EDITORIAL
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Autho(rs): Aline Serfatya |
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A artroplastia total do quadril (ATQ) é uma das cirurgias de maior sucesso na história da medicina, representando importante opção de tratamento para numerosas doenças que acometem a articulação do quadril e que, em estágio avançado, determinam a perda da função dessa articulação. Anualmente, cerca de um milhão de pacientes no mundo se beneficiam desse procedimento. A indicação mais comum é a osteoartrite, porém, outras condições como fratura do colo do fêmur, necrose avascular da cabeça femoral, displasia do quadril e artrite inflamatória também podem ser tratadas por meio da ATQ(1–3).
Em meados do século XX, Charnley(4) contribuiu de forma significativa para a evolução desse procedimento cirúrgico com a introdução do conceito de artroplastia de baixa fricção. Desde então, a demanda pela ATQ tem aumentado progressivamente, em razão da maior expectativa de vida dos pacientes e dos avanços nas técnicas cirúrgicas e composição dos materiais das próteses(2,3). No entanto, apesar de todo o progresso, o implante apresenta um tempo de duração, podendo chegar a 25 anos em 58% dos pacientes, segundo meta-análise realizada por Evans et al.(5). Apesar das altas taxas de sucesso, complicações cirúrgicas podem ocorrer e variam de acordo com a faixa etária, qualidade óssea e comorbidades específicas de cada paciente(6). Algumas das principais complicações incluem afrouxamento asséptico, luxação, infecção, fraturas, hematoma no pós-operatório e ossificação heterotópica. Embora a radiografia ainda seja o principal método de diagnóstico por imagem usado na avaliação inicial de pacientes com dor, tanto a curto quanto a longo prazo após a ATQ, a ultrassonografia, a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) também têm papel importante nesse cenário. Evoluções tecnológicas, como as sequências com redução de artefatos causados pela presença do metal em exames de RM e a otimização de sequências de pulso convencionais, podem ser muito úteis no diagnóstico de algumas complicações, como, por exemplo, a detecção e caracterização de sinovite e a detecção e classificação da reação adversa local do tecido(2,3,7,8). Para uma análise efetiva das imagens obtidas em exames de diagnóstico, torna-se fundamental o conhecimento dos tipos de artroplastia (hemiartroplastia ou artroplastia total) e próteses (unipolar ou bipolar), bem como os tipos de fixação do implante (cimentada, não cimentada, parafusos), uma vez que algumas complicações podem se originar da presença desses materiais no quadril(1,5,7). Neste número da Radiologia Brasileira, Enge Júnior et al.(9) descrevem as principais complicações da ATQ em um ensaio iconográfico. Os autores forneceram informações sobre os tipos de artroplastia, próteses e fixação do implante, com enfoque nos principais achados radiográficos das possíveis complicações dessa cirurgia. Além disso, a caracterização detalhada, associada a figuras ilustrativas de exames de imagem disponíveis no texto, ajudam a entender melhor complicações como fratura periprotética, osteólise/infecção, desgaste, luxação e calcificação heterotópica. É importante enfatizar que os radiologistas devem estar familiarizados com os aspectos de imagem da ATQ, uma vez que a correta interpretação desses achados é crucial para o desfecho de cada caso, bem como para o planejamento do tratamento. REFERÊNCIAS 1. Mulcahy H, Chew FS. Current concepts of hip arthroplasty for radiologists: part 1, features and radiographic assessment. AJR Am J Roentgenol. 2012; 199:559–69. 2. Learmonth ID, Young C, Rorabeck C. The operation of the century: total hip replacement. Lancet. 2007;370:1508–19. 3. Fritz J, Lurie B, Miller TT, et al. MR imaging of hip arthroplasty implants. Radiographics. 2014;34:E106–32. 4. Charnley J. Arthroplasty of the hip. A new operation. Lancet. 1961;1(7187): 1129–32. 5. Evans JT, Evans JP, Walker RW, et al. How long does a hip replacement last? A systematic review and meta-analysis of case series and national registry reports with more than 15 years of follow-up. Lancet. 2019;393:647–54. 6. Galia CR, Diesel CV, Guimarães MR, et al. Total hip arthroplasty: a still evolving technique. Rev Bras Ortop. 2017;52:521–7. 7. Ferguson RJ, Palmer AJ, Taylor A, et al. Hip replacement. Lancet. 2018;392: 1662–71. 8. Mulcahy H, Chew FS. Current concepts of hip arthroplasty for radiologists: part 2, revisions and complications. AJR Am J Roentgenol. 2012;199:570–80. 9. Enge Júnior D, Castro AA, Fonseca EKUN, et al. Main complications of hip arthroplasty: pictorial essay. Radiol Bras. 2020;53:56–62. Médica Radiologista atuante na área de diagnóstico por imagem do sistema musculoesquelético, Diretora Médica da Clínica Medscanlagos, Cabo Frio, RJ, Brasil. E-mail: alineserfaty@gmail.com a. https://orcid.org/0000-0003-4863-5913 Data de publicação: 27/01/2020. |