Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 52 nº 1 - Jan. / Fev.  of 2019

CARTAS AO EDITOR
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Page(s) 60 to 61



Acometimento suprasselar isolado por tuberculose: achados na ressonância magnética

Autho(rs): Bernardo Carvalho Muniz1,a; Bruno Niemeyer de Freitas Ribeiro2,b; Nina Ventura3,c; Emerson Leandro Gasparetto4,d; Edson Marchiori5,e

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Sr. Editor,

Paciente com dois anos de idade, feminina, encaminhada com cefaleia holocraniana, letargia e queda do estado geral há aproximadamente um mês. Ressonância magnética (RM) do crânio demonstrou lesão expansiva suprasselar, lobulada, heterogênea, predominantemente isointensa em T1 e hipointensa em T2, sem restrição à difusão e com realce intenso pelo meio de contraste, às vezes com áreas de captação anelar, notando-se ainda importante ectasia dos ventrículos laterais por provável obstrução do terceiro ventrículo (Figura 1). Tomografias computadorizadas do tórax e do abdome não demonstraram alterações. Realizado estudo histopatológico, que demonstrou processo inflamatório crônico granulomatoso com necrose caseosa, sendo individualizados, ainda, bacilos álcool-ácido resistentes, confirmando o diagnóstico de tuberculose suprasselar.


Figura 1. RM. A: T2, plano axial, demonstrando lesão suprasselar hipointensa (seta) e redução volumétrica do lobo temporal direito. B: Sequência funcional pesada em difusão, plano axial, demonstrando ausência de difusibilidade restrita da lesão (seta). C: T1, plano sagital, pós-contraste, mostrando intenso realce pelo meio de contraste da lesão, às vezes apresentando áreas com captação anelar (seta). Observar, ainda, dilatação do ventrículo lateral (asterisco). D: Perfusão, plano axial sobreposto sob T1 pós-contraste, mostrando aumento do volume sanguíneo cerebral.



A literatura radiológica brasileira vem, recentemente, ressaltando a importância dos exames de RM no aprimoramento do diagnóstico do sistema nervoso central(1-4). A tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, que ainda é frequente em países subdesenvolvidos, como o Brasil. Os pulmões são os principais órgãos acometidos, seguidos das pleuras, linfonodos e sistema osteoarticular. O sistema nervoso central é acometido em 0,15-5%, sendo a meningite a sua principal forma de manifestação, ocorrendo em 95% dos casos(5,6). O envolvimento selar e parasselar é ainda mais raro, sendo na maioria dos casos proveniente de disseminação hematogênica a partir de uma fonte primária, geralmente pulmonar(5). Clinicamente, pode manifestar-se com defeitos de campo visual, hipopituitarismo e diabetes insipidus central(7).

Na RM, a maioria das lesões apresenta-se com iso/hipointensidade em T1 e hiperintensidade em T2, porém, há relatos de lesões com hipointensidade em T2, sendo justificado pela variação no grau de hidratação da lesão(5-8). Além disso, o grau de celularidade e do conteúdo dessas lesões permite encontrar ausência ou presença de difusibilidade restrita nas sequências funcionais em difusão. Após a administração intravenosa do meio de contraste, é comum captação, às vezes assumindo aspecto anelar(5-8). Aumento do volume sanguíneo cerebral na perfusão por RM pode ocorrer, com redução gradativa deste achado depois da instituição de tratamento medicamentoso(9).

O diagnóstico é feito pela identificação de bacilos álcool-ácido resistentes na amostra da lesão, entretanto, achados histopatológicos típicos (processo inflamatório granulomatoso e necrose caseosa), em áreas endêmicas, são o suficiente para a definição diagnóstica(5,8). O diagnóstico diferencial é amplo, no entanto, nessa faixa etária e localização, os principais são: craniofaringiomas, astrocitomas, germinomas, histiocitose de células de Langerhans e vasculite associada a infartos(8).

O tratamento é realizado com esquema antituberculoso diferenciado, composto por dois meses de rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, seguido de sete meses de rifampicina e isoniazida associadas a corticosteroides(10). Cirurgia descompressiva pode ser necessária em casos de hidrocefalia ou compressão de estruturas nobres, como o quiasma óptico(5,7).

Concluindo, apesar de raro, o diagnóstico de tuberculose deve ser considerado nas lesões suprasselares, em especial quando há realce anelar pelo meio de contraste na RM, em zonas endêmicas da doença.


REFERÊNCIAS

1. Niemeyer B, Muniz BC, Gasparetto EL, et al. Congenital Zika syndrome and neuroimaging findings: what do we know so far? Radiol Bras. 2017;50:314-22.

2. Duarte SBL, Oshima MM, Mesquita JVA, et al. Magnetic resonance imaging findings in central nervous system cryptococcosis: comparison between immunocompetent and immunocompromised patients. Radiol Bras. 2017;50:359-65.

3. Leite CC, Valente KDR, Fiore LA, et al. Proton spectroscopy of the thalamus in a homogeneous sample of patients with easy-to-control juvenile myoclonic epilepsy. Radiol Bras. 2017;50:279-84.

4. Jugpal TS, Dixit R, Garg A, et al. Spectrum of findings on magnetic resonance imaging of the brain in patients with neurological manifestations of dengue fever. Radiol Bras. 2017;50:285-90.

5. Joshi VP, Agrawal A, Mudkanna A, et al. Supra-sellar tubercular abscess. Asian J Neurosurg. 2016;11:175-6.

6. Singh J, Kharosekar H, Vernon Velho MC. An unusual intraventricular lesion - septum pellucidum tuberculoma. J Spine Neurosurg. 2014;3:1-3.

7. Garg K, Gurjar H, Chandra PS, et al. Suprasellar tuberculoma. Br J Neurosurg. 2014;28:562-3.

8. Behari S, Shinghal U, Jain M, et al. Clinicoradiological presentation, management options and a review of sellar and suprasellar tuberculomas. J Clin Neurosci. 2009;16:1560-6.

9. Kim JK, Jung TY, Lee KH, et al. Radiological follow-up of a cerebral tuberculoma with a paradoxical response mimicking a brain tumor. J Korean Neurosurg Soc. 2015;57:307-10.

10. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.










1. Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer - Departamento de Radiologia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; a. https://orcid.org/0000-0003-1483-2758
2. Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer - Departamento de Radiologia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; b. https://orcid.org/0000-0002-1936-3026
3. Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer - Departamento de Radiologia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; c. https://orcid.org/0000-0003-2364-1612
4. Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer - Departamento de Radiologia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; d. https://orcid.org/0000-0001-5764-6724
5. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil; e. https://orcid.org/0000-0001-8797-7380


Correspondência:
Dr. Bernardo Carvalho Muniz
Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer - Departamento de Radiologia
Rua do Resende, 156, Centro
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 20231-092
E-mail: bernardocmuniz@yahoo.com.br

Recebido para publicação em 28/05/2017
Aceito, após revisão, em 28/07/2017
 
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