EDITORIAL
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Autho(rs): Sara Reis Teixeira1; Aline Naves2 |
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As causas mais comuns de internações em uma unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN) são prematuridade e/ou baixo peso ao nascer, correspondendo a até 69% das internações em UTINs de referência, inclusive no Brasil(1–4). Complicações respiratórias são causas importantes de mortalidade nas UTINs, notadamente relacionadas ao desconforto respiratório do prematuro(3,4).
No manejo das doenças pulmonares do recém-nascido que necessitam ir para UTIN, a radiografia de tórax tem papel fundamental no diagnóstico inicial, quando ocorre alteração clínica importante do quadro respiratório e é o procedimento padrão para se verificar o posicionamento de sondas, tubos e cateteres(5). Apesar dos avanços tecnológicos do diagnóstico por imagem, com a inclusão nas últimas décadas de diferentes modalidades de exames, a radiografia torácica continua sendo o exame radiológico mais utilizado nas UTINs(6). As atelectasias pulmonares são alterações pulmonares frequentes e podem determinar piora súbita do quadro clínico do neonato com predisposição a complicações infecciosas e necessidade de maior suporte ventilatório(7). A atelectasia pulmonar é um sinal de doença e, de forma isolada, não é sugestiva de um diagnóstico específico, por isso a necessidade da correlação clínica. O tratamento da atelectasia depende da causa, duração e da sua gravidade(8,9). Os principais mecanismos para formação de atelectasias pulmonares são obstrução das vias aéreas, compressão extrínseca e aumento da tensão superficial entre alvéolos e bronquíolos decorrente de deficiência de surfactante(9). As principais doenças que acometem os recém-nascidos cursam com atelectasia pulmonar, dentre elas síndrome do desconforto respiratório, aspiração meconial, pneumonia, derrame pleural e pneumotórax(8). A atelectasia pulmonar também pode ser consequência de complicação relacionada ao posicionamento inadequado da cânula endotraqueal, impedindo assim a adequada ventilação do recém-nascido(10). Portanto, a detecção de falhas de posicionamento da cânula endotraqueal deve suscitar pronta correção(11). Neste número da Radiologia Brasileira, Alvares et al.(12) discutem o papel da radiografia de tórax na avaliação da atelectasia pulmonar em recém-nascidos com doenças pulmonares clinicamente tratáveis, suas principais formas de apresentação, fatores causais e condições relacionadas, como posicionamento da cânula endotraqueal. Os autores mostram que a cânula endotraqueal estava inadequadamente posicionada em 87% dos pacientes e houve associação entre o mau posicionamento da cânula endotraqueal com prematuridade e peso ao nascer inferior a 1000 g(12). Ainda, houve uma tendência de associação entre o aparecimento de atelectasia pulmonar do lobo superior e o posicionamento da cabeça. Estes resultados corroboram outros estudos que relataram que recém-nascidos de extremo baixo peso ao nascer são mais vulneráveis a falhas de posicionamento de cânula endotraqueal(11). Além disso, o posicionamento da cabeça do neonato durante a realização da radiografia simples também é fator predisponente à intubação traqueal inadequada e, consequentemente, atelectasia e desfechos pulmonares adversos(11,13). A cânula endotraqueal em posição mais distal ocorre com a cabeça fletida, e a cânula proximal, com a cabeça estendida(13). As radiografias realizadas nas UTINs levam a um aumento de exposição à radiação ionizante para os recém-nascidos, que apresentam maior radiossensibilidade quando comparados a adultos, e para a equipe profissional. Aumentam também o risco potencial de remoção acidental de dispositivos como cateteres e tubos e, consequentemente, falhas de intubação(14). Durante