Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Vol. 54 nº 2 - Mar. / Abr.  of 2021

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Diagnóstico por imagem na atresia brônquica

Autho(rs): Alessandro Severo Alves de Melo

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A atresia brônquica é uma anomalia congênita rara que se caracteriza pela obliteração de um brônquio lobar, segmentar ou subsegmentar, de patogênese desconhecida e em geral assintomática, sendo, de regra, diagnosticada como achado na idade adulta. O acometimento é mais frequente no lobo superior esquerdo. O tecido pulmonar distal ao segmento brônquico obliterado pode apresentar desenvolvimento normal, em face da chegada de ar por vias colaterais, resultando em hiperinsuflação localizada e aprisionamento aéreo(1–4).

As radiografias de tórax exibem aspectos não específicos, mas que em uma observação cuidadosa permitem a suspeição diagnóstica da atresia brônquica. A presença de opacidade de configuração alongada associada a área de hiperinsuflação focal é o achado sugestivo que deve suscitar tal possibilidade. A radiografia em expiração pode demonstrar o aprisionamento aéreo. Obviamente que, diante de tal hipótese, deve ser realizada a tomografia computadorizada (TC) do tórax(4,5).

A TC de tórax é o método por imagem padrão ouro para o diagnóstico das doenças broncopulmonares, sendo de crucial importância sua realização para o diagnóstico da atresia brônquica. Os principais achados tomográficos da atresia brônquica são a mucocele e área de hiperinsuflação distal, que se associam ao aprisionamento aéreo. A perda de continuidade do segmento brônquico atrésico também pode ser caracterizada, em especial a descontinuidade da mucocele em relação a brônquios centrais(1). Na presença de uma mucocele, é fundamental a exclusão de lesão endobrônquica, como carcinoma broncogênico, corpo estranho ou broncolito. Tal caracterização pode ser feita com facilidade pela TC de tórax, na maioria dos casos. O achado de nódulos centrolobulares, nódulos do espaço aéreo ou consolidações, em um contexto de imagem condizente com atresia brônquica, deve estar relacionado à concomitância de processo infeccioso.

A atresia brônquica pode estar associada a outras anomalias congênitas, como malformação pulmonar congênita das vias aéreas, hiperinsuflação lobar e sequestro pulmonar(1–5).

O artigo de Di Puglia et al.(6), publicado no número anterior da Radiologia Brasileira, aborda de forma aprofundada e consubstanciada um número expressivo de casos, avaliando os achados tomográficos e confirmando, em seu estudo, os aspectos descritos na literatura(1–4). A relevância maior do artigo é trazer luz a um assunto pouco estudado e, pela mesma razão, não tão conhecido do público médico, e em especial, radiológico. O estudo demonstra, em sua casuística, a ampla variabilidade de faixa etária no momento do diagnóstico, o que decorre da ausência frequente de sintomas, o que acarreta seu diagnóstico tardio. O diagnóstico na faixa etária pediátrica em geral se dá por investigação por imagem de infecções de repetição ou como achado em avaliações por imagem por outras razões, como exames pré-operatórios(7–9). Outro motivo relevante para o atraso do diagnóstico é o relativo desconhecimento da atresia brônquica, o que torna o estudo de Di Puglia et al.(6) ainda mais relevante.

A descrição pormenorizada dos padrões tomográficos realizada no artigo é outra questão que merece nota. As mucoceles exibem, na maioria das vezes, padrão ramificado e, em menor escala, uma morfologia arredondada, com densidade líquida predominante e em alguns casos de conteúdo aéreo. Em geral, a atresia brônquica corresponde a afecção unilateral, predominante nos lobos superior esquerdo e inferior direito(1–4). Puglia et al.(6) reforçam o conceito de que a mucocele, a hiperinsuflação distal e a hipovascularização (oligoemia) representam achados característicos da afecção, sendo observados em 100% dos seus casos, o que também é encontrado na literatura.

Em conclusão, o artigo de Di Puglia et al.(6) estuda de forma minuciosa os padrões tomográficos da atresia brônquica com número significativo de casos, trazendo importante contribuição ao seu diagnóstico por imagem.


REFERÊNCIAS

1. Beigelman C, Howarth NR, Chartrand-Lefebvre C, et al. Congenital anomalies of tracheobronchial branching patterns: spiral CT aspects in adults. Eur Radiol. 1998;8:79–85.

2. Lee EY, Boiselle PM, Cleveland RH. Multidetector CT evaluation of congenital lung anomalies. Radiology. 2008;247:632–48.

3. Lee EY, Dorkin H, Vargas SO. Congenital pulmonary malformations in pediatric patients: review and update on etiology, classification, and imaging findings. Radiol Clin North Am. 2011;49:921–48.

4. Gipson MG, Cummings KW, Hurth KM. Bronchial atresia. Radiographics. 2009;29:1531–5.

5. Kinsella D, Sissons G, Williams MP. The radiological imaging of bronchial atresia. Br J Radiol. 1992;65:681–5.

6. Di Puglia EBM, Rodrigues RS, Daltro PA, et al. Tomographic findings in bronchial atresia. Radiol Bras. 2021;54:9–14.

7. Morikawa N, Kuroda T, Honna T, et al. Congenital bronchial atresia in infants and children. J Pediatr Surg. 2005;40:1822–6.

8. Giannotta M, Leone MB, Greco L, et al. Intralobar pulmonary sequestration with bronchial atresia and a systemic artery feeding a normal contralateral lung. BJE Case Rep. 2015;2:20150176.

9. Praticò FE, Corrado M, Della Casa G, et al. Imaging of congenital pulmonary malformations. Acta Biomed. 2016;87 Suppl 3:45–50.










Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil. E-mail: alesevero@gmail.com. http://orcid.org/0000-0002-9536-6608
 
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