EDITORIAL
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Autho(rs): Sergio Ajzen |
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Nas últimas duas décadas, o aumento significativo do diagnóstico incidental de pequenas massas renais pelos diferentes métodos de diagnóstico por imagem e seus consequentes tratamentos levaram a notáveis mudanças no manejo do câncer renal, evoluindo da cirurgia aberta para procedimentos minimamente invasivos e poupadores de néfrons. As estratégias para o tratamento localizado de massas renais suspeitas incluem nefrectomia radical, nefrectomia parcial, ablação térmica e vigilância ativa. Recentemente, as diretrizes de consenso da American Urologic Association incluíram a ablação percutânea como uma opção de tratamento aceitável para pacientes cirúrgicos de alto risco(1). Em relação às suas características, o tumor renal ideal para a ablação térmica percutânea mede ≤ 3 cm e tem localização favorável à preservação da maior quantidade possível de tecido renal normal(2).
Uma vez submetidos a esses diferentes tratamentos, a preservação da função renal tornou-se uma consideração importante no gerenciamento dos pacientes com diagnóstico de massa renal. A diminuição da função renal está associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares, hospitalização e mortalidade(3,4). Está bem estabelecido que a nefrectomia radical tem um impacto significativamente maior na função renal do que a nefrectomia parcial(5,6) e que os pacientes submetidos a nefrectomia radical apresentam maior risco de desenvolver doença renal crônica(7). No entanto, ao comparar abordagens poupadoras de néfrons, como a ablação da massa renal e a nefrectomia parcial, as diferenças nas alterações funcionais renais entre as duas estratégias de tratamento não estão completamente estabelecidas. Assim, embora as técnicas ablativas possam oferecer vantagens potenciais na recuperação mais curta e na redução das complicações, o declínio da função renal ainda é objeto de estudo na seleção do tratamento. Dadas as complexidades associadas à nefrectomia parcial, a crioablação percutânea pode ser considerada como um excelente tratamento alternativo em pacientes selecionados. Em uma revisão sistemática e meta-análise realizada por Patel et al.(8), a função renal foi avaliada após cirurgia, ablação e vigilância ativa de tumores renais localizados. Os autores encontraram 58 artigos relevantes e concluíram que as implicações funcionais renais variaram entre as estratégias de manejo para massas renais localizadas, com pior função renal pós-operatória para pacientes submetidos a nefrectomia radical em comparação com outras estratégias, e resultados semelhantes para nefrectomia parcial e ablação térmica. Chamaram a atenção para a necessidade de mais estudos para quantificar as alterações na função renal associadas à vigilância ativa e abordagens poupadoras de néfrons para pacientes com doença renal crônica preexistente. Nessa linha de pesquisa, temos neste número da Radiologia Brasileira a publicação de interessante artigo de Staziaki et al. intitulado “Early trends and predictors of renal function following computed tomography-guided percutaneous cryoablation of a renal mass in patients with and without prior renal impairment”(9). Em estudo retrospectivo, 39 pacientes foram submetidos a crioablação de massa renal. Apesar das limitações (bem apontadas pelos autores), como o pequeno número de pacientes avaliados retrospectivamente por um período de acompanhamento relativamente curto e a inexistência de um grupo controle, o estudo demonstrou que em dois grupos, um com comprometimento renal prévio e outro sem comprometimento renal prévio, a curva de tendência de declínio da função renal (avaliada pela taxa de filtração glomerular) após crioablação foi similar entre os grupos e não houve mudanças no estadiamento da doença renal. Observaram, ainda, que a taxa de filtração glomerular no tempo “zero” foi preditiva da taxa de filtração glomerular média no período da crioablação inicial. A cada dia, com o constante avanço tecnológico na área de diagnóstico por imagem e dos conhecimentos na medicina, devemos procurar cuidar dos nossos pacientes por meio de métodos cada vez menos invasivos, para se obter o melhor resultado possível e com as menores complicações possíveis. É com este pensamento que acreditamos que o trabalho de Staziaki et al.(9) nos traz uma contribuição que vale a pena ser conhecida. REFERÊNCIAS 1. Campbell S, Uzzo RG, Allaf ME, et al. Renal mass and localized renal cancer: AUA guideline. J Urol. 2017;198:520–9. 2. Allen BC, Remer EM. Percutaneous cryoablation of renal tumors: patient selection, technique, and postprocedural imaging. Radiographics. 2010;30: 887–90. 3. Go AS, Chertow GM, Fan D, et al. Chronic kidney disease and the risks of death, cardiovascular events, and hospitalization. N Eng J Med. 2004;351: 1296–305. 4. Tonelli M, Wiebe N, Culleton B, et al. Chronic kidney disease and mortality risk: a systematic review. J Am Soc Nephrol. 2006;17:2034–47. 5. Mason R, Kapoor A, Liu Z, et al. The natural history of renal function after surgical management of renal cell carcinoma: results from the Canadian Kidney Cancer Information System. Urol Oncol. 2016;34:486.e1–486,e7. 6. Scosyrev E, Messing EM, Sylvester R, et al. Renal function after nephronsparing surgery versus radical nephrectomy: results from EORTC randomized trial 30904. Eur Urol. 2014;65:372–7. 7. Kaushik D, Kim SP, Childs MA, et al. Overall survival and development of stage IV chronic kidney disease in patients undergoing partial and radical nephrectomy for benign renal tumors. Eur Urol. 2013;64:600–6. 8. Patel HD, Pierorazio PM, Johnson MH, et al. Renal functional outcomes after surgery, ablation, and active surveillance of localized renal tumors: a systematic review and meta-analysis. Clin J Am Soc Nephrol. 2017;12: 1057–69. 9. Staziaki PV, Vadvala HV, Furtado VF, et al. Early trends and predictors of renal function following computed tomography-guided percutaneous cryoablation of a renal mass in patients with and without prior renal impairment. Radiol Bras. 2020;53:141–7. Professor Titular de Radiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), São Paulo, SP, Brasil. E-mail: sajzen @terra.com.br https://orcid.org/0000-0001-6033-6583 |