a investigação diagnóstica é necessário estar atento às técnicas de redução de dose de radiação ionizante ou mesmo considerar o uso de outras modalidades de exame como a ultrassonografia(15). É preciso garantir a qualidade do exame para evitar novas exposições, com atenção adequada para penetração, expansão pulmonar, posicionamento do neonato e, principalmente, colimação(16). A avaliação do posicionamento de tubo endotraqueal com ultrassonografia vem se mostrando uma opção à radiografia simples, porém, a radiografia de tórax continua sendo o exame de referência(14,17). Atenção para o correto posicionamento do recém-nascido durante a realização de radiografias e pronta detecção de possíveis falhas de intubação como causa de atelectasias pulmonares são fatores variáveis e relacionados diretamente ao radiologista. Se cuidados, podem contribuir para o melhor desfecho dos neonatos. REFERÊNCIAS 1. Damian A, Waterkemper R, Paludo CA. Perfil de neonatos internados em unidade de tratamento intensivo neonatal: estudo transversal. Arq Ciênc Saúde. 2016;23:100–5. 2. Granzotto JA, Mota DM, Real RF, et al. Análise do perfil epidemiológico das internações em uma unidade de terapia intensiva neonatal. Rev AMRIGS, Porto Alegre. 2012;56:304–7. 3. Jacob J, Kamitsuka M, Clark RH, et al. Etiologies of NICU deaths. Pediatrics. 2015;135:e59–65. 4. Feria-Kaiser C, Furuya ME, Vargas MH, et al. Main diagnosis and cause of death in a neonatal intensive care unit: do clinicians and pathologists agree? Acta Paediatr. 2002;91:453–8. 5. American College of Radiology. ACR Appropriateness Criteria – Intensive Care Unit Patients. [cited 2018 Jan 2]. Available from: https://acsearch.acr.org/docs/69452/Narrative/. 6. Wilson-Costello D, Rao PS, Morrison S, et al. Radiation exposure from diagnostic radiographs in extremely low birth weight infants. Pediatrics. 1996;97:369−74. 7. Thomas K, Habibi P, Britto J, et al. Distribution and pathophysiology of acute lobar collapse in the pediatric intensive care unit. Crit Care Med. 1999;27:1594–7. 8. Alvares BR, Pereira IMR, Mezzacappa MA, et al. Atelectasia pulmonar em recémnascidos: etiologia e aspectos radiológicos. Sci Med. 2012;22:43–52. 9. Peroni DG, Boner AL. Atelectasis: mechanisms, diagnosis and management. Paediatr Respir Rev. 2000;1:274–8. 10. Kuhns LR, Poznanski AK. Endotracheal tube position in the infant. J Pediatr. 1971;78:991–6. 11. Thayyil S, Nagakumar P, Gowers H, et al. Optimal endotracheal tube tip position in extremely premature infants. Am J Perinatol. 2008;25:13–6. 12. Alvares BR, Dominguez MC. Atelectasia pulmonar em recém-nascidos com doenças clinicamente tratáveis submetidos a ventilação mecânica: aspectos clínicos e radiológicos. Radiol Bras. 2018;51:20–5. 13. Rost JR, Frush DP, Auten RL. Effect of neck position on endotracheal tube location in low birth weight infants. Pediatr Pulmonol. 1999;27:199–202. 14. Ioos V, Galbois A, Chalumeau-Lemoine L, et al. An integrated approach for prescribing fewer chest x-rays in the ICU. Ann Intensive Care. 2011;1:4. 15. Dalmazo J, Elias Jr J, Brocchi MAC, et al. Radiation dose optimization in routine computed tomography: a study of feasibility in a University Hospital. Radiol Bras. 2010;43:241–8. 16. Souza RM, Baldisserotto M, Piva JP, et al. Uso da radiografia de tórax na unidade de tratamento intensivo pediátrico. Sci Med. 2013;23:191–8. 17. Hiles M, Culpan AM, Watts C, et al. Neonatal respiratory distress syndrome: chest X-ray or lung ultrasound? A systematic review. Ultrasound. 2017;25:80–91. 1. Doutora, Médica Assistente do Centro de Ciências das Imagens e Física Médica (CCIFM) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. E-mail: steixeira@hcrp.usp.br 2. Médica Adida do Centro de Ciências das Imagens e Física Médica (CCIFM) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil |