CARTAS AO EDITOR
|
|
|
|
Autho(rs): Tiago Kojun Tibana1; Rômulo Florêncio Tristão Santos2; Patrícia Costa de Oliveira Campos Marques3; Edson Marchiori4; Thiago Franchi Nunes5 |
|
Sr. Editor,
Mulher, 36 anos, gestante de 16 semanas, apresentando constipação crônica, com piora há 2 semanas, evoluindo com parada da eliminação de gases e fezes, distensão abdominal, vômitos e dor abdominal difusa com predomínio na fossa ilíaca esquerda. Foi submetida a clister retal, sem melhora clínica. Negou cirurgias prévias. Exame físico demonstrou abdome gravídico, distendido, ruídos hidroaéreos aumentados com timbre metálico, dor à palpação profunda pior na fossa ilíaca esquerda, sem sinais de peritonite. Exames laboratoriais sem alterações significativas. Ressonância magnética da pelve mostrou distensão colônica difusa (Figura 1A), com formação expansiva na transição do retossigmoide, caracterizada por espessamento irregular e concêntrico, extensão de 4 cm e distando cerca de 20 cm do canal anal (Figuras 1B e 1C). Não se observaram linfonodos suspeitos locorregionais. Foram realizadas retossigmoidectomia convencional e confecção de anastomose primária (Figura 1D). Não foram identificadas metástases macroscópicas durante o procedimento cirúrgico. Estudo anatomopatológico revelou adenocarcinoma tubular invasivo, mucinoso, moderadamente diferenciado, com invasão angiolinfática. Ultrassonografia obstétrica no pós-operatório imediato mostrou feto único, batimentos cardiofetais presentes e placenta normoinserida. A paciente evoluiu satisfatoriamente e recebeu alta no 8° dia de pós-operatório. Figura 1. RM de abdome no plano axial (A) mostrando distensão colônica (asteriscos). Planos sagital (B) e coronal (C) mostrando tumor obstrutivo de reto baixo (asterisco) e útero gravídico com saco gestacional (seta). D: Peça cirúrgica mostrando lesão estenosante e irregular. A incidência de câncer em gestantes varia de 0,07% a 0,1%. O câncer colorretal durante o período gestacional é uma entidade rara, com incidência de 0,002%(1-3). Os fatores de risco incluem idade avançada, história pessoal ou familiar de pólipos adenomatosos, doença inflamatória intestinal, história familiar de câncer colorretal, dietas com alto teor de gordura e proteína animal, obesidade, tabagismo e ingesta de álcool(4). O adenocarcinoma mucinoso é caracterizado pela presença de mucina extracelular correspondendo a mais que 50% do volume tumoral. O componente mucinoso é um dos fatores que influenciam a sobrevivência dos doentes. O adenocarcinoma mucinoso em qualquer grau de diferenciação é considerado fator localmente agressivo e de pior prognóstico(5). Gestantes que apresentam sintomas abdominais agudos comumente são um desafio diagnóstico. Embora a ultrassonografia seja o primeiro método de imagem, muitas vezes são necessários exames adicionais. A ressonância magnética, com o desenvolvimento de sequências mais rápidas, oferece importantes benefícios, que incluem imagens multiplanares, excelente contraste de tecidos moles e ausência de radiação ionizante(6-9), além de ser um método potencialmente mais preciso para a detecção do adenocarcinoma mucinoso do que a biópsia pré-operatória(10). O tratamento é complexo e envolve aspectos como idade gestacional, estadiamento tumoral e preservação da fertilidade. Até a primeira metade da gestação, o tratamento deve ser realizado como o de uma paciente não grávida. Na segunda metade, aguarda-se a viabilidade fetal e, após o parto, realiza-se a cirurgia. As principais drogas utilizadas na quimioterapia adjuvante são consideradas seguras a partir do segundo trimestre. Em relação à radioterapia, é sabidamente benéfica no pré e pós-operatório dos tumores retais e pode ser indicada para casos especiais de cólon. Contudo, é contraindicada durante a gestação, e seus efeitos para o feto são imprevisíveis(11). REFERÊNCIAS 1. Cappell MS. Colon cancer during pregnancy. Gastroenterol Clin North Am. 2003;32:341-83. 2. Sobrado CW, Mester M, Simonsen OS, et al. Retrorectal tumors complicating pregnancy. Report of two cases. Dis Colon Rectum. 1996;39: 1176-9. 3. Woods JB, Martin JN Jr, Ingram FH, et al. Pregnancy complicated by carcinoma of the colon above the rectum. Am J Perinatol. 1992;9:102-10. 4. Haggar FA, Boushey RP. Colorectal cancer epidemiology: incidence, mortality, survival, and risk factors. Clin Colon Rectal Surg. 2009;22:191-7. 5. Tung SY, Wu CS, Chen PC. Primary signet ring cell carcinoma of colorectum: an age- and sex-matched controlled study. Am J Gastroenterol. 1996;91:2195-9. 6. McKenna DA, Meehan CP, Alhajeri AN, et al. The use of MRI to demonstrate small bowel obstruction during pregnancy. Br J Radiol. 2007;80: e11-4. 7. Boaventura CS, Rodrigues DP, Silva OAC, et al. Evaluation of the indications for performing magnetic resonance imaging of the female pelvis at a referral center for cancer, according to the American College of Radiology criteria. Radiol Bras. 2017;50:1-6. 8. Cardia PP. Indications for magnetic resonance imaging of the female pelvis at a referral center for cancer. Radiol Bras. 2017;50(1):v-vi. 9. Alves I, Cunha TM. Clinical importance of second-opinion interpretations by radiologists specializing in gynecologic oncology at a tertiary cancer center: magnetic resonance imaging for endometrial cancer staging. Radiol Bras. 2018;51:26-31. 10. Yu SK, Chand M, Tait DM, et al. Magnetic resonance imaging defined mucinous rectal carcinoma is an independent imaging biomarker for poor prognosis and poor response to preoperative chemoradiotherapy. Eur J Cancer. 2014;50:920-7. 11. Heres P, Wiltink J, Cuesta MA, et al. Colon carcinoma during pregnancy: a lethal coincidence. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 1993;48:149-52. 1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; https://orcid.org/0000-0001-5930-1383 2. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS , Brasil;https://orcid.org/0000-0002-8679-7369 3. Santa Casa de Campo Grande, Campo Grande, MS, Brasil; https://orcid.org/0000-0002-1920-1473 4. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil; https://orcid.org/0000-0001-8797-7380 5. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; https://orcid.org/0000-0003-0006-3725 Correspondência: Dr. Thiago Franchi Nunes Avenida Senador Filinto Müller, 355, Vila Ipiranga Campo Grande, MS, Brasil, 79080-190 E-mail: thiagofranchinunes@gmail.com Recebido para publicação em 02/November/2017 Aceito, após revisão, em 21/November/2017 |