AVANÇOS EM RADIOLOGIA
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Autho(rs): Thiago Franchi Nunes1,a; Tiago Kojun Tibana1,b; Reinaldo Morais Neto1,c; Edson Marchiori2,d |
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INTRODUÇÃO
O tratamento adequado dos hemangiomas hepáticos tem sido controverso na literatura. Embora a ressecção cirúrgica tenha sido recomendada para hemangiomas hepáticos gigantes sintomáticos (HHGSs) e seja considerada o padrão ouro na maioria dos centros(1), técnicas minimamente invasivas, incluindo embolização transarterial, mostraram eficácia aceitável com taxas mais baixas de morbidade e mortalidade pós-procedimento(2–5). Szejnfeld et al.(5), em um estudo nacional, demonstraram que a embolização transarterial utilizando o etanol associado ao lipiodol apresentou eficácia e segurança para HHGSs em uma pequena série de pacientes. Torkian et al.(6) publicaram, recentemente, uma metanálise avaliando a efetividade da embolização transarterial no tratamento de HHGSs e concluíram que a embolização transarterial com bleomicina, pingiangmicina ou etanol em combinação com lipiodol é um procedimento seguro e está associado a redução significativa no tamanho dos hemangiomas, resultando no alívio dos sintomas. Até o momento, não há na literatura associação da técnica transarterial e percutânea (alcoolização) no tratamento de hemangiomas hepáticos gigantes. O objetivo desta série de casos foi apresentar os resultados de uma técnica inédita e segura no tratamento de HHGSs. PROCEDIMENTO Quatro casos de pacientes mulheres portadoras de HHGSs tratados utilizando a técnica combinada (transarterial e percutânea), entre 2017 e 2021, foram retrospectivamente revisados. Todas as pacientes apresentavam-se sintomáticas e sem história cirúrgica abdominal prévia. Todas as massas hepáticas mostraram-se com padrão típico de hemangioma na tomografia computadorizada com contraste e/ou ressonância magnética. Nenhuma biópsia foi realizada. Os procedimentos de embolização foram realizados sob sedação consciente. Angiografia diagnóstica inicial foi realizada utilizando cateter 5F para examinar seletivamente a artéria mesentérica superior, o tronco celíaco e a artéria hepática, também com fase tardia. Uma técnica superseletiva usando microcateter Progreat 2.8F (Terumo Corporation, Tóquio, Japão) e micropartículas de 300–500 µm (Embospheres; BiosSphere Medical Inc., Rockland, MA, EUA) foi empregada para embolização dos ramos nutridores do tumor hepático. Foi realizada a embolização o mais superseletiva possível, com injeção bem lenta do agente embolizante, de modo que o “end point vascular” é quando os sinusoides vasculares dos hemangiomas ficam completamente preenchidos por material embolizante e contraste iodado (Figura 1). Figura 1. Tomografia de abdome com contraste intravenoso, reconstrução sagital, demonstrando hemangioma gigante. A: Volume estimado em 407 mL e apresentando sinais de distensão da cápsula hepática na superfície diafragmática e compressão do polo superior do rim direito. B: Exame de controle 30 dias pós-procedimento demonstrando discreta redução nas dimensões e conteúdo gasoso no interior secundário à esclerose percutânea. C: Controle três meses pós-procedimento demonstrando redução de aproximadamente 50% nas dimensões da massa hepática. Após o término do procedimento de embolização arterial, realizou-se alcoolização percutânea com punção do centro da lesão utilizando agulha de chiba 22G e guiada por ultrassom em tempo real. Foram injetados 30 mL de álcool estéril absoluto 100% em cada procedimento. Todas as pacientes receberam fentanil (2 mL), ondansetron (8 mL) e uma única dose de cefazolina (1 g). Todas as pacientes apresentaram sucesso técnico, com alta hospitalar 24 horas após o procedimento, sem nenhum sinal de complicação, apenas dores leves. Todas as pacientes apresentaram melhora significativa dos sintomas após seguimento de três meses. Os resultados da série de casos encontram-se resumidos na Tabela 1. DISCUSSÃO Esta série de casos demonstra uma técnica combinada e inédita na literatura. Na metanálise realizada por Torkian et al.(6), os diâmetros médios pré-procedimento e pós-procedimento de controle de seis meses dos HHGSs foram, respectivamente, de 9,8 ± 2,6 e 6,0 ± 1,4 cm, e na nossa amostra esses diâmetros foram de 12,5 cm e 8,7 cm, respectivamente, porém, em controle após três meses. Na nossa amostra as pacientes obtiveram melhora clínica em 100% dos casos, enquanto na metanálise de Torkian et al.(6) a melhora clínica variou de 63% a 100% dos pacientes. CONCLUSÃO A combinação de técnicas (transarterial e percutânea) é segura, reprodutível e de fácil execução. Acreditamos que esta combinação de técnicas resulta em uma redução significativa e melhora dos sintomas em pacientes portadores de HHGSs e irressecáveis. REFERÊNCIAS 1. Lerner SM, Hiatt JR, Salamandra J, et al. Giant cavernous liver hemangiomas: effect of operative approach on outcome. Arch Surg. 2004;139:818–23. 2. Srivastava DN, Gandhi D, Seith A, et al. Transcatheter arterial embolization in the treatment of symptomatic cavernous hemangiomas of the liver: a prospective study. Abdom Imaging. 2001;26:510–4. 3. Zeng Q, Li Y, Chen Y, et al. Gigantic cavernous hemangioma of the liver treated by intra-arterial embolization with pingyangmycin-lipiodol emulsion: a multicenter study. Cardiovasc Intervent Radiol. 2004;27:481–5. 4. Zhang X, Yan L, Li B, et al. Comparison of laparoscopic radiofrequency ablation versus open resection in the treatment of symptomatic-enlarging hepatic hemangiomas: a prospective study. Surg Endosc. 2016;30:756–63. 5. Szejnfeld D, Nunes TF, Fornazari VAV, et al. Transcatheter arterial embolization for unresectable symptomatic giant hepatic hemangiomas: single-center experience using a lipiodol-ethanol mixture. Radiol Bras. 2015;48:154–7. 6. Torkian P, Li J, Kaufman JA, et al. Effectiveness of transarterial embolization in treatment of symptomatic hepatic hemangiomas: systematic review and meta-analysis. Cardiovasc Intervent Radiol. 2021;44:80–91. 1. Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (HUMAP-UFMS), Campo Grande, MS, Brasil 2. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil a. https://orcid.org/0000-0003-0006-3725 b. https://orcid.org/0000-0001-5930-1383 c. https://orcid.org/0000-0001-8278-7449 d. https://orcid.org/0000-0001-8797-7380 Correspondência: Dr. Thiago Franchi Nunes Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian – UFMS Avenida Senador Filinto Müller, 355, Vila Ipiranga Campo Grande, MS, Brasil, 79080-190 E-mail: thiagofranchinunes@gmail.com Recebido para publicação em 4/3/2021 Aceito, após revisão, em 23/3/2021 Data de publicação: 04/08/2021 |