Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 42 nº 2 - Mar. / Abr.  of 2009

ENSAIO ICONOGRÁFICO
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Page(s) 131 to 135



Formações císticas epidurais relacionadas a bursite interespinhosa, cisto sinovial e cisto discal

Autho(rs): Frederico Guilherme de Paula Lopes Santos, Ricardo André de Souza, Marcos Pama D'Almeida Brotto, Fábio Massaaki Suguita, Denise Tokechi Amaral, Lázaro Luís Faria do Amaral

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Texto em Português English Text

Descritores: Imagem por ressonância magnética, Compressão medular, Afecção medular

Keywords: Magnetic resonance imaging, Spinal cord compression, Spinal cord disease

Resumo:
Os autores apresentam casos de cistos epidurais, dentre eles os cistos sinoviais, discais, do ligamento amarelo e relacionados a bursite interespinhosa, todas essas condições determinando compressão radicular, do saco dural ou estenose do canal vertebral. Descrevem as características de imagem e localização na ressonância magnética nessas diferentes afecções.

Abstract:
The authors describe some cases of epidural cysts, namely synovial, discal, ligamentum flavum cysts, and cysts secondary to interspinous bursitis, all of these conditions determining radicular, dural sac compression or spinal canal stenosis. Magnetic resonance imaging findings and localization of these entities are described.

 

 

INTRODUÇÃO

A diferenciação entre condições patológicas intramedulares (com origem no cordão espinhal) e lesões extramedulares (situadas externamente ao saco tecal - extradurais - ou restritas ao saco tecal - intradurais) é geralmente simples. Embora muitas lesões possam ocorrer em mais de um compartimento simultaneamente, o posicionamento exato em relação ao canal medular e a avaliação das características de sinal à ressonância magnética (RM) podem ajudar no diagnóstico.

A RM é o método de imagem de escolha para avaliação do cordão espinhal e seus envoltórios, por possuir alta resolução espacial e ótima relação anatomoestrutural, permitindo uma melhor detecção e caracterização das lesões espinhais(1).

As formações císticas epidurais representam uma das causas de estenose do canal vertebral ou lombociatalgia. Apesar de incomuns, devem ser diferenciadas de tumores neurogênicos e hérnias discais.

Este ensaio pictórico discute achados de imagem e distingue as características de uma variedade de lesões císticas extradurais por meio do uso da RM.

 

CISTOS RELACIONADOS A BURSITE INTERESPINHOSA

Estudos de autópsia revelam aumento na incidência de cistos secundários à bursite entre os processos espinhosos lombares em indivíduos com idade avançada. Os sintomas são caracterizados pela dor localizada na porção inferior da coluna lombar e exacerbada pela hiperextensão. Em atletas jovens estes sintomas podem mimetizar espondilólise.

A RM é útil em detectar espessamento e hipersinal dos ligamentos inter e supraespinhosos, assim como a formação de bursas adventícias secundárias ao atrito. Os cistos epidurais possuem as mesmas características dos cistos sinoviais, entretanto, localizam-se na linha média. A infiltração dessas bursas (bursografia) orientada por radioscopia ou por tomografia computadorizada (TC) pode ser utilizada para confirmação diagnóstica. Além de determinar a comunicação com o cisto epidural, permite o tratamento da dor, por meio de infiltração de corticoide(2).

 

CISTOS DO LIGAMENTO AMARELO

Os cistos do ligamento amarelo são entidades raras e, assim como os cistos sinoviais e do ligamento longitudinal posterior, são classificados como cistos justafacetários. Por não terem membrana sinovial em suas paredes, são considerados pseudocistos(3). Decorrem de alterações degenerativas e espondilolistese, originando-se na margem anterior do ligamento amarelo(4). Sua projeção anterior pode determinar compressão do saco dural ou estenose do canal vertebral, causando ciatalgia(5).

O aspecto no exame de RM é de formação hipointensa em T1, hiperintensa em T2, com realce periférico pós-contraste, habitualmente localizada na linha média. Devem ser diferenciados dos cistos sinoviais pela relação topográfica com a articulação interapofisária(6).

 

CISTOS SINOVIAIS

Podem desenvolver-se a partir de qualquer articulação revestida por membrana sinovial ou bainha tendínea. São pouco frequentes na coluna vertebral, localizando-se preferencialmente na transição L4-L5. Há discreto predomínio no sexo feminino e são raros antes dos 30 anos(7).

 

 

 

 

 

 

 

 

Associam-se com osteoartrose, espondilolistese e movimentação anormal das articulações interapofisárias. Resultam de herniação de tecido articular através de um defeito na cápsula(7,8) e possuem camada de células sinoviais ao exame histológico(9).

Os cistos sinoviais podem ser assintomáticos ou, dependendo de suas dimensões e localização, causar sintomas de compressão nervosa, determinando ciatalgia, simulando hérnias discais. À TC, os cistos sinoviais são representados por lesões hipoatenuantes adjacentes à faceta articular, com extensão para o espaço epidural, determinando compressão radicular e do saco dural. Em 30% dos casos há calcificações periféricas e imagens gasosas intracísticas(9).

 

 

 

 

À RM os cistos sinoviais apresentam sinal intermediário em T1, hipersinal em T2, com cápsula hipointensa. A intensidade do sinal pode ser heterogênea, em razão de hemorragias, calcificações e fenômeno de vácuo(6), mais bem demonstradas pela TC(10). Após a administração do gadolínio, ocorre realce periférico do cisto, assim como da articulação interapofisária adjacente(9).

