CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Francisco Barbosa de Araújo Neto; Vinícius Martins Valois; Marco Vinícius Dias; Sérgio Furlan; Dalton Yukio Araújo Fugita |
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Sr. Editor,
Paciente do sexo feminino, 22 anos de idade, procurou o serviço com queixa de abaulamento progressivo da região retroauricular esquerda associado a dor de leve intensidade, iniciada há três anos, sem necessidade de uso de analgésicos e sem outras queixas. Relatou, ainda, que sofrera traumatismo craniano por acidente automobilístico aos seis meses de idade. A tomografia e a ressonância de crânio diagnosticaram cisto leptomeníngeo intraósseo (Figura 1). Figura 1. A: Tomografia computadorizada axial (janela óssea) mostrando remodelamento cístico e insuflativo das porções mais posteriores da mastoide do osso temporal esquerdo, com afilamento da tábua externa, sem rotura. B: Ressonância magnética com sequência FIESTA no plano coronal demonstrando comunicação cística leptomeníngea, que se estende do ventrículo lateral esquerdo, através da fossa craniana média, em direção ao osso temporal esquerdo. C: Ressonância magnética com sequência T2 turbo spin eco demonstrando formação cística leptomeníngea, com abaulamento e insuflação do osso temporal esquerdo, bem como pequena insinuação ao clívus. D: Ressonância magnética com sequência T1 pós-contraste mostrando formação cística leptomeníngea, sem evidências de realces anômalos ou de lesões expansivas sólidas associadas. Cistos leptomeníngeos intradiploicos pós-traumáticos são complicações extremamente raras de fraturas na calota craniana que ocorrem em pacientes pediátricos(1). O primeiro caso foi relatado por Weinand et al. em 1989(2). Foram também chamados de cistos leptomeníngeos intraósseos(3), pseudomeningocele intradiploica pós-traumática(4), entre outros. Esses cistos são caracterizados por fratura da tábua interna e laceração da dura-máter, com acúmulo de líquor em uma "bolsa" revestida por membrana aracnoide e situada dentro do espaço diploico. A região occipital é o local mais comum dos cistos, mas também foram relatados em outras regiões do crânio(5). A apresentação clínica é totalmente variável, desde pacientes assintomáticos até pacientes com deformidades da calota craniana e queixas neurológicas sobrepostas. A fisiopatologia mais aceita para a lesão é a de herniação das leptomeninges para o espaço intradiploico através de falhas pós-traumáticas da dura-máter e tábua craniana interna. O cisto leptomeníngeo intradiploico pode levar várias semanas a vários anos para se desenvolver e se manifestar após o incidente traumático(6). Os efeitos de pressão e de válvula devidos ao crescimento do cérebro da criança, associados a pulsações liquóricas contínuas, agem como forças expansivas que facilitam a formação e o crescimento do cisto intradiploico ao longo dos anos, com desgaste e remodelamento da tábua óssea externa(7,8). As ferramentas radiológicas para o diagnóstico do cisto leptomeníngeo são úteis para a avaliação de defeitos cranianos e lesões cerebrais associadas. A radiografia simples de crânio mostra expansão do espaço diploico, com a tábua externa preservada. A tomografia computadorizada do crânio avalia a extensão do defeito ósseo e a tábua externa, auxiliando no planejamento cirúrgico. A ressonância magnética do crânio é a modalidade de escolha e é valiosa para a distinção de outras lesões, como o cisto dermoide e o cisto epidermoide(4). Os diagnósticos diferenciais incluem, ainda, lesões ósseas como mieloma, metástases e granuloma eosinofílico, além do cisto aracnoide intradiploico, que geralmente é congênito e se apresenta com cefaleia, edema, convulsões ou déficit neurológico. Radiologicamente, torna-se difícil distinguir entre o cisto aracnoide intradiploico e o cisto leptomeníngeo intradiploico pós-traumático, sendo necessária uma história de trauma, geralmente na região occipital, para favorecer o diagnóstico deste último. A intervenção cirúrgica é a base do tratamento do cisto leptomeníngeo e as indicações para a cirurgia incluem grandes deformidades craniofaciais e cefaleia persistente(4,7). O procedimento cirúrgico envolve duroplastia seguida por cranioplastia com enxerto de calota craniana. Concluindo, inferimos que o cisto leptomeníngeo intradiploico pós-traumático é uma consequência rara, de sintomas neurológicos variáveis, ocorrendo secundariamente a traumas da calota craniana na infância. É importante o conhecimento dessa lesão e o diagnóstico precoce, pois a intervenção cirúrgica, quando cabível, pode evitar sequelas neurológicas futuras. REFERÊNCIAS 1. Scarfò GB, Mariottini A, Tomaccini D, et al. Growing skull fractures: progressive evolution of brain damage and effectiveness of surgical treatment. Childs Nerv Syst. 1989;5:163–7. 2. Weinand ME, Rengachary SS, McGregor HD, et al. Intradiploic arachnoid cysts. Report of two cases. J Neurosurg. 1989;70:954–8. 3. Dunkser SB, Mccreary DH. Leptomeningeal cyst of the posterior fossa. Case report. J Neurosurg. 1971;34:687–92. 4. Agrawal D, Mishra S. Post-traumatic intradiploic pseudomeningocele. Indian Pediatr. 2010;47:271–3. 5. Tandon PN, Banerji AK, Bhatia R, et al. Cranio-cerebral erosion (growing fracture of the skull in children). Part II. Clinical and radiological observations. Acta Neurochir (Wien). 1987;88:1–9. 6. Saito A, Sugawara T, Akamatsu Y, et al. Adult traumatic leptomeningeal cyst: case report. Neurol Med Chir (Tokyo). 2009;49:62–5. 7. Mahapatra AK, Tandon PN. Post-traumatic intradiploic pseudomeningocele in children. Acta Neurochir (Wien). 1989;100:120–6. 8. Seo BR, Lee JK, Jeong IH, et al. Post-traumatic intradiploicleptomeningeal cyst of the posterior fossa in an adult. J Clin Neurosci. 2009;16:1367–9. Hospital Heliópolis – Radiologia, São Paulo, SP, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Francisco Barbosa de Araújo Neto Rua Pedro de Toledo, 541, Vila Clementino São Paulo, SP, Brasil, 04039-031 E-mail: bilbanmaster@gmail.com |