CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Renata Mendes da Silva1; Jorge Chaib Neto2; Moaci Ferreira de Morais Júnior2 |
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Sr. Editor,
Paciente feminina, 40 anos, apresentou dor abdominal difusa pós-colecistectomia com exploração de vias biliares por coledocolitíase e foi submetida a tomografia computadorizada (TC) para melhor avaliação. A paciente não apresentava outras comorbidades ou tomava medicamentos. Na TC de abdome com meio de contraste iodado hidrossolúvel e reconstrução 3D (Figuras 1A, 1C e 1D) identificou-se, além de coleções líquidas sugestivas de biloma, massa parenquimatosa reniforme distinta e encapsulada, em posição anterior e junto ao polo inferior do rim direito, com defeito de rotação. A urorressonância magnética, realizada posteriormente, também demonstrou comunicação piélica entre as massas renais homolaterais e ureter único (Figura 1B). Figura 1. A: Imagem de reconstrução 3D de TC de abdome (fase excretora) mostra rim normal à esquerda e rim supranumerário em posição caudal e anterior ao rim direito, havendo comunicação piélica entre eles. B: Imagem de urorressonância magnética (fase excretora) na sequência fat EFGRE ponderada em T2, com reconstrução coronal 3D, mostra comunicação piélica entre o rim direito normal e o rim supranumerário e ureter único. C,D: Imagens de reconstrução coronal e sagital (MIP) de TC de abdome (fase excretora) mostra rim normal à esquerda, e em posição caudal e anterior ao rim direito observa-se massa parenquimatosa reniforme distinta e encapsulada, compatível com rim supranumerário, unidos por ponte de parênquima renal e havendo comunicação piélica entre eles. Anomalias congênitas do sistema urinário têm sido motivo de recentes publicações nacionais(1–3). O rim supranumerário é uma rara anomalia congênita do trato urinário, com menos de 100 casos documentados na literatura mundial, não havendo diferença entre os sexos, com maior ocorrência no lado esquerdo. Devido à sua raridade, geralmente não é diagnosticado antes da quarta década de vida(4,5). Possui cápsula e suprimento sanguíneo próprios, podendo estar totalmente separado do rim homolateral ou a ele unido por tecido fibroso ou ponte de parênquima renal. Em geral, a soma do volume dos fragmentos ipsilaterais é igual ou maior à de um rim normal. Os vasos que irrigam o rim supranumerário se originam geralmente da aorta, sendo a drenagem feita para a veia cava inferior(6,7). As bases embriológicas para explicar a ocorrência de um rim supranumerário não são completamente esclarecidas. Uma das principais teorias é a duplicação total do broto ureteral, com penetração independente no blastema metanefrogênico, que se desenvolve e se divide em dois rins. Outra teoria baseia-se na existência de dois brotos ureterais independentes que penetram no blastema metanefrogênico e este se divide(7). Acredita-se que um rim supranumerário com um ureter que possui sua própria inserção na bexiga reflete uma divisão inicial do mesênquima antes da inserção e da ramificação do botão uretérico. Já um rim supranumerário com um ureter que se funde com o do rim normal provavelmente reflete uma divisão tardia do mesênquima metanéfrico(7). Rins supranumerários podem se apresentar como massas abdominais palpáveis ou associados a nefrolitíase sintomática, hidronefrose, infecção do trato urinário superior ou ainda a tumores renais. No entanto, são geralmente assintomáticos e não afetam a função renal. Assim, podem nunca serem diagnosticados ou serem descobertos incidentalmente(5). REFERÊNCIAS 1. Shigueoka DC. Anatomic variations of the renal arteries, as characterized by computed tomography angiography: rule or exception? Its usefulness in surgical plannning. Radiol Bras. 2016;49(4):vii–viii. 2. Mello Júnior CF, Araujo Neto SA, Carvalho Junior AM, et al. Multidetector computed tomography angiography of the renal arteries: normal anatomy and its variations. Radiol Bras. 2016;49:190–5. 3. Silva RM, Morais Júnior MF, Mont'Alverne Filho FE. Pancake kidney with cysts and a single ureter. Radiol Bras. 2016;49:127–8. 4. Sureka B, Mittal MK, Mittal A, et al. Supernumerary kidneys – a rare anatomic variant. Surg Radiol Anat. 2014;36:199–202. 5. Suresh J, Gnanasekaran N, Dev B. Fused supernumerary kidney. Radiol Case Reports. 2011;6:552. 6. Maranhão CP, Miranda CM, Santos CJ, et al. Congenital upper urinary tract abnormalities: new images of the same diseases. Radiol Bras. 2013;46:43–50. 7. Favorito LA, Morais AR. Evaluation of supernumerary kidney with fusion using magnetic resonance image. Int Braz J Urol. 2012;38:428–9. 1. Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), Teresina, PI, Brasil 2. Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, PI, Brasil. Endereço Endereço para correspondência: Dra. Renata Mendes da Silva Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí – Radiologia. Campus Universitário Ministro Petrônio Portela SG 07, s/n, Ininga Teresina, PI, Brasil, 64049-550 E-mail: renatamendesa20@hotmail.com |