A melhora dos sintomas pode ser obtida por injeção intra-articular de corticoides, guiada por radioscopia ou TC, adiando ou mesmo substituindo o procedimento cirúrgico(7,9). A descompressão cirúrgica é indicada quando há dor refratária ou outros sintomas neurológicos associados.

 

CISTOS DISCAIS

São formações extradurais, bem definidas, homogêneas, adjacentes a um disco intervertebral herniado ou não. Caracterizam-se por hipersinal semelhante ao líquor e realce periférico pós-contraste. Pode haver comunicação com o disco, mais bem demonstrada à discografia por TC(11).

Duas teorias tentam explicar sua formação. Uma propõe que o cisto se originaria de um hematoma extradural secundário a rotura de uma veia epidural determinada por uma irritação mecânica de uma herniação discal(12). Alguns autores defendem esta teoria, em razão da presença de conteúdo hemático em quatro dos sete casos relatados(12). Hematomas extradurais foram relatados na literatura(13), com achados semelhantes aos cistos discais, porém sem comunicação documentada com disco intervertebral adjacente.

Outra teoria é a da degeneração focal, com amolecimento do tecido conectivo de colágeno e extravasamento de fluido discal e formação de uma pseudocápsula. Segundo alguns autores, podem ser equivocadamente diagnosticados, ou mesmo tratados, como hematomas epidurais ou cistos sinoviais. O tratamento de tal entidade é cirúrgico, mediante sua excisão(11).

 

CONCLUSÃO

Diversos tipos de formações císticas com mecanismos fisiopatológicos distintos podem acometer o canal vertebral. A ocorrência de cistos epidurais deve ser mais frequente do que sugerem os poucos relatos da literatura. Essas entidades clínicas devem ser consideradas como possíveis causas de mielopatia e radiculopatia(14). Outras causas de estenose do canal vertebral ou lombociatalgia devem ser afastadas, por exemplo, tumores neurogênicos e hérnias discais. A RM constitui a principal ferramenta para o diagnóstico das lesões císticas extradurais(15).

 

 

REFERÊNCIAS

1. Evans A, Stoodley N, Halpin S. Magnetic resonance imaging of intraspinal cystic lesions: a pictorial review. Curr Probl Diagn Radiol. 2002;31: 79-94.         [  ]

2. Chen CKH, Yeh LR, Resnick D, et al. Intraspinal posterior epidural cysts associated with Baas-trup's disease: report of 10 patients. AJR Am J Roentgenol. 2004;182:191-4.         [  ]

3. Asamoto S, Jimbo H, Fukui Y, et al. Cyst of the ligamentum flavum: case report. Neurol Med Chir. 2005;45:653-6.         [  ]

4. Baker JK, Hanson GW. Cyst of the ligamentum flavum. Spine. 1994;19:1092-4.         [  ]

5. Vernet O, Fankhauser H, Schnyder P, et al. Cyst of the ligamentum flavum: report of six cases. Neurosurgery. 1991;29:277-83.         [  ]

6. Mahallati H, Wallace CJ, Hunter KM, et al. MR imaging of a hemorrhagic and granulomatous cyst of the ligamentum flavum with pathologic correlation. AJNR Am J Neuroradiol. 1999;20:1166-8.         [  ]

7. Rosa ACF, Machado MM, Figueiredo MAJ, et al. Cistos sinoviais lombares. Radiol Bras. 2002;35: 299-302.         [  ]

8. Hsu KY, Zucherman JF, Shea WJ, et al. Lumbar intraspinal synovial and ganglion cysts (facet cysts). Ten-year experience in evaluation and treatment. Spine. 1995;20:80-9.         [  ]

9. Bureau NJ, Kaplan PA, Dussault RG. Lumbar facet joint synovial cyst: percutaneous treatment with steroid injections and distention - clinical and imaging follow-up in 12 patients. Radiology. 2001;221:179-85.         [  ]

10. Hagen T, Daschner H, Lensch T. Juxta-facet cysts: magnetic resonance tomography diagnosis. Radiologe. 2001;41:1056-62.         [  ]

11. Kono K, Nakamura H, Inoue Y, et al. Intraspinal extradural cysts communicating with adjacent herniated disks: imaging characteristics and possible pathogenesis. AJNR Am J Neuroradiol. 1999;20:1373-7.         [  ]

12. Toyama Y, Kamata N, Matsumoto M. Pathogenesis and diagnostic title of intraspinal cyst communicating with intervertebral disk in the lumbar spine. Rinsho Seikei Geka. 1997;32:393-400.         [  ]

13. Gundry CR, Heithoff KB. Epidural hematoma of the lumbar spine. 18 surgically confirmed cases. Radiology. 1993;187:427-31.         [  ]

14. Shima Y, Rothman SL, Yasura K, et al. Degenerative intraspinal cyst of the cervical spine. case report and literature review. Spine. 2002;27:E18-22.         [  ]

15. Robinson Y, Reinke M, Haschtmann D, et al. Spinal extradural meningeal cyst with spinal stenosis. Spinal Cord. 2006;44:457-60.         [  ]

 

 

Endereço para correspondência:
Dr. Frederico Guilherme de Paula Lopes Santos
Rua dos Ingleses, 586, ap. 102, Morro dos Ingleses
São Paulo, SP, Brasil, 01329-000
E-mail: fgpls@yahoo.com.br

Recebido para publicação em 6/11/2008.
Aceito, após revisão, em 9/2/2009.

 

 

* Trabalho realizado na MedImagem - Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.


 
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