Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 52 nº 4 - Jul. / Ago.  of 2019

CARTAS AO EDITOR
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Page(s) 272 to 278



Paniculite mesentérica em paciente com artrite reumatoide

Autho(rs): Tiago Kojun Tibana1; Rômulo Florêncio Tristão Santos2; Denise Maria Rissato Camilo3; Edson Marchiori4; Thiago Franchi Nunes5

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Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Homem, 63 anos, com quadro de dor intermitente na porção superior do abdome há quatro meses, apresentando piora progressiva da intensidade, associada a astenia, náuseas e perda ponderal de 10 kg no período. Em tratamento para artrite reumatoide há sete anos com metotrexato e prednisona. Ao exame físico apresentou dor à palpação profunda e massa no quadrante superior esquerdo do abdome, parcialmente móvel e de consistência fibroelástica. Exames laboratoriais sem alterações significativas, exceto pela velocidade de hemossedimentação discretamente elevada. Marcadores tumorais dentro dos limites da normalidade. A tomografia computadorizada (TC) do abdome mostrou formação expansiva heterogênea, com densidade predominantemente de gordura, contendo linfonodos e estruturas vasculares ectasiadas no seu interior (Figura 1). Com base nos informes clínicos e aspecto tomográfico, a hipótese de paniculite mesentérica foi considerada. Optou-se pelo teste terapêutico, com ajuste da dose de prednisona. O paciente evoluiu satisfatoriamente, com melhora completa dos sintomas.


Figura 1. TC axial (A) e coronal (B) demonstrando formação expansiva heterogênea, com densidade predominantemente de gordura, contendo linfonodos (cabeças de setas) e estruturas vasculares ectasiadas (seta pontilhada) em seu interior, parcialmente delimitada por pseudocápsula tumoral (seta), se estendendo da raiz do mesentério até a fossa ilíaca esquerda.



A paniculite mesentérica é uma doença rara e de etiologia ainda desconhecida, caracterizada por inflamação crônica não específica envolvendo o tecido adiposo do mesentério. É mais comum em homens entre a quinta e sexta décadas de vida. A paniculite mesentérica tem sido relacionada a uma variedade de condições, como infecções, trauma, cirurgias, pancreatite, isquemia mesentérica e alterações autoimunes(1–3). Quando sintomáticos, os pacientes podem apresentar massa abdominal palpável e manifestações sistêmicas inespecíficas, incluindo dor abdominal, hiporexia, astenia, perda de peso e distúrbios intestinais de duração variável. Os sintomas podem ser progressivos, intermitentes ou ausentes. Os achados laboratoriais são inespecíficos, podendo incluir elevação da velocidade de hemossedimentação, leucocitose e anemia(1,4,5).

A TC tem sido utilizada no diagnóstico e na avaliação da eficácia do tratamento de uma série de condições abdominais agudas(5–8). Os achados tomográficos dependem do estádio da doença e do componente predominante (inflamatório, fibroso ou adiposo)(3). Geralmente se apresenta como massa heterogênea com componente adiposo, densidade discretamente elevada pelo processo inflamatório local, associada a bandas lineares com densidade de partes moles de permeio (pseudocápsula tumoral), detectada em até 50% dos pacientes, além de linfonodomegalia e ectasia dos vasos mesentéricos(9). O diagnóstico definitivo é estabelecido por meio de laparotomia e biópsia(5), porém, esses procedimentos nem sempre são necessários. Recentemente, a paniculite mesentérica vem sendo diagnosticada utilizando-se as características da TC(10,11).

Nenhum tratamento é considerado totalmente eficaz(1). A paniculite mesentérica tende a resolver-se espontaneamente. O tratamento é reservado para casos sintomáticos e inclui algumas drogas como corticoides, talidomida, ciclofosfamida, progesterona, colchicina e azatioprina. A ressecção cirúrgica é limitada aos casos de obstrução intestinal e outras complicações, como isquemia, ou casos altamente suspeitos de malignidade(1,11).


REFERÊNCIAS

1. Moreira LBM, Pinheiro RA, Melo ASA, et al. Paniculite mesentérica: aspectos na tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2001;34:135–40.

2. Bush RW, Hammar SP Jr, Rudolph RH. Sclerosing mesenteritis. Response to cyclophosphamide. Arch Intern Med. 1986;146:503–5.

3. Fujiyoshi F, Ichinari N, Kajiya Y, et al. Retractile mesenteritis: smallbowel radiography, CT, and MR imaging. AJR Am J Roentgenol. 1997; 169:791–3.

4. Durst AL, Freund H, Rosenmann E, et al. Mesenteric panniculitis: review of the literature and presentation of cases. Surgery. 1977;81:203– 11.

5. Hemaidan A, Vanegas F, Alvarez OA, et al. Mesenteric lipodystrophy with fever of unknown origin and mesenteric calcifications. South Med J. 1999;92:513–6.

6. Queiroz RM, Sampaio FDC, Marques PE, et al. Pylephlebitis and septic thrombosis of the inferior mesenteric vein secondary to diverticulitis. Radiol Bras. 2018;51:336–7.

7. Niemeyer B, Correia RS, Salata TM, et al. Subcapsular splenic hematoma and spontaneous hemoperitoneum in a cocaine user. Radiol Bras. 2017;50:136–7.

8. Naves AA, D’Ippolito G, Souza LRMF, et al. What radiologists should know about tomographic evaluation of acute diverticulitis of the colon. Radiol Bras. 2017;50:126–31.

9. Daskalogiannaki M, Voloudaki A, Prassopoulos P, et al. CT evaluation of mesenteric panniculitis: prevalence and associated diseases. AJR Am J Roentgenol. 2000;174:427–31.

10. Akram S, Pardi DS, Schaffner JA, et al. Sclerosing mesenteritis: clinical features, treatment, and outcome in ninety-two patients. Clin Gastroenterol Hepatol. 2007;5:589–96.

11. Ege G, Akman H, Cakiroglu G. Mesenteric panniculitis associated with abdominal tuberculous lymphadenitis: a case report and review of the literature. Br J Radiol. 2002;75:378–80.










1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil
2. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil
3. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil
4. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
5. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil

Correspondência:
Dr. Tiago Kojun Tibana
Avenida Senador Filinto Müller, 355, Vila Ipiranga
Campo Grande, MS, Brasil, 79080-190
E-mail: tiagotibana@ hotmail.com

Recebido para publicação em 3/11/2017
Aceito, após revisão, em 11/12/2017
 
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