CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Rodolfo Mendes Queiroz1; Lucas Giansante Abud1; Thiago Giansante Abud2; Cecília Hissae Miyake1; Antonio Carlos dos Santos3 |
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Sr. Editor,
Homem, 32 anos, queixando-se de cefaleia. Tomografia computadorizada (TC) do crânio revelou nódulo hiperdenso intraventricular junto ao forame de Monro à direita, altamente sugestivo de cisto coloide (Figura 1A). O paciente fez uso de dexametasona na terapia das dores. Em TC do crânio de controle após um mês não foi identificado tal nódulo (Figura 1B). TC das regiões cervical e toracoabdominal sem anormalidades. Após dois meses, apresentou convulsões. Ressonância magnética (RM) encefálica mostrou massa cerebral (Figuras 1C e 1D). Análises histopatológica e imuno-histoquímica da sua biópsia revelaram um linfoma não-Hodgkin Burkitt-símile. Exames complementares descartaram doença sistêmica e infecções virais. Figura 1. A: TC do crânio sem administração de meio de contraste identificando nódulo bem delimitado, discretamente hiperdenso, intraventricular, junto ao forame de Monro, do lado direito (seta), promovendo tênue dilatação dos ventrículos laterais (hidrocefalia obstrutiva). B: TC do crânio contrastada de controle, não caracterizando mais o nódulo prévio. C,D: RM do encéfalo após episódios de crises convulsivas, sequências ponderadas em T2 (C) e T1 pós-administração intravenosa de agente paramagnético (D) mostrando massa intra-axial frontoparietal no hemisfério cerebral esquerdo, com intenso edema vasogênico perilesional e realce heterogêneo. Linfomas são denominados primários em determinado sítio quando originários e confinados a este(1–3). Linfomas primários do sistema nervoso central (SNC) representam até 6% das neoplasias cerebrais e 1–6% dos linfomas extranodais, com predomínio do tipo não-Hodgkin difuso de grandes células B (90%)(1–6). Possuem maior incidência em vigência de certas imunodeficiências, principalmente quando relacionados ao vírus da imunodeficiência humana (HIV)(2). Em imunocompetentes, prevalece a ocorrência em homens (60–67%), entre 45–75 anos. Nesse grupo apresentam-se como massa homogênea única (62%), em sítio supratentorial (83%) e notadamente na substância branca profunda (57%). O corpo caloso e regiões junto aos ventrículos são comumente afetados. A presença de edema perilesional também é frequente (77–90%)(1,3–6). Na TC são tipicamente hiperdensos, em função da sua hipercelularidade e da alta relação núcleo-citoplasma(1,3). Na RM apresentam, com frequência, hipo/isossinal e iso/hipersinal nas sequências ponderadas em T1 e T2, respectivamente. Após administração de meio de contraste intravenoso, apresentam realce homogêneo (90%) ou raramente anelar. Exibem sinais de restrição à difusão da água. A perfusão mostra baixo aporte sanguíneo comparado a outros tumores cerebrais malignos. Na espectroscopia observa- se elevação dos picos de lipídios e colina, além de redução do N- acetil-aspartato(1,3–5). A biópsia é o método diagnóstico definitivo(1,2,4,6). Respondem a quimioterapia e, principalmente, a radioterapia, sendo a opção cirúrgica utilizada na redução da massa tumoral(1,3–5). A sobrevida varia entre 15% e 80%, conforme a idade do paciente, as características e o estágio da doença(2,4). O diagnóstico diferencial das lesões expansivas do SNC nos exames de imagem é amplo, abrangendo gliomas, isquemia aguda, processos inflamatórios e infecciosos(1,3–5,7–11). Quando observados em localização intraventricular e hiperdensos na TC, podem ser confundidos com cistos coloides, por serem comuns nesse sítio e também