Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 51 nº 2 - Mar. / Abr.  of 2018

CARTAS AO EDITOR
Print 

Page(s) 126 to 127



Cisto leptomeníngeo intraósseo pós-traumático

Autho(rs): Francisco Barbosa de Araújo Neto; Vinícius Martins Valois; Marco Vinícius Dias; Sérgio Furlan; Dalton Yukio Araújo Fugita

PDF Português      

PDF English

Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Paciente do sexo feminino, 22 anos de idade, procurou o serviço com queixa de abaulamento progressivo da região retroauricular esquerda associado a dor de leve intensidade, iniciada há três anos, sem necessidade de uso de analgésicos e sem outras queixas. Relatou, ainda, que sofrera traumatismo craniano por acidente automobilístico aos seis meses de idade. A tomografia e a ressonância de crânio diagnosticaram cisto leptomeníngeo intraósseo (Figura 1).


Figura 1. A: Tomografia computadorizada axial (janela óssea) mostrando remodelamento cístico e insuflativo das porções mais posteriores da mastoide do osso temporal esquerdo, com afilamento da tábua externa, sem rotura. B: Ressonância magnética com sequência FIESTA no plano coronal demonstrando comunicação cística leptomeníngea, que se estende do ventrículo lateral esquerdo, através da fossa craniana média, em direção ao osso temporal esquerdo. C: Ressonância magnética com sequência T2 turbo spin eco demonstrando formação cística leptomeníngea, com abaulamento e insuflação do osso temporal esquerdo, bem como pequena insinuação ao clívus. D: Ressonância magnética com sequência T1 pós-contraste mostrando formação cística leptomeníngea, sem evidências de realces anômalos ou de lesões expansivas sólidas associadas.



Cistos leptomeníngeos intradiploicos pós-traumáticos são complicações extremamente raras de fraturas na calota craniana que ocorrem em pacientes pediátricos(1). O primeiro caso foi relatado por Weinand et al. em 1989(2). Foram também chamados de cistos leptomeníngeos intraósseos(3), pseudomeningocele intradiploica pós-traumática(4), entre outros. Esses cistos são caracterizados por fratura da tábua interna e laceração da dura-máter, com acúmulo de líquor em uma "bolsa" revestida por membrana aracnoide e situada dentro do espaço diploico. A região occipital é o local mais comum dos cistos, mas também foram relatados em outras regiões do crânio(5). A apresentação clínica é totalmente variável, desde pacientes assintomáticos até pacientes com deformidades da calota craniana e queixas neurológicas sobrepostas.

A fisiopatologia mais aceita para a lesão é a de herniação das leptomeninges para o espaço intradiploico através de falhas pós-traumáticas da dura-máter e tábua craniana interna. O cisto leptomeníngeo intradiploico pode levar várias semanas a vários anos para se desenvolver e se manifestar após o incidente traumático(6). Os efeitos de pressão e de válvula devidos ao crescimento do cérebro da criança, associados a pulsações liquóricas contínuas, agem como forças expansivas que facilitam a formação e o crescimento do cisto intradiploico ao longo dos anos, com desgaste e remodelamento da tábua óssea externa(7,8).

As ferramentas radiológicas para o diagnóstico do cisto leptomeníngeo são úteis para a avaliação de defeitos cranianos e lesões cerebrais associadas. A radiografia simples de crânio mostra expansão do espaço diploico, com a tábua externa preservada. A tomografia computadorizada do crânio avalia a extensão do defeito ósseo e a tábua externa, auxiliando no planejamento cirúrgico. A ressonância magnética do crânio é a modalidade de escolha e é valiosa para a distinção de outras lesões, como o cisto dermoide e o cisto epidermoide(4). Os diagnósticos diferenciais incluem, ainda, lesões ósseas como mieloma, metástases e granuloma eosinofílico, além do cisto aracnoide intradiploico, que geralmente é congênito e se apresenta com cefaleia, edema, convulsões ou déficit neurológico. Radiologicamente, torna-se difícil distinguir entre o cisto aracnoide intradiploico e o cisto leptomeníngeo intradiploico pós-traumático, sendo necessária uma história de trauma, geralmente na região occipital, para favorecer o diagnóstico deste último.

A intervenção cirúrgica é a base do tratamento do cisto leptomeníngeo e as indicações para a cirurgia incluem grandes deformidades craniofaciais e cefaleia persistente(4,7). O procedimento cirúrgico envolve duroplastia seguida por cranioplastia com enxerto de calota craniana.

Concluindo, inferimos que o cisto leptomeníngeo intradiploico pós-traumático é uma consequência rara, de sintomas neurológicos variáveis, ocorrendo secundariamente a traumas da calota craniana na infância. É importante o conhecimento dessa lesão e o diagnóstico precoce, pois a intervenção cirúrgica, quando cabível, pode evitar sequelas neurológicas futuras.


REFERÊNCIAS

1. Scarfò GB, Mariottini A, Tomaccini D, et al. Growing skull fractures: progressive evolution of brain damage and effectiveness of surgical treatment. Childs Nerv Syst. 1989;5:163–7.

2. Weinand ME, Rengachary SS, McGregor HD, et al. Intradiploic arachnoid cysts. Report of two cases. J Neurosurg. 1989;70:954–8.

3. Dunkser SB, Mccreary DH. Leptomeningeal cyst of the posterior fossa. Case report. J Neurosurg. 1971;34:687–92.

4. Agrawal D, Mishra S. Post-traumatic intradiploic pseudomeningocele. Indian Pediatr. 2010;47:271–3.

5. Tandon PN, Banerji AK, Bhatia R, et al. Cranio-cerebral erosion (growing fracture of the skull in children). Part II. Clinical and radiological observations. Acta Neurochir (Wien). 1987;88:1–9.

6. Saito A, Sugawara T, Akamatsu Y, et al. Adult traumatic leptomeningeal cyst: case report. Neurol Med Chir (Tokyo). 2009;49:62–5.

7. Mahapatra AK, Tandon PN. Post-traumatic intradiploic pseudomeningocele in children. Acta Neurochir (Wien). 1989;100:120–6.

8. Seo BR, Lee JK, Jeong IH, et al. Post-traumatic intradiploicleptomeningeal cyst of the posterior fossa in an adult. J Clin Neurosci. 2009;16:1367–9.










Hospital Heliópolis – Radiologia, São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Francisco Barbosa de Araújo Neto
Rua Pedro de Toledo, 541, Vila Clementino
São Paulo, SP, Brasil, 04039-031
E-mail: bilbanmaster@gmail.com
 
RB RB RB
GN1© Copyright 2024 - All rights reserved to Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
Av. Paulista, 37 - 7° andar - Conj. 71 - CEP 01311-902 - São Paulo - SP - Brazil - Phone: (11) 3372-4544 - Fax: (11) 3372-4554