EDITORIAIS
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Autho(rs): Pedro Paulo Teixeira e Silva Torres |
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As doenças pulmonares metabólicas compreendem um grupo heterogêneo e raro de doenças com características próprias que tem em comum a origem em disfunções no equilíbrio metabólico ou bioquímico corporal, e neste grupo o pulmão pode ser o único órgão acometido ou fazer parte de acometimento sistêmico(1,2). Neste contexto, está inserida a calcificação pulmonar metastática (CPM), uma consequência de distúrbios no metabolismo do cálcio/fósforo que determina depósitos anormais de cálcio no tecido pulmonar normal(3,4).
Embora a CPM seja frequentemente diagnosticada em autópsias, seu diagnóstico ante mortem é incomum, e boa parte das publicações relacionadas à doença é encontrada em relatos de caso isolados(4-6). No número anterior da Radiologia Brasileira, Belém et al.(7) conduzem uma interessante análise retrospectiva descritiva dos padrões da doença na tomografia de tórax. A casuística substancial de 23 pacientes, fruto de colaboração multicêntrica, é a maior série da doença publicada na literatura. Ressalta-se ainda a qualidade da amostragem, com confirmação histopatológica na ampla maioria dos casos. A quantidade de casos incluídos permitiu a ampliação das apresentações tomográficas conhecidas da doença, com caracterização de opacidades reticulares com micronódulos calcificados em alguns pacientes, até então não descritos(7). Corroborando descrições prévias, houve ampla associação da CPM com insuficiência renal crônica, destacando-se alta correlação da última condição com eventos cardiovasculares e suscetibilidade a infecções decorrente de imunossupressão(1-4,7,8). Neste sentido, a caracterização de opacidades em vidro fosco — padrão mais frequente na amostra — suscita amplo diagnóstico diferencial neste grupo de pacientes, incluindo quadros congestivos e infecções(9). Consolidações densas e micronódulos calcificados foram, em seguida, os achados mais frequentes, também implicando múltiplos diagnósticos diferenciais, incluindo outras condições metabólicas, pneumoconioses e toxicidade medicamentosa (amiodarona)(10). Assim, o conhecimento dos padrões tomográficos da CPM descritos no artigo é útil não somente para direcionamento deste diagnóstico, mas também para exclusão de outros potenciais diagnósticos diferenciais, aspectos que podem ter impacto na condução do paciente(7). Padrões de ressonância magnética também têm sido descritos na CPM(11). Na série de casos de Hochhegger et al.(11), as lesões pulmonares relacionadas à doença mostraram hipersinal quando comparadas ao tecido muscular na ponderação T1, aspecto decorrente de características específicas dos cristais de cálcio na CPM, semelhante a alguns padrões de calcificação encefálicos(12,13). Ainda considerando-se diagnóstico imaginológico não invasivo, merece destaque o papel da cintilografia com tecnécio-99m-metileno bifosfonado, tido como mais específico para o diagnóstico e capaz de detectar manifestações mais precoces da doença(3). No acometimento pulmonar ocorre captação do radiofármaco de maneira simétrica, podendo ainda ser observada deposição dele na parede gástrica e de maneira variável no parênquima renal(3). A utilização da biópsia pulmonar para diagnóstico de diversas condições pulmonares é valiosa, porém, não isenta de riscos, e seu custo-benefício deve ser cuidadosamente estudado pela equipe multidisciplinar antes de ser realizada(14). Estudos recentes avaliando complicações de biópsia pulmonar em centros de referência mostram taxas de mortalidade variando de 1,7% a 3,9%, podendo alcançar 16% em pacientes não eletivos, destacando-se que a presença de comorbidades contribui para a piora dos índices(15,16). Sendo assim, estudos em pneumopatias difusas com enfoque em diagnóstico clínico-imaginológico não invasivo, como o de Belém et al.(7), devem ser encorajados. Doenças pulmonares difusas são frequentemente um desafio para a equipe multidisciplinar, e o papel do diagnóstico imaginológico é decisivo em várias situações. O artigo de Belém et al.(7) apresenta contribuição significativa para o diagnóstico tomográfico e abordagem não invasiva da CPM, valorizando o papel do radiologista no diagnóstico desta condição. REFERÊNCIAS 1. Chung JM, Lee KS, Franquet T. et al. Metabolic lung disease: imaging and histopatologic findings. Eur J Radiol. 2005;54:233-45. 2. Renapurkar RD, Kanne JP. Metabolic and storage lung diseases: spectrum of imaging appearances. Insights Imaging. 2013;4:773-85. 3. Belém LC, Zanetti G, Souza AS Jr, et al. Metastatic pulmonary calcification: state-of-the-art review focused on imaging findings. Respir Med. 2014;108:668-76. 4. Bozi LCF, Melo ASA, Marchiori E. Pulmonary metastatic calcification: a case report. Radiol Bras. 2012;45:297-9. 5. Yip KP. Metastatic pulmonary calcification: ''crazy paving'' pattern. Thorax. 2016; 71:483. 6. Sun HM, Chen F, Yin HL, et al. Rapid development of metastatic pulmonary calcifications in primary hyperparathyroidism: a case report and literature review. Diagn Pathol. 2017;12:38. 7. Belém LC, Souza CA, Souza AS Jr, et al. Metastatic pulmonary calcification: high-resolution computed tomography findings in 23 cases. Radiol Bras. 2017; 50:231-6. 8. Kato S, Chmielewski M, Honda H, et al. Aspects of immune dysfunction in end-stage renal disease. Clin J Am Soc Nephrol. 2008;3:1526-33. 9. Liang Z, Qiu T, Zhao Z, et al. Metastatic pulmonary calcification misdiagnosed as a fungal infection: a case report. Mol Clin Oncol. 2016;4:409-12. 10. Marchiori E, Franquet T, Gasparetto TD, et al. Consolidation with diffuse or focal high attenuation: computed tomography findings. J Thorac Imaging. 2008; 23:298-304. 11. Hochhegger B, Marchiori E, Soares Souza A Jr, et al. MRI and CT findings of metastatic pulmonary calcification. Br J Radiol. 2012;85:e69-72. 12. Henkelman RM, Watts JF, Kucharczyk W. High signal intensity in MR images of calcified brain tissue. Radiology. 1991;179:199-206. 13. Taguchi Y, Fuyuno G, Shioya S, et al. MR appearance of metastatic pulmonary calcification. J Comput Assist Tomogr. 1996;20:38-41. 14. Raj R, Raparia K, Lynch DA, et al. Surgical lung biopsy for interstitial lung diseases. Chest. 2017;151:1131-40. 15. Hutchinson JP, Fogarty AW, McKeever TM, et al. In-hospital mortality after surgical lung biopsy for interstitial lung disease in the United States. 2000 to 2011. Am J Respir Crit Care Med. 2016;193:1161-7. 16. Hutchinson JP, McKeever TM, Fogarty AW, et al. Surgical lung biopsy for the diagnosis of interstitial lung disease in England: 1997-2008. Eur Respir J. 2016;48:1453-61. Médico Radiologista da Multimagem Diagnósticos, Goiânia, GO, Brasil. E-mail: pedroptstorres@gmail.com |