exibirem densidade semelhante(4). Linfomas Burkitt-símile são altamente malignos, com características celulares intermediárias entre o difuso de grandes células B e o Burkitt(12–14). Geralmente associam-se com o HIV e ao vírus Epstein-Barr. Representam 2% a 3% dos linfomas não- Hodgkin em adultos imunocompetentes, incidindo mais em idosos(12–14). Sítios de ocorrência incluem cérebro, intestino, pele, ovários, rins, fígado e medula óssea(12). A quimioterapia é o tratamento mais usado, mas com sobrevida inferior a um ano(13,14). O termo "tumor fantasma" se refere à intensa regressão ou desaparecimento de tumores, expostos ou não a terapia inespecífica, podendo ressurgir ou apresentar progressão com novas formas(2,4,15,16). No encéfalo destacam-se os linfomas após corticoterapia, doenças desmielinizantes e desordens inflamatórias(15,16). REFERÊNCIAS 1. Mansour A, Qandeel M, Abdel-Razeq H, et al. MR imaging features of intracranial primary CNS lymphoma in immune competent patients. Cancer Imaging. 2014;14:22. 2. Bellesso M, Bizzetto R, Pereira J, et al. Primary central nervous system lymphoma. Rev Bras Hematol Hemoter. 2008;30:54–60. 3. Haldorsen IS, Espeland A, Larsson EM. Central nervous system lymphoma: characteristic findings on traditional and advanced imaging. AJNR Am J Neuroradiol. 2011;32:984–92. 4. Sasani M, Bayhan M, Sasani H, et al. Primary central nervous system lymphoma presenting as a pure third ventricular lesion: a case report. J Med Case Reports. 2011;5:213. 5. Reis F, Schwingel R, Nascimento FBP. Central nervous system lymphoma: iconographic essay. Radiol Bras. 2013;46:110–6. 6. Alabdulsalam A, Zaidi SZA, Tailor I, et al. Primary Burkitt lymphoma of the fourth ventricle in an immunocompetent young patient. Case Rep Pathol. 2014;2014:630954. 7. Castro FD, Reis F, Guerra JGG. Intraventricular mass lesions at magnetic resonance imaging: iconographic essay – part 1. Radiol Bras. 2014; 47:176–81. 8. Castro FD, Reis F, Guerra JGG. Intraventricular mass lesions at magnetic resonance imaging: iconographic essay – part 2. Radiol Bras. 2014; 47:245–50. 9. Destefani MH, Mello AS, Oliveira RS, et al. Chordoid glioma of the third ventricle. Radiol Bras. 2015;48:338–9. 10. Schwingel R, Duarte SBL, Oshima MM, et al. Multiple hemangioblastomas, association with von Hippel-Lindau syndrome. Radiol Bras. 2015:48(2):xi–xiii. 11. Dultra AHA, Noro F, Melo ASA, et al. Primary intercavernous lymphoma of the central nervous system. Radiol Bras. 2015;48:337–8. 12. Simcock DE, O'Shaughnessy T, Balasanthiran A, et al. Pulmonary Burkitt's-like lymphoma. Respir Med Extra. 2005;1:81–3. 13. Re M, Di Massimo U, Romeo R, et al. Burkitt-like lymphoma of the sphenoid sinus: case report. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2004;24:30–2. 14. Johnson KA, Tung K, Mead G, et al. The imaging of Burkitt's and Burkitt-like lymphoma. Clin Radiol. 1998;53:835–41. 15. Okita Y, Narita Y, Miyakita Y, et al. Long-term follow-up of vanishing tumors in the brain: how should a lesion mimicking primary CNS lymphoma be managed? Clin Neurol Neurosurg. 2012;114:1217–21. 16. Pohl P, Oberhuber G, Dietze O, et al. Steroid-induced complete remission in a case of primary cerebral non-Hodgkin's lymphoma. Clin Neurol Neurosurg. 1989;91:247–50. 1. Documenta – Hospital São Francisco, Ribeirão Preto, SP, Brasil 2. Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil 3. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Rodolfo Mendes Queiroz Documenta – Centro Avançado de Diagnóstico por Imagem Rua Bernardino de Campos, 980, Centro Ribeirão Preto, SP, Brasil, 14015-130 E-mail: rod_queiroz@hotmail.com |