CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Lilian Fonseca Lima1; Pablo Rydz Pinheiro Santana1; Antonio Carlos Portugal Gomes1 |
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Sr. Editor, Paciente do sexo masculino, 75 anos, foi submetido a radiografia e tomografia computadorizada de tórax (Figura 1) para avaliação pós-operatória de revascularização miocárdica. Pequenas imagens metálicas foram identificadas no tecido subcutâneo da região dorsal, apresentando tamanhos semelhantes, porém formas variadas, algumas lineares e outras com algum grau de curvatura. Esses achados são compatíveis com fragmentos de agulhas de acupuntura. Figura 1. Radiografia de tórax frontal (A) e perfil (B) mostrando pequenas imagens metálicas no tecido subcutâneo da região dorsal e da região supraclavicular, com tamanhos semelhantes e formas variadas, algumas lineares e outras com algum grau de curvatura. C,D: PET/CT, cortes axiais de tomografia computadorizada de tórax revelando pequenas imagens com densidade metálica no tecido subcutâneo, predominando na região dorsal. A acupuntura tradicional chinesa é uma prática milenar, introduzida no meio médico brasileiro há cerca de 40 anos, amplamente utilizada nos dias atuais para prevenção e tratamento da dor crônica. Consiste na inserção de agulhas no tecido subcutâneo, que permanecem por até 15 minutos e são totalmente removidas após esse período(1). Em algumas modalidades de acupuntura as agulhas são inseridas no tecido subcutâneo e a parte protuberante de cada uma delas é cortada, e dessa forma os fragmentos restantes são ali mantidos permanentemente, proporcionando estímulo neurológico contínuo(2). As agulhas possuem cerca de 1 mm de diâmetro e no máximo 1,5 cm de comprimento(3). O material dessas agulhas é preferencialmente o ouro, podendo ser prata ou aço inoxidável. O número de fragmentos é variável, podendo chegar a milhares. Em geral, os fragmentos não causam complicações e aparecem incidentalmente nos exames de imagem. Apresentam-se como pequenas imagens metálicas retas, curvilíneas ou semicirculares, com tamanhos semelhantes, podendo ser confundidos com suturas ou clipes metálicos. Ocasionalmente, essas estruturas podem formar granulomas de corpo estranho e até mesmo migrar, especialmente em pacientes sem muita gordura subcutânea(4). Apesar de infrequentes, as várias possíveis complicações decorrentes da acupuntura tradicional chinesa foram tema de duas revisões sistemáticas(5,6). Quando graves, habitualmente ocorrem por manipulação imprópria em locais com alto risco de lesão dos órgãos e estruturas adjacentes, destacando-se o pneumotórax, o tamponamento cardíaco e a lesão espinhal(5). Também podem estar relacionadas a quebra incidental das agulhas, inclusive necessitando de remoção cirúrgica em alguns casos(6). Uma revisão da literatura sobre agulhas de acupuntura remanescentes no corpo de pacientes foi realizada, sendo encontrados 29 artigos. Tais artigos descrevem fragmentos que migraram e foram encontrados em diversos locais, como bexiga urinária, cintura escapular, medula espinhal, ventrículo direito, raiz nervosa de L5, bulbo, túnel do carpo, fígado, pâncreas, estômago, cólon, pulmões e rins(7). Nos casos em que os pacientes foram operados, os fragmentos foram removidos sem maiores complicações. Também já foi relatado um aumento da atividade óssea na cintilografia devido a essa terapêutica. A verdadeira prevalência de fragmentos de agulhas de acupuntura permanentes no corpo de pacientes é desconhecida. Muitos deles podem nunca realizar exames de imagem das regiões tratadas. Da mesma forma, a prevalência de complicações relacionadas a essa terapêutica também permanece desconhecida. Ainda há escassez de publicações na literatura médica relacionadas a esse assunto específico. Quando os fragmentos de agulhas retidos aparecem de maneira incidental nos exames de imagem, logo são considerados como curiosidade médica. Portanto, o conhecimento das suas características nos exames de imagem pode ser muito útil para os radiologistas. REFERÊNCIAS 1. Park SM, Shim WJ. A hedgehog-like appearance resulting from Hari acupuncture. CMAJ. 2011;183:E1038. 2. Yoo HG, Yoo WH. Images in clinical medicine. Acupuncture with gold thread for osteoarthritis of the knee. N Engl J Med. 2013;369:e37. 3. Galbraith PJ, Richardson ML. Permanently retained acupuncture needles: radiographic findings and case report. Radiol Case Rep. 2015;1:120–2. 4. Studd RC, Stewart PJ. Images in clinical medicine. Intraabdominal abscess after acupuncture. N Engl J Med. 2004;350:1763. 5. Zhang J, Shang H, Gao X, et al. Acupuncture-related adverse events: a systematic review of the Chinese literature. Bull World Health Organ. 2010;88:915–21C. 6. Wu J, Hu Y, Zhu Y, et al. Systematic review of adverse effects: a further step towards modernization of acupuncture in China. Evid Based Complement Alternat Med. 2015;2015:432467. 7. Lewek P, Lewek J, Kardas P. An acupuncture needle remaining in a lung for 17 years: case study and review. Acupunct Med. 2012;30:229–32. 1. Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo – Medimagem, São Paulo, SP, Brazil Endereço para correspondência: Dra. Lilian Fonseca Lima Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo – Medimagem Rua Maestro Cardim, 769, Bela Vista São Paulo, SP, Brasil, 01323-900 E-mail: lilian.fl87@gmail.com |