Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 6 - Nov. / Dez.  of 2017

CARTAS AO EDITOR
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Page(s) 414 to 415



Tumor de células gigantes do seio frontal: típico e improvável

Autho(rs): Beatriz Morais e Rodrigues Cunha1; Marcelo Fontalvo Martin1; João Maurício Canavezi Indiani1; Marcelo Souto Nacif2

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Sr. Editor,

Paciente do sexo feminino, 32 anos de idade, deu entrada no serviço de emergência com queixa de "calombo na testa" há um dia. Foi realizada tomografia computadorizada (TC) de crânio com e sem contraste iodado intravenoso, que demonstrou formação expansiva extra-axial com epicentro no seio frontal direito, espontaneamente densa, com aparente nível líquido e com limites bem definidos (Figura 1A). Exame de ressonância magnética (RM) identificou que a lesão tinha nível hemático nas ponderações em T2 (Figura 1B) e apresentou realce periférico pelo meio de contraste (Figura 1C). A paciente foi submetida a cirurgia para ressecção total da lesão e apresentou margens livres, com anatomopatológico e imuno-histoquímica demonstrando lesão característica de tumor de células gigantes (TCG) ósseo (Figura 1D).



Figura 1. A: TC de crânio com contraste intravenoso, corte axial, demonstrando formação expansiva extra-axial com destruição óssea e epicentro no seio frontal direito, apresentando-se espontaneamente densa, com aparente nível líquido e limites bem definidos, medindo 3,1 × 2,5 × 2,9 cm. B: RM, corte axial ponderado em T2, que identificou melhor a lesão predominantemente cística com nível líquido-líquido devido ao conteúdo hemático, responsável pela expansão rápida do tumor. C: RM pós-contraste, corte axial, mostrando importante realce periférico pelo meio de contraste. D: Lâmina corada com hematoxilina-eosina exibindo padrão morfológico fusocelular, em arranjo fascicular, tendo em meio numerosas células grandes multinucleadas tipo osteoclastos.



O TCG é uma das neoplasias ósseas primárias mais comuns, compreendendo cerca de 10% dos tumores ósseos e 25% dos tumores ósseos benignos(1). Acomete indivíduos, principalmente dos 20 aos 40 anos de idade, e tem início insidioso com queixa de dor e aumento de volume local(1). Está localizado, normalmente, na epífise e metáfise dos ossos longos, mais comumente nos joelhos (fêmur distal e tíbia proximal). Nos ossos do crânio incide em menos de 1% de todos os locais (principalmente o temporal e o esfenoidal), tendendo a ser mais agressivo(2–4).

Com base nos aspectos radiográficos clássicos, o TCG pode ser definido como uma lesão lítica, insuflativa, com afinamento ou erosão da cortical(5). A TC é o melhor método de avaliação de destruição óssea, assim como eventuais fraturas patológicas. Já a RM pode caracterizar invasão dos tecidos moles e a presença de áreas císticas (hemorragias e cistos ósseos aneurismáticos secundários)(6,7). O diagnóstico definitivo é feito por meio da histologia, com demonstração de células gigantes.

Acreditamos ser de grande importância a semiologia radiológica para o diagnóstico das doenças ósseas, uma vez que algumas lesões permitem um diagnóstico etiológico específico, porém, em outras, nos limitamos à descrição do achado para orientação terapêutica. No caso aqui apresentado, a semiologia radiológica estava muito típica, mas a localização extremamente atípica da lesão dificultou um diagnóstico específico. Existem poucos relatos de casos, na literatura, sobre TCG no crânio, daí a relevância deste caso.

Ambos os métodos, TC e RM, foram de extrema importância para o planejamento cirúrgico e para o acompanhamento posterior. O prognóstico foi bom e a paciente evoluiu bem no pós-operatório, sem a necessidade de radioterapia, e está em acompanhamento sem queixas ou sinais de recidiva local há cerca de dois anos.


REFERÊNCIAS

1. Catalan J, Fonte AC, Lusa JRB, et al. Tumor de células gigantes ósseo: aspectos clínicos e radiográficos de 115 casos. Radiol Bras. 2006;39:119–22.

2. Martínez DF, Casasco JP, Bonis C, et al. Tumor de células gigantes de base de crâneo: reporte de 2 casos y revisión de la bibliografía. Rev Argent Neuroc. 2007;21:117–9.

3. Novaes V, Pinaud M, Paranhos JL, et al. Tumores de células gigantes do esfenoide: relato de 3 casos e revisão da literatura. Arq Neuropsiquiatr. 1977;35:57–67.

4. Cardona YG, González MBR. Presentación de un paciente con tumor óseo de células gigantes. Correo Científico Médico. 2013;17:518–22.

5. Camargo OP, Croci AT, Oliveira CRGCM, et al. Tumor de células gigantes – evolução histórica do seu diagnóstico e tratamento junto ao Instituto de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP. Acta Ortop Bras. 2001;9:46–52.

6. Matushita JP, Matushita JS, Simões LAM, et al. Giant cell tumor of the frontal sinus: case report. Radiol Bras. 2013;46:255–8.

7. Baptista PPR, Próspero JD, Yonamine ES. Tumor de células gigantes. Rev Bras Ortop. 2001;36:239–44.










1. Unidade de Radiologia Clínica (URC), São José dos Campos, SP, Brasil
2. Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil

Endereço para correspondência:
Dra. Beatriz Morais e Rodrigues Cunha
Unidade de Radiologia Clínica – Radiologia
Rua Teopompo de Vasconcelos, 245, Vila Adyana
São José dos Campos, SP, Brasil, 12243-830
E-mail: cunhabi@hotmail.com
 
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