Bras. 2013;46:65–70. 4. Eifler RV. O papel da ultrassonografia na medida da gordura subcutânea e visceral e sua correlação com a esteatose hepática. Radiol Bras. 2013;46:273–8. 5. Teixeira ACV, Torres US, Westin CEG, et al. Tomografia computadorizada com multidetectores no diagnóstico pré-operatório das complicações intestinais causadas pela ingestão de corpos estranhos da dieta sem suspeita clínica: série de casos enfatizando o uso de técnicas de renderização volumétrica. Radiol Bras. 2013;46:346–50. 6. Costa DMC, Salvadori PS, Monjardim RF, et al. Quando a fase sem contraste intravenoso é desnecessária nos exames de tomografia computadorizada do abdome? Análise retrospectiva de 244 casos. Radiol Bras. 2013;46:197–202. 7. Hollanda ES, Torres US, Gual F, et al. Perfuração espontânea da vesícula biliar com formação de biloma intra-hepático: sinais ultrassonográficos e correlação com tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2013;46:320–2. 8. Galvão BVT, Torres LR, Cardia PP, et al. Prevalência de cistos simples e hemangiomas hepáticos em pacientes cirróticos e não cirróticos submetidos a exames de ressonância magnética. Radiol Bras. 2013;46:203–8. 9. Levy AD, Sobin LH. From the archives of the AFIP: Gastrointestinal carcinoids: imaging features with clinicopathologic comparison. Radiographics. 2007;27:237–57. 10. Scarsbrook AF, Ganeshan A, Statham J, et al. Anatomic and functional imaging of metastatic carcinoid tumors. Radiographics. 2007;27:455–77. 11. Chang S, Choi D, Lee SJ, et al. Neuroendocrine neoplasms of the gastrointestinal tract: classification, pathologic basis, and imaging features. Radiographics. 2007;27:1667–79. 12. Dal Pizzol AC, Linhares E, Gonçalves R, et al. Tumores neuroendócrinos do estômago: série de casos. Rev Bras Cancerol. 2010;56:453–61. 13. Ganeshan D, Bhosale P, Yang T, et al. Imaging features of carcinoid tumors of the gastrointestinal tract. AJR Am J Roentgenol. 2013;201:773–86. 1. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Professor Substituto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO. Brasil 2. Médicos Residentes do Departamento de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil 3. Médicos Estagiários do Departamento de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO. Brasil 4. Doutor, Professor Adjunto e Chefe do Departamento de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO. Brasil Endereço para correspondência: Dr. Pedro José de Santana Júnior Avenida T4, nº 1616, ap. 402 B, Setor Serrinha Goiânia, GO, Brasil, 74835-090 E-mail: pedrojoseradiohcufg@gmail.com Trabalho realizado no Departamento de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil. |