CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Lucas de Pádua Gomes de Farias1,a; Igor Gomes Padilha1,b; Carla Jotta Justo dos Santos2,c; Christiana Maia Nobre Rocha de Miranda2,d |
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Sr. Editor,
Paciente do sexo masculino, 62 anos de idade, há 5 anos apresentando aumento do volume abdominal, sem dor ou desconforto, episódios febris, perda ponderal ou qualquer queixa referente aos tratos urinário e gastrintestinal. Negou trauma ou passado operatório. Procedeu-se a investigação com tomografia computadorizada de multidetectores, que revelou volumoso cisto com calcificações parietais e componente sólido com realce pós-contraste no rim esquerdo (categoria IV de Bosniak), associado a linfonodomegalia atípica retroperitonial, além de cistos renais simples bilateralmente (Figuras 1A, 1B e 1C). O paciente foi submetido a nefrectomia total e a análise histopatológica demonstrou processo inflamatório granulomatoso tipo corpo estranho, pielonefrite crônica com hialinização glomerular e ausência de malignidade no material examinado (Figura 1D). Figura 1. Imagens de tomografia computadorizada de múltiplos detectores sagital sem contraste (A), axial após administração de meio de contraste intravenoso (B) e reconstrução tridimensional (C) demonstrando volumosa formação cística renal à esquerda, que apresenta calcificações parietais difusas (cabeças de setas) e componente sólido com realce após a administração do meio de contraste intravenoso no aspecto inferior do cisto (setas), categoria IV de Bosniak, justaposto ao parênquima renal (setas pontilhadas). D: Lâmina histológica do componente sólido corada com hematoxilina-eosina, aumento 10×, demonstrando processo inflamatório granulomatosos tipo corpo estranho (setas), sem indícios de malignidade. As lesões císticas renais são os achados mais comuns na prática diária do médico radiologista e com diagnóstico simples e preciso pelos métodos de imagem. Porém, cistos complexos ou com componentes sólidos necessitam de maior caracterização para a avaliação dos diagnósticos diferenciais e conduta terapêutica(1–3). Em 1986, Bosniak(4) desenvolveu um esquema de classificação baseado nos critérios de imagem fornecidos pela tomografia computadorizada que permite analisar os aspectos do contorno e conteúdo do cisto renal, presença de septações e/ou calcificações, e avaliação do realce após a administração intravenosa do meio de contraste, determinando-as em ordem crescente para a probabilidade de malignidade: simples (I), minimamente complicadas (II), minimamente complicadas que requerem seguimento (IIF), indeterminadas (III) ou neoplasias císticas (IV)(1,2,4). As lesões classificadas na categoria IV são neoplasias císticas com componentes sólidos que apresentam realce pós-contraste, adjacentes à parede da lesão ou de septos (grosseiros ou nodulares) associados, além de também poderem apresentar espessamento parietal. São consideradas câncer de células renais (CCR) até que se prove o contrário(1,5). Granulomas de corpo estranho são incomuns e indistinguíveis do CCR, lesão sólida renal mais comum, uma vez que ambos têm características radiológicas semelhantes(5). As características por imagem do granuloma renal de corpo estranho são altamente variadas, a depender da presença de calcificação, componente adiposo e necrose. Em razão dessas características, a distinção radiológica entre granuloma de corpo estranho, CCR e angiomiolipoma é bastante difícil. Outros diagnósticos diferenciais incluem: carcinoma de células transicionais, oncocitoma, linfoma, leiomioma, pielonefrite xantogranulomatosa e doença de Erdheim-Chester(2,3,5–7). Com o aumento do número de nefrectomias parciais por laparoscopia, a incidência de granuloma por corpo estranho também aumentou(5). Na presença de lesão renal expansiva exibindo calcificações e focos adiposos, quando bem encapsuladas e sem sinal de infiltração das estruturas adjacentes, deve-se considerar a possibilidade de granuloma, principalmente se há relato de manipulação cirúrgica de vias urinárias(6). Destaca-se ainda que granulomas renais não são exclusivamente associados à inclusão de corpos estranhos no parênquima renal. Pode haver sua formação em decorrência de doenças sistêmicas, substâncias endógenas inertes ou até mesmo de origem idiopática(8). REFERÊNCIAS 1. Miranda CMNR, Maranhão CPM, Santos CJJ, et al. Bosniak classification of renal cystic lesions according to multidetector computed tomography findings. Radiol Bras. 2014;47:115–21. 2. Israel GM, Bosniak MA. How I do it: evaluating renal masses. Radiology. 2005;236:441–50. 3. Kutikov A, Fossett LK, Ramchandani P, et al. Incidence of benign pathologic findings at partial nephrectomy for solitary renal mass presumed to be renal cell carcinoma on preoperative imaging. Urology. 2006;68:737– 40. 4. Bosniak MA. The current radiological approach to renal cysts. Radiology. 1986;158:1–10. 5. Öz II, Mungan A, Şerifoğlu I, et al. Suture granuloma mimicking renal cell carcinoma: magnetic resonance imaging (MRI) and pathologic correlation. Journal of Urological Surgery. 2014;1:36–8. 6. Ferrozzi F, Bova D, Gabrielli M. Foreign-body granuloma of the kidney: CT, MR and pathologic correlation. Eur Radiol. 1999;9:1590–2. 7. Kim JY, Kim JK, Kim N, et al. CT histogram analysis: differentiation of angiomyolipoma without visible fat from renal cell carcinoma at CT imaging. Radiology. 2008;246:472–9. 8. Joss N, Morris S, Young B, et al. Granulomatous interstitial nephritis. Clin J Am Soc Nephrol. 2007;2:222–30. 1. Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Maceió, AL, Brasil 2. Clínica de Medicina Nuclear e Radiologia de Maceió (MedRadius), Maceió, AL, Brasil a. https://orcid.org/0000-0001-5195-9818 b. https://orcid.org/0000-0002-7639-0397 c. https://orcid.org/0000-0001-7205-8656 d. https://orcid.org/0000-0002-7750-6638 Correspondência: Dra. Christiana Maia Nobre Rocha de Miranda Clínica de Medicina Nuclear e Radiologia de Maceió (MedRadius) Rua Hugo Corrêa Paes, 104, Farol Maceió, AL, Brasil E-mail: maia.christiana@gmail.com Recebido para publicação em 22/10/2017 Aceito, após revisão, em 25/1/2018 |