QUAL O SEU DIAGNÓSTICO?
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Autho(rs): Sérgio Daher, Murilo Tavares Daher, Wilson Eloy Pimenta Júnior, Márcio Martins Machado, Renato Tavares Daher, Ricardo Tavares Daher |
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Paciente de 30 anos de idade, sexo masculino, motorista, há seis meses com quadro de dor lombar com irradiação para membros inferiores, principalmente à esquerda, que se intensificava com a deambulação. Ao exame físico apresentava dor e importante limitação à flexão da coluna lombar. Sem deformidades aparentes. Exame neurológico sem alterações. Descrição das imagens Foram realizadas radiografia da coluna lombar, que não evidenciou alterações ósseas, e cintilografia óssea com tecnécio-99, que revelou área de hipercaptação na quinta vértebra lombar, compatível com processo osteogênico de grau moderado. A tomografia computadorizada (TC) mostrou lesão lítica na porção anterior e lateral de L5, com área esclerótica adjacente (Figura 1), que na ressonância magnética (RM) se apresentou com hipossinal nas imagens ponderadas em T1 e leve hipersinal nas seqüências ponderadas em T2 (Figuras 2 e 3).
Foi realizada excisão cirúrgica da lesão, por via anterior, retroperitoneal, com retirada completa da lesão e colocação de enxerto ósseo autógeno do ilíaco. O material retirado foi enviado para análise, que evidenciou nidus tumoral constituído por trabéculas de tecido ósseo lamelar revestidas por osteoblastos em meio a estroma fibroso vascularizado e presença de cortical óssea adjacente com esclerose. O paciente evoluiu com melhora da dor. Foi realizada nova TC, que confirmou a retirada completa da lesão (Figura 4).
Diagnóstico: Osteoma osteóide do corpo de L5.
COMENTÁRIOS O osteoma osteóide, primeiramente descrito por Jaffe(1) em 1935, representa cerca de 10% de todos os tumores ósseos benignos, incidindo principalmente na metáfise e diáfise de ossos longos dos membros inferiores. Em 10-20% dos casos acomete a coluna vertebral, principalmente nas regiões lombares e torácicas(2-4). É mais prevalente no sexo masculino, principalmente entre os 5 e 25 anos de idade, sendo diagnóstico diferencial importante nas dorsalgias, principalmente em crianças e adolescentes(5). Microscopicamente, apresenta nicho bem delimitado com padrão formador de osso, contendo numerosos osteoblastos produzindo osteóide e tecido ósseo. Nesse aspecto, é muito semelhante ao osteoblastoma, porém este, normalmente, é mais agressivo, sem anel esclerótico e com nicho maior que 1,5 cm em seu maior eixo(4,6). Outros diagnósticos diferenciais são o osteossarcoma e a osteomielite. Quando acomete o esqueleto axial, ocorre principalmente nos elementos posteriores, sendo incomum a apresentação, como neste caso, no corpo vertebral(2-4,7). O principal sintoma é a dor, que classicamente é descrita como de padrão noturno, com boa resposta aos antiinflamatórios não-esteróides e salicilatos. Pode ou não apresentar sintomas radiculares e raramente cursa com déficit neurológico(2-4). Freqüentemente há escoliose associada, com curvas sem rotação, normalmente com a lesão localizando-se no ápice da deformidade, na concavidade da curva(2,6). Quando acomete a transição lombossacra, geralmente o ápice da deformidade é cranial à lesão e existe obliqüidade pélvica(3). Apesar de localizar-se em L5, neste caso o paciente não apresentava tais deformidades. Radiograficamente, a lesão se apresenta como área de esclerose, podendo ou não ser observado o nicho radioluscente(6). Pela complexa anatomia das vértebras, a lesão é de difícil localização, podendo até não ser visualizada(4). A cintilografia óssea, com aspecto hipercaptante, tem alta sensibilidade, sendo exame importante na avaliação inicial dos pacientes com dor nas costas e suspeita desta lesão(3). Na TC, se apresenta como lesão lítica circundada por esclerose, com ou sem