Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 6 - Nov. / Dez.  of 2017

EDITORIAL
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Page(s) VI to VI



Aspectos de imagem do sistema nervoso central na dengue

Autho(rs): Nina Ventura

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A dengue é uma doença infecciosa causada por um vírus RNA da família Flaviviridae, gênero Flavivirus, que apresenta quatro sorotipos (DEN1 a DEN4) e é transmitida aos seres humanos especialmente pelo mosquito Aedes aegypti(1). Nos últimos 50 anos, a incidência de dengue aumentou 30 vezes, com ampliação da expansão geográfica para novos países. Estima-se que 50 milhões de infecções por dengue ocorram anualmente e que aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas morem em países onde esta doença é endêmica(1).

As principais manifestações clínicas são mialgias, artralgias, rash cutâneo, vômitos e náuseas, e as complicações mais comuns são dengue hemorrágica e choque(2). As manifestações neurológicas centrais são encontradas em casos graves e são geralmente subdivididas em: a) encefalopatia secundária ao acometimento sistêmico, por choque, hipóxia, hiponatremia, falências renal e/ou hepática; b) encefalite por invasão direta do vírus; c) desmielinização ou vasculite imunomediadas(3,4). Acredita-se que os sorotipos DEN2 e DEN3 estejam diretamente relacionados ao acometimento
neurológico(4). Os critérios diagnósticos da encefalite por dengue compreendem dados clínicos compatíveis com encefalopatia febril, anticorpos IgM e/ou PCR positivos para dengue no sangue ou no líquor e exclusão de outras causas de encefalite viral(4).

Apesar de a ressonância magnética (RM) ser o principal método na avaliação do dano neurológico causado pelo vírus da dengue, há poucos relatos descrevendo os seus aspectos de imagem. As principais alterações relacionadas à encefalite são pouco específicas e incluem hipersinal bilateral em T2 e FLAIR, vistas especialmente na região gangliotalâmica. Focos de restrição à difusão e discretas áreas de realce pelo meio de contraste também podem ser observados. Outras possíveis regiões acometidas são os hipocampos, a ponte, o cerebelo e o corpo caloso(5–7). Micro-hemorragias podem ocorrer em pacientes com encefalite aguda hemorrágica e são mais bem demonstradas nas sequências gradiente(8). Alterações da substância branca, especialmente periventriculares, podem ser encontradas em processos desmielinizantes imunomediados(8). Raramente, vasculite secundária à infecção por dengue pode se manifestar com infartos focais(9). Estes achados não são específicos da infecção pelo vírus da dengue e deve-se fazer o diagnóstico diferencial, especialmente com outras encefalites virais e com a acute disseminated encephalomyelitis (ADEM). Além disso, pacientes com encefalite e especialmente com encefalopatia por dengue podem apresentar RM normal(8).

No número anterior da Radiologia Brasileira, Jugpal et al.(10) apresentam os achados na RM de crânio de nove pacientes com manifestações neurológicas por dengue, corroborando os achados descritos na literatura. As principais alterações encontradas foram hipersinal em T2 e FLAIR, restrição à difusão e focos de sangramento predominantemente na região gangliotalâmica. Os autores também revisam as alterações de imagem dos principais diagnósticos diferenciais, como a encefalite japonesa, a encefalite por herpes e a ADEM, assinalando os achados que favorecem um ou outro diagnóstico.

Apesar de não haver tratamento específico para a dengue, o conhecimento dos principais achados de RM em pacientes com sintomas neurológicos é essencial para o reconhecimento precoce da forma grave desta doença, permitindo o tratamento sintomático e prevenindo complicações.


REFERÊNCIAS

1. Bhatt S, Gething PW, Brady OJ, et al. The global distribution and burden of dengue. Nature. 2013;496:504–7.

2. Rodriguez-Roche R, Gould EA. Understanding the dengue viruses and progress towards their control. Biomed Res Int. 2013;2013:690835.

3. Puccioni-Sohler M, Soares CN, Papaiz-Alvarenga R, et al. Neurologic dengue manifestations associated with intrathecal specific immune response. Neurology. 2009;73:1413–7.

4. Carod-Artal FJ, Wichmann O, Farrar J, et al. Neurological complications of dengue virus infection. Lancet Neurol. 2013;12:906–19.

5. Bhoi SK, Naik S, Kumar S, et al. Cranial imaging findings in dengue virus infection. J Neurol Sci. 2014;342:36–41.

6. Wasay M, Channa R, Jumani M, et al. Encephalitis and myelitis associated with dengue viral infection. Clinical and neuroimaging features. Clin Neurol Neurosurg. 2008;110:635–40.

7. Garg RK, Rizvi I, Ingole R, et al. Cortical laminar necrosis in dengue encephalitis—a case report. BMC Neurol. 2017;17:79.

8. Garg RK, Malhotra HS, Jain A, et al. Dengue encephalopathy: very unusual neuroimaging findings. J Neurovirol. 2017;23:779–82.

9. Nanda SK, Jayalakshmi S, Mohandas S. Pediatric ischemic stroke due to dengue vasculitis. Pediatr Neurol. 2014;51:570–2.

10. Jugpal TS, Dixit R, Garg A, et al. Spectrum of findings on magnetic resonance imaging of the brain in patients with neurological manifestations of dengue fever. Radiol Bras. 2017;50:285–90.










Médica Radiologista da DASA e do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, Rio de Janeiro, RJ, Professora de Radiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil. E-mail: niventuraa@gmail.com
 
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