CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Leandro Lucas Lima1,2,a; Daniella Braz Parente3,4,b; Ricardo Vezzani Batista5,c; Antonio Eiras de Araújo6,7,d |
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Sr. Editor,
Homem de 70 anos, assintomático, submetido a colonoscopia de rastreio, na qual foi identificada lesão retal, subepitelial, confirmada pela ecoendoscopia (Figura 1A). Foi realizada ressonância magnética (RM), que não detectou a lesão com o protocolo habitual. O exame de RM foi complementado com estudo dinâmico, que permitiu a identificação de uma lesão medindo 5 mm, com realce precoce pelo meio de contraste, não identificada em fases mais tardias do estudo dinâmico (Figuras 1B e 1C). Posteriormente, foi realizada ressecção endoscópica diagnóstica e terapêutica (Figura 1D), com diagnóstico histopatológico de neoplasia neuroendócrina bem diferenciada. Figura 1. A: Ecoendoscopia mostrando lesão localizada e restrita à submucosa (setas). RM 3,0 tesla pós-contraste com estudo dinâmico (B) mostrando pequena lesão parietal hipervascular em fase precoce (seta) e em fase mais tardia (C) mostrando que a lesão não é mais individualizada (seta). D: Escara resultante da ressecção. Tumores neuroendócrinos podem ocorrer em diferentes órgãos e correspondem a 1,5% de todas as neoplasias gastrintestinais e pancreáticas(1). No trato gastrintestinal, o reto é a segunda porção mais acometida, correspondendo a 21-27% dos casos(2). A maioria é esporádico, mas até 25% pode vir associado a síndromes genéticas, como a neoplasia endócrina múltipla tipo 1, a neurofibromatose tipo 1, a doença de Von Hippel-Lindau e a esclerose tuberosa(3-5). Podem produzir hormônios e aminas metabolicamente ativas, causando sintomas(5). Os não funcionantes, que são os mais comuns, frequentemente se manifestam como doença localmente avançada ou como metástase (principalmente para fígado)(5). O sistema de classificação de 2010 da Organização Mundial da Saúde utiliza aspectos histopatológicos para classificar as neoplasias neuroendócrinas em três categorias: neoplasia neuroendócrina, grau 1; neoplasia neuroendócrina, grau 2; e carcinoma neuroendócrino, grau 3. O primeiro demonstra comportamento benigno ou maligno incerto, o segundo mostra baixo grau de malignidade e o terceiro geralmente tem comportamento agressivo(6). A malignidade depende não apenas da classificação histológica, mas também do local de origem. A neoplasia localizada no reto possui bom prognóstico, sendo a maioria dos pacientes assintomática, representa lesão descoberta incidentalmente, tipicamente pequena (< 1 cm) e localizada em 82% dos casos no momento do diagnóstico, com metástase em apenas 2% dos menores que 2 cm e taxa de sobrevida em cinco anos de 88%(2). Ecoendoscopia é o método ideal para avaliar a invasão da parede retal e os linfonodos regionais(7). A RM vem sendo cada vez mais usada para avaliar a extensão tumoral e nodal(2). Ressecção local é o tratamento ideal para lesões não invasivas menores que 2 cm, e cirurgia radical com ressecção dos linfonodos de drenagem, para as lesões invasivas ou maiores que 2,5 cm(8). Em caso de tumores metastáticos, terapias sistêmicas ou mesmo cirúrgicas são consideradas(2). O tumor neuroendócrino bem diferenciado do reto tem origem na muscular da mucosa ou submucosa, portanto, tem localização superficial ou padrão de crescimento intraluminal. Apresenta hipossinal em T1, hipersinal em T2 e realce homogêneo pelo meio de contraste. Por outro lado, o tumor neuroendócrino indiferenciado tem achados similares ao adenocarcinoma retal(9). Em conclusão, a inclusão do estudo dinâmico aumenta a sensibilidade da RM para detecção de tumores neuroendócrinos pequenos, podendo ser um método adicional para pesquisa de neuroendócrinos ocultos. REFERÊNCIAS 1. Chang S, Choi D, Lee SJ, et al. Neuroendocrine neoplasms of the gastrointestinal tract: classification, pathologic basis, and imaging features. Radiographics. 2007;27:1667-79. 2. Sahani DV, Bonaffini PA, Fernández-Del Castillo C, et al. Gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors: role of imaging in diagnosis and management. Radiology. 2013;266:38-61. 3. Lawrence B, Gustafsson BI, Chan A, et al. The epidemiology of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Endocrinol Metab Clin North Am. 2011;40:1-18. 4. Yao JC, Hassan M, Phan A, et al. One hundred years after "carcinoid": epidemiology of and prognostic factors for neuroendocrine tumors in 35,825 cases in the United States. J Clin Oncol. 2008;26:3063-72. 5. Toumpanakis CG, Caplin ME. Molecular genetics of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Am J Gastroenterol. 2008;103:729-32. 6. Turaga KK, Kvols LK. Recent progress in the understanding, diagnosis, and treatment of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. CA Cancer J Clin. 2011;61:113-32. 7. Fujishima H, Misawa T, Maruoka A, et al. Rectal carcinoid tumor: endoscopic ultrasonographic detection and endoscopic removal. Eur J Radiol. 1993;16:198-200. 8. Ruszniewski P, Delle Fave G, Cadiot G, et al. Well-differentiated gastric tumors/carcinomas. Neuroendocrinology. 2006;84:158-64. 9. Kim H, Kim JH, Lim JS, et al. MRI findings of rectal submucosal tumors. Korean J Radiol. 2011;12:487-98. 1. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil; a. https://orcid.org/0000-0002-2706-005X 2. Instituto D''Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 3. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil; b. https://orcid.org/0000-0003-0031-5785 4. Instituto D''Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 5. Instituto D''Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; c. https://orcid.org/0000-0002-7026-2095 6. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil; d. https://orcid.org/0000-0002-6272-4253 7. Instituto D''Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Correspondência: Dr. Leandro Lucas Lima Universidade Federal do Rio de Janeiro - Radiologia Rua Rodolpho Paulo Rocco, 255, Cidade Universitária Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 21941-901 E-mail: limalucasleandro@gmail.com Recebido para publicação em 30/8/2017 Aceito, após revisão, em 3/11/2017 |