calcificação central. Classicamente, este é considerado o melhor método para diagnóstico e localização da lesão. Na RM pode-se observar lesão de aspecto heterogêneo, com alto sinal nas imagens ponderadas em T2, com as calcificações do nicho (quando presente) e a esclerose reativa com hipossinal em todas as seqüências. Edema na medula óssea e em partes moles pode estar presente, tendendo a simular lesões mais agressivas, como osteomielite e neoplasia maligna(4,8). O tratamento é cirúrgico, com a ressecção do nicho, que deve ser completa para evitar a recidiva da lesão(9-11). A ressecção pode ser realizada por via aberta(9-11) ou por procedimentos percutâneos guiados por TC(12-14). Neste caso, foi usada a via anterior retroperitoneal, pela localização anterior no corpo vertebral, tendo sido curetada a lesão e preenchida a falha com enxerto autógeno de ilíaco. Quando localizada nos elementos posteriores e a excisão comprometer a estabilidade, artrodese deve ser realizada(11). Para a correta localização da lesão no intra-operatório são descritos vários métodos, como a injeção pré-operatória de isótopo radioativo, TC do espécime, identificação com fio de Kirschner pré-operatório ou apenas radiografia intra-operatória(3). No nosso caso, não foi realizado nenhum desses métodos, porém, durante a avaliação clínica foi observada completa curetagem do nicho, que foi confirmada pela TC de controle pós-operatório. No osteoma osteóide o acometimento vertebral é fato relativamente incomum, tipicamente localizado nos elementos posteriores, sendo rara a localização no corpo vertebral. É causa importante de dor nas costas, particularmente em crianças e adolescentes, principalmente na presença de escoliose dolorosa.
REFERÊNCIAS 1. Jaffe HL. Osteoid osteoma: a benign osteoblastic tumor composed of osteoid and atypical bone. Arch Surg. 1935;31:709-28. [ ] 2. Domans JP, Moroz L. Infection and tumors of the spine in children. J Bone Joint Surg Am. 2007;89 Suppl 1:S79-97. [ ] 3. Crist BD, Lenke LG, Lewis S. Osteoid osteoma of the lumbar spine: a case report highlighting a novel reconstruction technique. J Bone Joint Surg Am. 2005;87:414-5. [ ] 4. Defino HLA, Pereira CU, Barbosa CSP. Tumores benignos e lesões pseudotumorais da coluna vertebral. Rio de Janeiro: Revinter; 2002. [ ] 5. Basile Jr R, Barros Filho TEP, Bonetti VL, et al. Dor nas costas em crianças e adolescentes. Rev Bras Ortop. 1994;29:144-8. [ ] 6. Ozaki T, Liljenqvist U, Hillmann A, et al. Osteoid osteoma and osteoblastoma of the spine: experiences with 22 patients. Clin Orthop Relat Res. 2002;(397):394-402. [ ] 7. MacLellan DI, Wilson FC Jr. Osteoid osteoma of the spine. A review of the literature and report of six new cases. J Bone Joint Surg Am. 1967;49: 111-21. [ ] 8. Assoun J, Richardi G, Railhac JJ, et al. Osteoid osteoma: MR imaging versus CT. Radiology. 1994;191:217-23. [ ] 9. Maiuri F, Signorelli C, Lavano A, et al. Osteoid osteomas of the spine. Surg Neurol. 1986;25: 375-80. [ ] 10. Pettine KA, Klassen RA. Osteoid osteoma and osteoblastoma of the spine. J Bone Joint Surg Am. 1986;68:354-61. [ ] 11. Avanzi O, Joilda FG, Dezen EL, et al. Tumores benignos e lesões pseudotumorais da coluna vertebral. Análise de 60 pacientes. Rev Bras Ortop. 1996;31:131-42. [ ] 12. Labbé JL, Clement JL, Duparc B, et al. Percutaneous extraction of vertebral osteoid osteoma under computed tomography guidance. Eur Spine J. 1995;4:368-71. [ ] 13. Mazoyer JF, Kohler R, Bossard D. Osteoid osteoma: CT-guided percutaneous treatment. Radiology. 1991;181:269-71. [ ] 14. Vanderschueren GM, Taminiau AHM, Obermann WR, et al. Osteoid osteoma: clinical results with thermocoagulation. Radiology. 2002;224:82-6. [ ]
Endereço para correspondência:
Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia da Coluna Vertebral do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (DOT-FM/UFG), Goiânia, GO, Brasil. |