CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Claudio Marcio Amaral de Oliveira Lima1,a; Antônio Carlos Coutinho2,b; Roberta Araújo de Arruda Câmara3,c |
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Sr. Editor,
Mulher, 67 anos de idade, menopausada, multípara, com queixa de edema vulvar há um mês, sem sangramento vaginal ou disúria, somente incômodo local. No exame físico observou-se nódulo sólido, fixo e indolor na vulva. Ressonância magnética (RM) demonstrou formação ovalada cística, hipointensa em T1 e heterogênea, predominantemente hiperintensa em T2, com paredes espessadas e captante de contraste, sem restrição à difusão, mantendo amplo contato com a margem inferior da sínfise púbica, medindo 2,8 × 2,5 × 2,3 cm (Figura 1). Com base na RM e na localização da lesão, considerou-se o diagnóstico de cisto cartilaginoso subpúbico. Figura 1. RM de pelve com interesse na região púbica. Sequência em T2, no plano sagital (A) e no plano coronal (B), sequência em T1 no plano axial (C) e sequência em T1 com supressão de gordura após a administração de gadolínio (D). Formação de aspecto cístico, com sinal heterogêneo, predominantemente hiperintenso em T2 e hipointenso em T1, com parede espessada, captante de contraste (setas). O cisto cartilaginoso subpúbico foi descrito pela primeira vez em 1996 por Alguacil-Garcia et al.(1). A literatura internacional descreve, até o momento, somente 12 casos comprovados(2), quase todos envolvendo multíparas entre 50 e 80 anos, com massa vulvar: quatro casos, como massa dolorosa; três, como massa dolorosa com dor abdominal; quatro, como disfunção urinária; e um raríssimo caso, em paciente masculino, como dor na base do pênis com disfunção sexual(2). O cisto cartilaginoso subpúbico é uma rara forma de cisto ganglion, que começa na superfície inferior da sínfise púbica, consistindo de cápsula de colágeno envolvendo tecido fibrocartilaginoso gelatinoso em degeneração, débris e mucina(2-5). Acredita-se que seja secundário a alterações degenerativas. Pode permanecer estável ou apresentar mínima redução de tamanho, com apenas um caso, em 2015, no Japão, em que houve regressão completa e espontânea após dois anos(2-5). Os exames de imagem, particularmente a RM, vêm recebendo crescente importância na avaliação das doenças pélvicas(6-10). O diagnóstico de cisto cartilaginoso subpúbico é baseado na clínica e exames de imagem, o que depende da quantidade de material mucinoso e condrocítico, resultando em aspecto heterogêneo na RM(2,11). Na radiografia observam-se alterações degenerativas na sínfise púbica(3). Em 2004, Kim et al.(12) descreveram pela primeira vez os achados de RM do cisto cartilaginoso subpúbico: lesão hipointensa em relação ao músculo, nas sequências pesadas em T1 e heterogeneamente hiperintensas em T2, mantendo ampla superfície de contato com a sínfise púbica, apresentando realce da parede após administração de gadolínio, sem realce interno(2). Uma lesão de natureza cística localizada na linha média e que mantém intima relação com a sínfise púbica são as dicas para o diagnóstico correto(5,11). O diagnóstico diferencial para massa vulvar inclui lipomas, cistos de uretra, Naboth, Bartholin, Gartner ou cisto paratubário, cistos na sínfise, pseudocisto subcondral na artrite reumatoide e cisto subcondral. Tumores malignos incluem carcinoma de células escamosas, carcinoma de glândulas de Bartholin, condrossarcoma e melanoma de vulva(2,5,12,13). Em geral, a diferenciação é fácil e depende da localização e das características radiológicas da lesão(2,12,14). A biópsia pré-operatória é reservada para casos com alta