CARTAS AO EDITOR
|
|
|
|
Autho(rs): Denise Maria Rissato Camilo1; Tiago Kojun Tibana2; Rômulo Florêncio Tristão Santos3; Edson Marchiori4; Thiago Franchi Nunes5 |
|
Sr. Editor,
Homem de 43 anos de idade, morador de zona rural, apresentando dor no membro inferior direito há dois meses, predominantemente na região do quadril, com piora progressiva da intensidade. Exame físico mostrou dor de leve intensidade na movimentação ativa e passiva do membro. Exames laboratoriais sem alterações significativas, exceto pela velocidade de hemossedimentação discretamente elevada. Radiografia simples demonstrou múltiplas imagens radiopacas riziformes, distribuídas em vários planos musculares (Figuras 1A e 1B). Tomografia computadorizada revelou numerosas calcificações nos grupos musculares de ambos os membros inferiores (Figuras 1C e 1D). A hipótese de cisticercose muscular foi aventada. Relatório anatomopatológico confirmou cisticercose. Foi realizado tratamento com albendazol e prednisona por 30 dias, com melhora total dos sinais e sintomas. Figura 1. Radiografias simples (A,B) demonstrando imagens radiodensas riziformes localizadas nos planos musculares. Tomografia computadorizada coronal (C) e axial (D) mostrando calcificações intramusculares difusas. Doenças causadas por agentes infecciosos pouco comuns têm sido descritas recentemente na literatura radiológica nacional(1–4). A teníase e a cisticercose são duas entidades distintas causadas pelo mesmo gênero de cestóideos, porém, em fases distintas de ciclo evolutivo. A teníase é uma doença provocada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata no intestino delgado de seu hospedeiro definitivo, o homem. A cisticercose, por sua vez, é uma entidade causada pela presença da forma larvária das tênias nos tecidos de seus hospedeiros intermediários (suíno e bovino). Na cisticercose humana, o homem está na posição de hospedeiro intermediário acidental(5). A via de entrada dos ovos no intestino humano se dá por contaminação fecal-oral, por meio de autoinfecção ou pela ingestão de alimentos ou água contaminados(6). Os ovos se desenvolvem na forma larvária, que se espalham por toda a parede intestinal e são disseminados pela corrente sanguínea para cérebro, músculos, tecidos subcutâneos ou qualquer outro órgão(5). A cisticercose é endêmica em muitas partes do mundo, particularmente na América Latina, África e Ásia. No entanto, uma tendência de crescimento gradual é observada nos países desenvolvidos, em razão do aumento das viagens e de imigrantes(7,8). As localizações preferenciais do parasita são: sistema nervoso central, em 70% a 80% dos casos; globo ocular, em 18% a 20% dos casos; pele, em 10% a 12% dos casos; e musculatura, em 5% a 6% dos casos. A infestação muscular não determina sintomas e/ou sinais clínicos específicos. Na maioria das vezes, os sintomas são pouco acentuados, podendo ocorrer dores e fraqueza muscular, parestesia dos membros inferiores e hidrartrose do joelho. Modificações acentuadas da função muscular, com alterações evidentes no exame físico, são raras. A forma muscular tem sido achado casual em exames radiológicos, incidindo sobre as partes moles e demonstrando as calcificações características(9). O tratamento da cisticercose intramuscular depende da presença de sintomas, principalmente se houver dor ou processo inflamatório local. As modalidades de tratamento incluem drogas larvicidas como albendazol ou praziquantel em pacientes com cistos viáveis, corticosteroides ou outros agentes para suprimir ou prevenir a resposta imune do hospedeiro, além de intervenções cirúrgicas em casos selecionados(10,11). REFERÊNCIAS 1. Frota Júnior JH, Pereira MAH, Lopes PGM, et al. Intestinal strongyloidiasis: radiological findings that support the diagnosis. Radiol Bras. 2017;50:137–8. 2. Mogami R, Vaz JLP, Chagas YFB, et al. Ultrasound of ankles in the diagnosis of complications of chikungunya fever. Radiol Bras. 2017;50:71–5. 3. Niemeyer B, Muniz BC, Gasparetto EL, et al. Reply: Congenital Zika syndrome and neuroimaging findings. Radiol Bras. 2017;50:405. 4. Barbosa DL, Hochhegger B, Souza Jr AS, et al. High-resolution computed tomography findings in eight patients with hantavirus pulmonary syndrome. Radiol Bras. 2017;50:148–53. 5. Saeed N, Ehsan A, Vasenwala SM. Disseminated cysticercosis incidentally diagnosed in a patient of fracture shaft of femur. BMJ Case Rep. 2017;28:2017. 6. Yamashita S, Mesquita MVGBC, Machado JCM, et al. Cisticercose intramedular: relato de caso e revisão da literatura. Radiol Bras. 2003; 36:255–7. 7. Sharma BS, Banerjee AK, Kak VK. Intramedullary spinal cysticercosis. Case report and review of literature. Clin Neurol Neurosurg. 1987;89:111–6. 8. Liu H, Juan YH, Wang W, et al. Intramuscular cysticercosis: starry sky appearance. QJM. 2014;107:459–61. 9. Armbrust-Figueiredo J, Speciali JG, Lison MP. Forma miopática da cisticercose. Arq Neuro-Psiquiatr (São Paulo). 1970;28:385–90. 10. Nash TE. Human case management and treatment of cysticercosis. Acta Trop. 2003;87:61–9. 11. Tripathy SK, Sen RK, Akkina N, et al. Role of ultrasonography and magnetic resonance imaging in the diagnosis of intramuscular cysticercosis. Skeletal Radiol. 2012;41:1061–6. 1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; https://orcid.org/0000-0002-9016-8610 2. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; https://orcid.org/0000-0001-5930-1383 3. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; https://orcid.org/0000-0002-8679-7369 4. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil; https://orcid.org/0000-0001-8797-7380 5. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; https://orcid.org/0000-0003-0006-3725 Correspondência: Dr. Thiago Franchi Nunes Avenida Senador Filinto Müller, 355, Vila Ipiranga Campo Grande, MS, Brasil, 79080-190 E-mail: thiagofranchinunes@gmail.com Recebido para publicação em 13/11/2017. Aceito, após revisão, em 22/12/2017. |