CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Diogo Costa Leandro de Oliveira1; Eduardo Oliveira Pacheco1; Larissa Teixeira Ramos Lopes2; Claudio Calazan do Carmo3; Alessandro Severo Alves de Melo1 |
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Sr. Editor,
Paciente masculino, 18 anos, admitido no hospital com tosse e cansaço há 15 dias. Na ausculta cardíaca apresentava abafamento de bulhas. A radiografia de tórax obtida na admissão demonstrou aumento da área cardíaca e moderado derrame pleural à direita. Foi realizado ecocardiograma, que mostrou importante derrame pericárdico com sinais de restrição diastólica e uma massa hipoecoica, arredondada, de contornos regulares, medindo 3,6 × 3,9 cm, localizada posteriormente ao átrio direito. O paciente foi submetido a pericardiocentese, com análise do líquido coletado. Na sequência investigatória do caso foram solicitadas tomografia computadorizada (TC) de tórax e ressonância magnética cardíaca (RMC). A TC de tórax (Figura 1) revelou massa sólida, heterogênea, com realce pelo meio de contraste, localizada na porção posterior do saco pericárdico, associada a derrame pericárdico e derrame pleural. Na RMC (Figura 2) foi observada massa sólida, com conteúdo heterogêneo, medindo 3,2 × 6,1 × 3,9 cm, localizada na porção posterior do saco pericárdico e com pontos de aderência a este, com captação importante e heterogênea do contraste pela técnica de realce tardio, além de inflamação pericárdica. Com base nos achados de imagem sugestivos de neoplasia e no resultado citológico do líquido pericárdico inconclusivo, foi optado por se realizar ressecção cirúrgica da massa. O diagnóstico do estudo histopatológico da peça cirúrgica foi sinoviossarcoma de pericárdio. Após um mês de internação, o paciente obteve alta hospitalar e está em seguimento oncológico ambulatorial. Figura 1. TC de tórax com contraste, cortes coronal (A) e axial (B) na janela para mediastino, demonstrando massa sólida heterogênea com realce pelo meio de contraste localizada na porção posterior do saco pericárdico, associada a derrame pericárdico e derrame pleural à direita com dreno pleural associado. Figura 2. RMC no eixo curto utilizando a técnica do realce tardio (A) e no eixo longo (B) demonstrando massa sólida, com conteúdo heterogêneo, medindo 3,2 × 6,1 × 3,9 cm, localizada na porção posterior do saco pericárdico e com pontos de aderência a este, com realce importante e heterogêneo do contraste pela técnica de realce tardio, além de inflamação pericárdica. A RMC vem assumindo papel crescente no estudo das doenças cardiovasculares(1-4). O sinoviossarcoma de pericárdio é um tumor maligno primário do pericárdio histologicamente semelhante à sinóvia, que se origina de células mesenquimais(5). É uma doença extremamente rara, com prevalência ainda incerta e discreto predomínio em jovens do sexo masculino(6). Os sintomas são variados, desde ausência de sintomas até derrame pericárdico com tamponamento cardíaco, dispneia, febre, perda de peso e fenômenos embólicos(7). O prognóstico do sinoviossarcoma de pericárdio é ruim, entretanto, alguns pacientes podem se beneficiar da ressecção cirúrgica, radioterapia e/ou quimioterapia(8,9). A suposição diagnóstica nos pacientes assintomáticos baseia-se em lesões incidentais encontradas em exames de imagem cardíacos, e nos pacientes sintomáticos a suposição diagnóstica surge com exames de imagem direcionados, porém, a confirmação só pode ser estabelecida com análise histopatológica(6,8). Apesar de a imagem tumoral ser inespecífica no ecocardiograma, este é fundamental para a detecção inicial da doença, quantificação do derrame pericárdico, avaliação da função e restrição cardíaca, além de permitir análise comparativa com os posteriores exames de seguimento(10). Na TC e na RMC observa-se massa sólida, heterogênea, com áreas multiloculadas(11) e septos internos, podendo apresentar invasão das estruturas adjacentes, derrame pericárdico e focos de metástases. A RMC é considerada a melhor modalidade para detecção e caracterização do tumor, sendo possível observar o grau de vascularização, detalhar melhor a invasão cardíaca, de necrose, e permitir controle no pós-tratamento(10,12). Nesse contexto, pode-se concluir que, embora os exames de imagem não confirmem o diagnóstico, eles possuem papel fundamental na detecção, na caracterização e no planejamento pré-operatório e pós-operatório do sinoviossarcoma de pericárdio. REFERÊNCIAS 1. Assunção FB, Oliveira DCL, Souza VF, et al. Cardiac magnetic resonance imaging and computed tomography in ischemic cardiomyopathy: an update. Radiol Bras. 2016;49:26-34. 2. Rochitte CE. Cardiac MRI and CT: the eyes to visualize coronary arterial disease and their effect on the prognosis explained by the Schrödinger''s cat paradox. Radiol Bras. 2016;49(1):vii-viii. 3. Faistauer A, Torres FS, Faccin CS. Right aortic arch with aberrant left innominate artery arising from Kommerell''s diverticulum. Radiol Bras. 2016;49:264-6. 4. Avelino MC, Miranda CLVM, Sousa CSM, et al. Free-floating thrombus in the aortic arch. Radiol Bras. 2017;50:406-7. 5. Bezerra SG, Brandão AA, Albuquerque DC, et al. Pericardial synovial sarcoma: case report and literature review. Arq Bras Cardiol. 2013;101: e103-e106. 6. Cheng Y, Sheng W, Zhou X, et al. Pericardial synovial sarcoma, a potential for misdiagnosis: clinicopathologic and molecular cytogenetic analysis of three cases with literature review. Am J Clin Pathol. 2012;137:142-9. 7. Chekrine T, Sahraoui S, Cherkaoui S, et al. Primary pericardial synovial sarcoma: a case report and literature review. JC Cases. 2014;9:40-3. 8. Salah S, Salem A. Primary synovial sarcomas of the mediastinum: a systematic review and pooled analysis of the published literature. ISRN Oncol. 2014;2014:412527. 9. Anand AK, Khanna A, Sinha SK, et al. Pericardial synovial sarcoma. Clin Oncol (R Coll Radiol). 2003;15:186-8. 10. Goldblatt J, Saxena P, McGiffin DC, et al. Pericardial synovial sarcoma: a rare clinical entity. J Card Surg. 2015;30:801-4. 11. Wu X, Chen R, Zhao B. Pericardial synovial sarcoma in a dyspnoeic female with tuberculous pericarditis: a case report. Oncol Lett. 2013;5:1973-5. 12. Restrepo CS, Vargas D, Ocazionez D, et al. Primary pericardial tumors. Radiographics. 2013;33:1613-30. 1. Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil 2. Hospital Niterói D’Or, Niterói, RJ, Brasil 3. Grupo Oncologia D’Or, Niterói, RJ, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Alessandro Severo Alves de Melo Hospital Universitário Antonio Pedro Rua Marques de Paraná, 303, 2º andar, Centro Niterói, RJ, Brasil, 24033-900 E-mail: alesevero@gmail.com |