RELATO DE CASO
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Autho(rs): Fernando Henrique Guimarães de Carvalho1; Gesner Pereira Lopes2 |
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Descritores: Costela intratorácica; Anomalia costal; Tomografia computadorizada. |
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Resumo: INTRODUÇÃO
Variações anatômicas costais são encontradas em 2% da população(1), sendo elas: displasias ósseas, anormalidades focais, costela cervical, sinostose intercostal, extremidade anterior bífida, associadas ou não a malformações das vértebras torácicas. A costela intratorácica foi descrita, pela primeira vez, por Lutz em 1947, e se apresenta, desde então, como uma anomalia congênita rara, geralmente assintomática, diagnosticada, na maior parte das vezes, como achado adicional na radiografia de tórax(2–4). No entanto, quando a anomalia tem origem no corpo vertebral, o diagnóstico pela radiografia convencional torna-se mais difícil, e nesses casos, a tomografia computadorizada (TC) faz-se necessária, principalmente na diferenciação diagnóstica de massas hilares ou mediastinais(5–7). RELATO DO CASO Paciente do sexo feminino, 51 anos, com dor torácica há aproximadamente dois anos, em pontada, à esquerda, com evolução progressiva para cervicobraquialgia, associada a discreta escoliose torácica. Após consultas com ortopedista e recorrência do quadro álgico, foram solicitadas radiografias de tórax e de coluna cervical, a fim de elucidação diagnóstica. A radiografia de tórax evidenciou imagem de densidade óssea, com cortical e medular, de convexidade lateral, redução progressiva de suas dimensões no sentido craniocaudal, localizada no terço superior e médio do hemitórax esquerdo, associada a escoliose torácica (Figura 1). Constatada a presença de costela intratorácica, foi sugerida TC para melhor avaliação. Utilizando- se a reconstrução em 3D, foi possível visualizar, com detalhes, imagem óssea no sentido vertical, fazendo corpo com a quarta costela, posteriormente à esquerda (Figura 2), mais bem identificada em incidência oblíqua (Figura 3). Na reconstrução coronal da coluna torácica ficou caracterizada a escoliose como dextro-côncava, associada a deformidade estrutural de T4 e T5 (Figura 4). Figura 1. Radiografia de tórax em posteroanterior demonstrando imagem de densidade óssea, com cortical e medular, de convexidade lateral, redução progressiva de suas dimensões no sentido craniocaudal, localizada no terço superior e médio do hemitórax esquerdo, associada a escoliose torácica. Figura 2. TC com reconstrução em 3D demonstrando imagem óssea no sentido vertical, fazendo corpo com a quarta costela posteriormente à esquerda. Figura 3. TC em reconstrução 3D na visualização oblíqua demonstrando melhor a inserção da imagem óssea na face anteroinferior do quarto arco costal posteriormente. Figura 4. TC em reconstrução coronal de coluna torácica demonstrando escoliose dextro-côncava associada a deformidade estrutural de T4 e T5. DISCUSSÃO Apesar de haver 45 casos relatados na literatura inglesa(4), ainda não se sabe ao certo como se dá o desenvolvimento de tal anomalia. A hipótese mais aceita seria uma falha da fusão dos processos caudal e cefálico dos esclerótomos, entre a quarta e a sexta semanas da embriogênese(1,4). Sem predileção pelo sexo, mais frequente à direita, com morfologia semelhante a uma costela normal que se estende no espaço extrapleural, inferolateral, pode, algumas vezes, chegar até ao diafragma. Alguns diagnósticos diferenciais são: exostose, tumores ósseos, dreno de tórax ou placas pleurais calcificadas. Geralmente é assintomática, porém, dor torácica e dispneia já foram relatadas(3). Tudo indica que o risco de lesões pulmonares, nesses pacientes, é maior se submetidos a traumatismos torácicos. O diagnóstico precoce de costela intratorácica, seja como achado adicional ou em pacientes com algum sinal e sintoma relativo à malformação, é de extrema importância, principalmente por excluir diagnósticos diferenciais que exigem acompanhamento e possível tratamento definitivo. É possível afirmar que, apesar de rara, seu diagnóstico é relativamente fácil pela radiografia convencional nos casos em que se origina da própria costela. Contudo, quando originada do corpo vertebral, a TC torna-se exame fundamental para o correto diagnóstico, evitando-se não só intervenções desnecessárias, mas também o não tratamento das hipóteses diferenciais. REFERÊNCIAS 1. Kelleher J, O'Connell DJ, MacMahon H. Intrathoracic rib: radiographic features of two cases. Br J Radiol. 1979;52:181–3. 2. Lutz,P. Über eine ungewöhnliche Rippenanomalie zugleich ein Beitrag zur distalen Rippengabelung. Wien Klin Wochenschr. 1947;59:846–9. 3. Laufer L, Schulman H, Hertzanu Y. Intrathoracic rib demonstrated by helical CT with three-dimensional reconstruction. Eur Radiol. 1999;9:60–1. 4. Hasan I, Mahajan P, Ahamad N, et al. A rare case of left bifid intrathoracic rib associated with supernumerary rib and block vertebrae. Kuwait Radiol J. 2011;2:21–7. 5. Trigaux JP, Sibille Y, Van Beers B. Intrathoracic rib: CT features. J Comput Assist Tomogr. 1990;14:133–5. 6. Freed C. Intrathoracic rib: a case report. S Afr Med J. 1972;46:1165–7. 7. Weinstein AS, Mueller CF. Intrathoracic rib. Am J Roentgenol Radium Ther Nucl Med. 1965;94:587–90. 1. Médico Residente de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG, Brasil. 2. Mestre, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Chefe da Disciplina de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG, Brasil. Endereço para correspondência: Dr. Fernando Henrique Guimarães de Carvalho Praça Frei Eugênio, 444, ap. 702, São Benedito Uberaba, MG, Brasil, 38010-280 E-mail: fhgc3@hotmail.com Recebido para publicação em 16/8/2011. Aceito, após revisão, em 7/10/2011. Trabalho realizado na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG, Brasil. |