Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 52 nº 2 - Mar. / Abr.  of 2019

CARTAS AO EDITOR
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Page(s) 134 to 135



Abscesso hepático piogênico tardio após embolização de adenoma

Autho(rs): Thiago Franchi Nunes1,a; Fabio Colagrossi Paes Barbosa2,b; Tiago Kojun Tibana3,c; Edson Marchiori4,d

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Sr. Editor,

Paciente do sexo feminino, 28 anos de idade, em uso de anticoncepcional oral (ACO) por 10 anos, com múltiplos tumores isoatenuantes ao parênquima hepático na fase pré-contraste, com realce homogêneo na fase arterial e novamente isoatenuante ao parênquima hepático nas fases subsequentes (Figura 1A). O exame anatomopatológico confirmou o diagnóstico de adenoma. O maior tumor, de aproximadamente 10 cm, comprimia a veia cava inferior, dificultando a abordagem cirúrgica, e apresentava alto risco de complicações intraoperatórias. Optou-se pela embolização arterial, realizada com sucesso, não se observando vascularização na tomografia computadorizada (TC) de controle. Após sete meses, a paciente retornou com queixa de dor abdominal, febre diária e perda de peso. Ressonância magnética (RM) demonstrou coleção na região do adenoma, compatível com abscesso (Figura 1B). Foi realizada drenagem percutânea guiada por ultrassonografia (US), com drenagem de 800 mL de secreção purulenta (Figura 1C). Foram instituídas antibioticoterapia e lavagem do abscesso com solução salina por sete dias e a paciente evoluiu com resolução completa do quadro. RM de controle realizada seis meses após a drenagem percutânea demonstrou sucesso no tratamento (Figura 1D).


Figura 1. A: R M d e a bdome p réembolização demonstrando lesão hipervascular medindo cerca de 10 cm, cuja análise histológica confirmou adenoma hepático com marcador beta-catenina positivo. B: RM de abdome seis meses após a embolização demonstrando conteúdo gasoso no interior da lesão tratada. C: Drenagem percutânea guiada por ultrassom da coleção/abscesso hepático. D: RM de abdome de controle, feita seis meses após o tratamento percutâneo do abscesso hepático.



O adenoma hepatocelular (AHC) é um tumor benigno raro do fígado, geralmente observado em mulheres em idade reprodutiva, associado ao uso de ACOs(1). A incidência anual é de 3-4/100.000 mulheres que utilizam contraceptivo oral durante um período de tempo. Sangramento ocorre em cerca de 25% das pacientes com AHC e esse risco aumenta com o aumento do diâmetro do tumor. Transformação maligna ocorre em até 4% de todos os AHCs(2,3). Este risco também aumenta com o diâmetro do tumor e a excisão geralmente é recomendada para tumores que permanecem com mais de 5 cm de diâmetro após interrupção do ACO(4).

A embolização transarterial (ETA) é amplamente utilizada para adenomas sangrantes, podendo também ser realizada antes da cirurgia eletiva para reduzir a perda de sangue intraoperatória. Redução de tamanho também pode ser alcançada em grandes e múltiplos AHCs, ou nos com localização desfavorável para realização da cirurgia, com objetivo de reduzir sintomas e risco de sangramento(5-7). Como o risco de transformação maligna aumenta com o tamanho do adenoma(7), a ETA pode reduzir esse risco. O papel da ETA no AHC como terapia eletiva é, no entanto, pouco claro, pois não se sabe se previne o risco de hemorragia ou transformação maligna do AHC remanescente, apesar das descrições da redução no tamanho do tumor(8).

A complicação mais comum da ETA no AHC é a síndrome pós-embolização, seguida de insuficiência renal transitória e formação de cistos(8). No presente caso, a paciente evoluiu com abscesso hepático tardio pós-embolização de adenoma, complicação ainda não relatada na literatura. O tratamento do abscesso hepático piogênico inclui antibioticoterapia intravenosa associada a drenagem percutânea guiada por US ou TC.

A ETA aguda ou eletiva no manejo do AHC parece segura. ETA eletiva oferece uma opção razoável à cirurgia, considerando suas propriedades minimamente invasivas e poupadoras de parênquima e a capacidade de reduzir o tamanho dos tumores localizados em posição anatômica que dificulte a cirurgia.


REFERÊNCIAS

1. Edmondson HA, Henderson B, Benton B. Liver-cell adenomas associated with use of oral contraceptives. N Engl J Med. 1976;294:470-2.

2. Søe KL, Søe M, Gluud C. Liver pathology associated with the use of anabolic-androgenic steroids. Liver. 1992;12:73-9.

3. Ault GT, Wren SM, Ralls PW, et al. Selective management of hepatic adenomas. Am Surg. 1996;62:825-9.

4. Rooks JB, Ory HW, Ishak KG, et al. Epidemiology of hepatocellular adenoma. The role of oral contraceptive use. JAMA. 1979;242:644-8.

5. Agrawal S, Agarwal S, Arnason T, et al. Management of hepatocellular adenoma: recent advances. Clin Gastroenterol Hepatol. 2015;13:1221-30.

6. Nasser F, Affonso BB, Galastri FL, et al. Minimally invasive treatment of hepatic adenoma in special cases. Einstein (Sao Paulo). 2013;11:524-7.

7. Erdogan D, Busch OR, van Delden OM, et al. Management of spontaneous haemorrhage and rupture of hepatocellular adenomas. A single centre experience. Liver Int. 2006;26:433-8.

8. van Rosmalen BV, Coelen RJS, Bieze M, et al. Systematic review of transarterial embolization for hepatocellular adenomas. Br J Surg. 2017;104:823-35.










1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; a. https://orcid.org/0000-0003-0006-3725
2. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; b. https://orcid.org/0000-0002-0885-6298
3. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil; c. https://orcid.org/0000-0001-5930-1383
4. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil; d. https://orcid.org/0000-0001-8797-7380

Correspondência:
Dr. Edson Marchiori
Rua Thomaz Cameron, 438, Valparaiso
Petrópolis, RJ, Brasil, 25685-120
E-mail: edmarchiori@gmail.com

Recebido para publicação em 21/8/2017
Aceito, após revisão, em 16/10/2017
 
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