Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 55 nº 1 - Jan. / Fev.  of 2022

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Achados de ressonância magnética no comprometimento dos nervos cranianos

Autho(rs): Bruno Niemeyer de Freitas Ribeiro

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Os nervos cranianos são compostos por 12 pares que representam extensões funcionais do cérebro, conectando o sistema nervoso central com a cabeça e pescoço e as cavidades torácica e abdominal. Numerosas doenças podem provocar disfunções dos nervos cranianos, e a avaliação dessas enfermidades representa um importante desafio diagnóstico. A ressonância magnética (RM) é o principal método de imagem na avaliação das lesões do sistema nervoso central, motivadora de uma série de publicações recentes na literatura radiológica brasileira(1–5). Ela é fundamental para a avaliação das lesões nos nervos cranianos, sendo fundamental para os radiologistas o conhecimento dos protocolos e técnicas de aquisição, bem como dos aspectos de imagem das doenças.

O artigo de Dalaqua et al.(6), publicado neste número da Radiologia Brasileira, ilustra de forma clara as principais doenças infecciosas, neoplásicas, inflamatórias e desmielinizantes que podem comprometer os nervos cranianos.

Com relação às doenças infecciosas, é importante termos em mente o recente aumento na incidência de sífilis na população, podendo o primeiro sinal de neurossífilis se manifestar com comprometimento de um ou múltiplos nervos cranianos, em alguns casos simulando outras doenças mais comuns, como schwannoma(7,8). Além disso, dentro do contexto epidemiológico brasileiro, devemos nos lembrar da tuberculose meníngea e da leptospirose, esta última bastante associada a más condições sanitárias e enchentes, principalmente no período do verão(9,10).

Dentro do contexto neoplásico, o meningioma é o tumor intracraniano mais frequente em adultos, na grande maioria dos casos apresentando comportamento benigno. Com relação aos schwannomas, comumente encontrados no VIII nervo craniano, a RM pode servir não só para acompanhar a lesão, como para orientar a escolha do acesso cirúrgico mais apropriado, além de predizer fatores prognósticos, como a possibilidade de recuperação da audição em casos de schwannoma do VIII par(11). As causas neoplásicas malignas também devem estar familiarizadas pelos radiologistas, principalmente em razão do envelhecimento populacional e consequente aumento no número de casos de câncer, incluindo-se a carcinomatose leptomeníngea com comprometimento de pares cranianos (mais frequentemente relacionada a câncer de mama e de pulmão) e o linfoma entre as principais causas.

Em relação às causas desmielinizantes e outras doenças com acometimento dos nervos cranianos, a esclerose múltipla é a doença incapacitante mais comum do sistema nervoso central em adultos jovens. Nesses pacientes, o acometimento dos núcleos dos pares cranianos pode provocar sintomas, algumas vezes simulando nevralgia do trigêmeo. Tal fato justifica a necessidade de excluir esclerose múltipla em paciente jovem, principalmente do sexo feminino, com sintomas sugestivos de nevralgia do trigêmeo. Além disso, ainda nas causas desmielinizantes e outras doenças com acometimento dos nervos cranianos, dados clínicos, laboratoriais e de outros métodos de imagem são muito úteis na conclusão diagnóstica, como a fraqueza proximal e distal simétrica com perda sensitiva na polineuropatia desmielinizante crônica inflamatória, a positividade do antiaquaporina 4 no espectro das desordens da neuromielite óptica e os achados típicos na tomografia computadorizada de tórax na sarcoidose.

Recentemente, durante a pandemia da COVID-19, numerosas manifestações neurológicas frequentemente relacionadas a insulto imunomediado e menos provavelmente por neurotropismo viral direito têm sido descritas, inclusive o comprometimento do VII nervo craniano(12,13).

Concluindo, conforme apresentado por Dalaqua et al.(6), os radiologistas devem estar preparados para interpretar os achados de neuroimagem no comprometimento dos nervos cranianos, os quais, apesar de não serem patognomônicos, ajudam a estreitar o diagnóstico diferencial, e quando associados a dados clinicolaboratoriais direcionam para o diagnóstico final e orientam na conduta terapêutica.


REFERÊNCIAS

1. Santana LM, Valadares EJA, Rosa-Júnior M. Differential diagnosis of temporal lobe lesions with hyperintense signal on T2-weighted and FLAIR sequences: pictorial essay. Radiol Bras. 2020;53:129–36.

2. Corrêa DG, van Duinkerken E, Zimmermann N, et al. Posterior cingulate gyri metabolic alterations in HIV-positive patients with and without memory deficits. Radiol Bras. 2020;53:359–65.

3. Campos LG, Conceição TMB, Krüger MS, et al. Central nervous system infection: imaging findings suggestive of a fungus as the cause. Radiol Bras. 2021;54:198–203.

4. Niemeyer B, Marchiori E. Evaluation of neuroimaging findings in thalamic lesions: what can we think? Radiol Bras. 2021;54:341–7.

5. Pereira RG, Niemeyer B, Hollanda RTL, et al. Non-neoplastic intracranial cystic lesions: not everything is an arachnoid cyst. Radiol Bras. 2021;54: 49–55.

6. Dalaqua M, Nascimento FBP, Miura LK, et al. Magnetic resonance imaging of the cranial nerves in infectious, neoplastic, and demyelinating diseases, as well as other inflammatory diseases: a pictorial essay. Radiol Bras. 2022;55:38–46.

7. Ribeiro BNF, Lima RTH, Marchiori E. Neurosyphilis mimicking a bilateral vestibulocochlear schwannoma. Rev Soc Bras Med Trop. 2019;52:e20190268.

8. Niemeyer B, Muniz B, Makita LS, et al. Neurosyphilis with bilateral optic perineuritis in an immunocompetent patient. Eur Neurol. 2018;79:185–6.

9. Mahesh M, Shivanagappa M, Venkatesh CR. Bilateral abducent palsy in leptospirosis – an eye opener to a rare neuro ocular manifestation: a case report. Iran J Med Sci. 2015;40:544–7.

10. Schaller MA, Wicke F, Foerch C, et al. Central nervous system tuberculosis: etiology, clinical manifestations and neuroradiological features. Clin Neuroradiol. 2019;29:3–18.

11. Silk PS, Lane JI, Driscoll CL. Surgical approaches to vestibular schwannomas: what the radiologist needs to know. Radiographics. 2009;29:1955–70.

12. Lima MA, Silva MTT, Soares CN, et al. Peripheral facial nerve palsy associated with COVID-19. J Neurovirol. 2020;26:941–4.

13. Ribeiro BNF, Marchiori E. Facial palsy as a neurological complication of SARS-CoV-2. Arq Neuropsiquiatr. 2020;78:667.










Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

https://orcid.org/0000-0002-1936-3026

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E-mail: bruno.niemeyer@hotmail.com
 
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