AVANÇOS EM RADIOLOGIA
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Autho(rs): Marcelo de Toledo Piza Watzl1; Alair Augusto Sarmet Moreira Damas dos Santos2; Armando Leão Ferreira Neto3; Danilo Alves de Araujo4 |
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INTRODUÇÃO
A técnica de Ponseti consiste na tenotomia percutânea do tendão calcâneo para correção do equino no pé torto congênito, e a cicatrização desse tendão pode ser avaliada pela ultrassonografia. A ultrassonografia é uma ferramenta não invasiva e dinâmica para a avaliação da gravidade do pé torto e da recuperação do tendão calcâneo, permitindo acompanhar a regeneração, fazer a mensuração quantitativa da espessura do tendão e do comprimento do tecido reparativo(1–6). O exame ultrassonográfico é feito com transdutor linear multifrequencial de alta resolução, obtendo-se imagens longitudinais (Figura 1) e transversais (Figura 2) do tendão calcâneo, avaliando a regeneração do tendão em relação a espessura, ecogenicidade, estruturas peritendíneas, existência de gap entre os cotos e presença de aderência da pele com o tendão. Figura 1. Imagens no plano longitudinal do tendão calcâneo demonstrando área cicatricial condizente com a fase final da cicatrização. Figura 2. Imagens em planos transversal e longitudinal demonstrando área hipoecoica com dimensões de 0,71 × 0,29 cm referente ao tendão calcâneo na fase final da cicatrização. Após a tenotomia do tendão ocorre um afastamento, e o espaço entre os tendões provocado pela retração do coto proximal é preenchido por hematoma, caracterizado por débris ecográficos, que com a evolução se transforma num tecido fibroso, facilmente visualizado pela ultrassonografia. As fases de cicatrização do tendão podem ser divididas em: fase inflamatória, com a presença do hematoma e posterior organização deste; fase proliferativa, com surgimento e subsequente maturação de fibras de tecido conjuntivo no gap; e fase remodeladora, com organização da estrutura tendínea semelhante ao tecido original(1,4). ASPECTOS ULTRASSONOGRÁFICOS Descrevem-se, a seguir, cada fase de cicatrização do tendão de Aquiles após o tratamento de Ponseti para a correção do pé torto congênito e os aspectos ultrassonográficos correlatos. • Antes da tenotomia: tecido normal com margens definidas e textura fibrilar(3); • 1 a 2 semanas após a tenotomia: ecogenicidade mista com aparência heterogênea, correspondendo a hematoma(3,5,6); • 2 a 3 semanas após a tenotomia: preenchimento da lacuna com tecido hipoecoico irregular; • 3 a 6 semanas após a tenotomia: fibras dispostas aleatoriamente dentro da zona de gap; observa-se continuidade entre os segmentos tendíneos no exame dinâmico; • 6 a 12 semanas: fibras com aparência linear, mas em menor número e menos hiperecoicas que em um tendão normal(3,5,6); • Mais de 12 semanas: aparência fibrilar homogênea semelhante a um tendão normal, tanto na aparência ecográfica quanto nas dimensões(3,6). CONCLUSÃO O método ultrassonográfico é aceito como um procedimento confiável para a avaliação rotineira de tendões, o que permite a sua avaliação dinâmica, sendo extremamente útil na avaliação da regeneração do tendão calcâneo após tenotomia pela técnica de Ponseti. A fase inicial após a tenotomia evidencia ecogenicidade mista e aparência heterogênea que aparenta continuidade entre as extremidades, e é substituído por tecido hipoecoico irregular e posteriormente por fibras dispostas aleatoriamente na zona do gap. Após seis meses do procedimento, as fibras têm aparência linear em menor número e menos ecogênicas que o tendão normal, que gradativamente vão se tornando homogêneas com aparência e dimensão usuais. Portanto, por meio da avaliação ultrassonográfica é possível acompanhar a cicatrização e reparação do tendão calcâneo após a realização da tenotomia pela técnica de Ponseti em pacientes com pé torto congênito, sendo importante o médico radiologista conhecer mais esta aplicação do método ultrassonográfico. REFERÊNCIAS 1. Nasr P, Berman L, Rehm A. Ultrasonographic findings after Achilles tenotomy during Ponseti treatment for clubfeet: is ultrasound a reliable tool to assess tendon healing? J Child Orthop. 2014;8:405–11. 2. Barker SL, Lavy CBD. Correlation of clinical and ultrasonographic findings after Achilles tenotomy in idiopathic club foot. J Bone Joint Surg Br. 2006;88:377–9. 3. Agarwal A, Qureshi NA, Kumar P, et al. Ultrasonographic evaluation of Achilles tendons in clubfeet before and after percutaneous tenotomy. J Orthop Surg (Hong Kong). 2012;20:71–4. 4. Mangat KS, Kanwar R, Johnson K, et al. Ultrasonographic phases in gap healing following Ponseti-type Achilles tenotomy. J Bone Joint Surg Am. 2010;92:1462–7. 5. Maranho DAC, Nogueira-Barbosa MH, Simão MN, et al. Ultrasonographic evaluation of Achilles tendon repair after percutaneous sectioning for the correction of congenital clubfoot residual equinus. J Pediatr Orthop. 2009;29:804–10. 6. Niki H, Nakajima H, Hirano T, et al. Ultrasonographic observation of the healing process in the gap after a Ponseti-type Achilles tenotomy for idiopathic congenital clubfoot at two-year follow-up. J Orthop Sci. 2013;18:70–5. 1. Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil; https://orcid.org/0000-0003-4421-4206 2. Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brazil; https://orcid.org/0000-0002-8640-3657 3. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brazil; https://orcid.org/0000-0002-6035-1190 4. Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brazil; https://orcid.org/0000-0001-6200-0186 Correspondência: Dr. Alair Sarmet Moreira Damas dos Santos Hospital Universitário Antônio Pedro Rua Marquês de Paraná, 303, 2º andar, Centro Niterói, RJ, Brasil, 24030-210 E-mail: alairsarmet@globo.com Recebido para publicação em 30/7/2018 Aceito, após revisão, em 19/11/2018 Data de publicação: 28/10/2019 |