CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Alexandre Ferreira da Silva |
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Sr. Editor,
As infecções congênitas do sistema nervoso central estão ligadas à presença de calcificações intracranianas patológicas, e nas infecções virais a associação com malformações da organogênese cerebral são comuns, em particular quando acometem o primeiro trimestre gestacional(1–5). Calcificações intracranianas com malformações encefálicas têm sido relatadas na citomegalovirose, na rubéola congênita e mais recentemente em associação com o vírus Zika(1,2,4,5). Nos casos de toxoplasmose congênita, as calcificações são vistas em 50% a 80% dos casos e a hidrocefalia é um achado comum, porém, defeitos da organogênese induzidos por agentes etiológicos não virais são excepcionais(3,4). No período neonatal, o diagnóstico de citomegalovirose congênita pode ser simples em uma criança com infecção ativa apresentando febre, icterícia, hepatoesplenomegalia, anemia, trombocitopenia e retinopatia. Já na infecção pelo vírus Zika, a microcefalia é o aspecto clínico central(2,3,6,7). A apresentação característica das calcificações encefálicas na citomegalovirose congênita pode ser definida. As calcificações são comumente periventriculares, na região ependimária ou subependimal e vistas como pontos ou linhas ou, às vezes, delineando os ventrículos. Pontos de calcificação nos gânglios basais, substância branca ou córtex podem ocorrer e frequentemente são assimétricos(1–5). A rubéola congênita é muito rara no Brasil, mas é vista ocasionalmente. Os achados radiológicos são semelhantes aos da infecção por citomegalovírus. Frequentemente, estão presentes anomalias da substância branca e calcificação periventriculares, além de calcificações nos gânglios basais(4). Diferindo da distribuição tipicamente periventricular vista em outros processos infecciosos congênitos virais associados com malformações encefálicas, o vírus Zika parece produzir calcificações subcorticais (Figura 1). Figura 1. Tomografia computadorizada do crânio sem introdução de contraste venoso em recémnascido de um dia, com lesões atribuídas ao vírus Zika, demonstrando calcificações intracranianas patológicas subcorticais e microcefalia com aspecto comprometido dos sulcos cerebrais, malformação dos opérculos, acentuada redução do volume da substância branca cerebral e dilatação ventricular. A associação entre calcificações intracranianas, infecções congênitas e malformações do sistema nervoso central é ampla e exige a observância de alguns aspectos. A microcefalia congênita pode ser dividida em duas categorias principais: primária e secundária (adquirida). Alguns pacientes com microcefalia congênita primária têm sido descritos como tendo cérebros congenitamente pequenos, mas arquitetonicamente normais, o que não ocorre nos casos de microcefalia associada com malformações da diverticulação e clivagem, como a holoprosencefalia, ou em defeitos corticais cerebrais, como a lissencefalia, normalmente associados a retardo mental não progressivo de causa presumidamente genética. Em contraste, advoga-se que nas microcefalias adquiridas como resultado de um dano cerebral, tais quais as associadas com lesão hipóxico-isquêmica, infecção congênita do sistema nervoso central ou doença metabólica, o tamanho da cabeça pode ser inicialmente normal, mas diminui como resultado da lesão cerebral; todavia, nos casos de infecção pelo vírus Zika, crianças de um dia já apresentavam as características de microcefalia e calcificações cerebrais presentes, com simplificação das circunvoluções cerebrais (Figura 2). Figura 2. Tomografia computadorizada do crânio sem introdução de contraste venoso em criança de quatro meses, com lesões atribuídas ao vírus Zika, mostrando calcificações intracranianas patológicas subcorticais, microcefalia e dilatação ventricular, com simplificação do padrão das circunvoluções cerebrais. As causas de calcificações intracranianas patológicas na criança são diversas, mas a associação com microcefalia e defeitos da organogênese cerebral, especialmente relacionados com o comprometimento da migração neuronal, são fortes indícios de infecção congênita do sistema nervoso central por agentes virais, e o predomínio subcortical das calcificações deve despertar o radiologista para considerar a hipótese de acometimento relacionado ao vírus Zika. REFERÊNCIAS 1. Teissier N, Fallet-Bianco C, Delezoide AL, et al. Cytomegalovirus-induced brain malformations in fetuses. J Neuropathol Exp Neurol. 2014;73:143–58. 2. Soares de Oliveira-Szejnfeld P, Levine D, Melo ASO, et al. Congenital brain abnormalities and Zika virus: what the radiologist can expect to see prenatally and postnatally. Radiology. 2016;281:203–18. 3. Adachi Y, Poduri A, Kawaguch A, et al. Congenital microcephaly with a simplified gyral pattern: associated findings and their significance. AJNR Am J Neuroradiol. 2011;32:1123–9. 4. Livingston JH, Stivaros S, Warren D, et al. Intracranial calcification in childhood: a review of aetiologies and recognizable phenotypes. Dev Med Child Neurol. 2014;56:612–26. 5. Fink KR, Thapa MM, Ishak GE, et al. Neuroimaging of pediatric central nervous system cytomegalovirus infection. Radiographics. 2010;30:1779– 96. 6. Niemeyer B, Muniz BC, Gasparetto EL, et al. Congenital Zika syndrome and neuroimaging findings: what do we know so far? Radiol Bras. 2017;50:314–22. 7. Rafful P, Souza AS, Tovar-Moll F. The emerging radiological features of Zika virus infection. Radiol Bras. 2017;50(6):vii–viii. Ecotomo S/S Ltda., Belém, PA, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Alexandre Ferreira da Silva Ecotomo S/S Ltda Rua Bernal do Couto, 93, ap. 1202, Umarizal Belém, PA, Brasil, 66055-080 E-mail: alexandreecotomo@oi.com.br |