suspeita de malignidade(1,6). O tratamento de escolha é a ressecção, pois a aspiração não é possível devido ao conteúdo volumoso dos cistos. Recorrências não foram relatadas na literatura, embora o acompanhamento tenha sido limitado a três anos. Em um caso, o cisto cartilaginoso subpúbico não foi tratado e o seguimento revelou que não ocorreram mudanças de tamanho ou características após dois anos. A ressecção do cisto cartilaginoso subpúbico foi complicada por uma sínfisiólise(1,11). Por ser condição benigna, todos os esforços devem ser feitos para preservar a estabilidade da sínfise púbica(2,4,14). REFERÊNCIAS 1. Alguacil-Garcia A, Littman CD. Subpubic cartilaginous cyst: report of two cases. Am J Surg Pathol. 1996;20:975-9. 2. Nishisho T, Takao S, Miyagi R, et al. Complete spontaneous regression of a subpubic cartilaginous cyst: a case report. J Med Invest. 2016;63: 319-22. 3. Hoogendoorn RJW, Kayser HWM, Weening JJ, et al. Subpubic cartilaginous cystic lesion presenting as a vulvar mass: a case report. J Med Case Rep. 2009;3:7294. 4. Gajjar K, Robati S, Packer G, et al. Surgical approach to a vulval-pubic cartilaginous cyst: a case report and review of published work. J Obstet Gynaecol Res. 2013;39:1419-24. 5. Vanhoenacker FM, Govaerts J, Bernard P, et al. Subpubic cartilaginous cyst: a rare cause of dysuria. JBR-BTR. 2013;96:295-7. 6. Boaventura CS, Rodrigues DP, Silva OAC, et al. Evaluation of the indications for performing magnetic resonance imaging of the female pelvis at a referral center for cancer, according to the American College of Radiology criteria. Radiol Bras. 2017;50:1-6. 7. Alves I, Cunha TM. Clinical importance of second-opinion interpretations by radiologists specializing in gynecologic oncology at a tertiary cancer center: magnetic resonance imaging for endometrial cancer staging. Radiol Bras. 2018;51:26-31. 8. Duarte AL, Dias JL, Cunha TM. Pitfalls of diffusion-weighted imaging of the female pelvis. Radiol Bras. 2018;51:37-44. 9. Fonseca EKUN, Bastos BB, Yamauchi FI, et al. Ruptured endometrioma: main imaging findings. Radiol Bras. 2018;51:411-2. 10. Muralidharan CG, Krishna S, Jose T. Pediatric ovarian torsion: a diagnostic challenge. Radiol Bras. 2018;51:274-5. 11. Bullock RW, Soares DP, Shah S. Subpubic cartilaginous cyst: an unusual cause of a vulval mass. BMJ Case Rep. 2009;2009. pii: bcr11.2008.1232. 12. Bezerra MRL, Soares AFF, Faintuch S, et al. Identificação das estruturas músculo-ligamentares do assoalho pélvico feminino na RM. Radiol Bras. 2001;34:323-6. 13. Kim CE, Beasley HS. MRI diagnosis of subpubic cartilaginous cyst. AJR Am J Roentgenol. 2004;182:144-6. 14. Ribeiro JCCB, Vieira SC, Silva BB, et al. Angiomixoma agressivo da vulva: relato de caso. Einstein (São Paulo). 2015;32:276-8. 1. Clínica de Diagnóstico Por Imagem (CDPI) e Clínica de Diagnóstico por Imagem Fátima Digittal, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; a. https://orcid.org/0000-0002-5684-7249 2. Clínica de Diagnóstico Por Imagem (CDPI) e Clínica de Diagnóstico por Imagem Fátima Digittal, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; b. https://orcid.org/0000-0003-1158-1720 3. Clínica de Diagnóstico Por Imagem (CDPI) e Clínica de Diagnóstico por Imagem Fátima Digittal, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; c. https://orcid.org/0000-0001-7292-5713 Correspondência: Dr. Claudio Marcio Amaral de Oliveira Lima Rua Queiroz Junior, 181, ap. 1002, Barra da Tijuca Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 22775-170 E-mail: cmaolima@gmail.com Recebido para publicação em 14/10/2017 Aceito, após revisão, em 3/11/2017 |