Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 4 - Jul. / Ago.  of 2017

CARTAS AO EDITOR
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Page(s) 268 to 269



Cistite xantogranulomatosa em criança

Autho(rs): Roberto César Teixeira Dantas1; Ivo Lima Viana1; Camila Soares Moreira de Sousa1; Breno Braga Bastos2; Carla Lorena Vasques Mendes de Miranda1

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Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Paciente do sexo feminino, sete anos de idade, admitida com quadro de apendicite aguda, foi submetida a apendicectomia de urgência. Durante o procedimento observaram-se, como achados incidentais, bexiga volumosa e provável coleção aderida à parede. Optou-se por se realizar cistoscopia, que demonstrou bexiga com dimensões aumentadas e espessamento parietal difuso. Após o procedimento, realizou tomografia computadorizada do abdome, que demonstrou uma coleção hipodensa, com atenuação cística, bem delimitada, de contornos regulares, sem realce, em íntimo contato com a parede lateral direita da bexiga (Figura 1). Ao se investigar antecedentes patológicos, foram descobertos episódios repetidos de cistite no último ano. Optou-se, então, por conduta cirúrgica laparoscópica, em que se identificou diminuto orifício de comunicação entre a lesão e o interior vesical, sendo realizada cistectomia parcial. O estudo histopatológico demonstrou tecido fibroadiposo exibindo reação xantogranulomatosa caracterizada por macrófagos xantomatosos, reação gigantocelular, cristais de colesterol e leve infiltrado inflamatório crônico. Além disso, observou-se reação macrofágica semelhante em linfonodo (Figura 2). Diante de tais achados, cistite xantogranulomatosa foi considerada a principal hipótese diagnóstica.


Figura 1. Reformatações coronal (A) e axial (B) de tomografia computadorizada de abdome com contraste mostrando coleção hipodensa, com atenuação cística, bem delimitada, de contornos regulares, sem realce, em íntimo contato com a parede lateral direita da bexiga.


Figura 2. Histopatológico demonstrando tecido fibroadiposo com reação xantogranulomatosa caracterizada por macrófagos xantomatosos, reação gigantocelular, cristais de colesterol e leve infiltrado inflamatório crônico. Observa-se, ainda, reação macrofágica semelhante em linfonodo.



Cistite xantogranulomatosa é uma doença inflamatória crônica rara, tendo cerca de 30 casos documentados na literatura mundial. Apresenta-se com curso benigno e sua origem ainda permanece obscura, mas relatos anteriormente descritos sugerem possíveis associações com remanescente do úraco, infecção crônica, tumor maligno vesical e distúrbios imunológicos(1). Os sintomas clínicos são inespecíficos, não contribuindo para diferenciá-la de outras doenças da bexiga. As formas mais usuais de apresentação são sintomas urinários irritativos, massa palpável em hipogástrio e hematúria(2–4). Com base nos casos publicados na literatura, nota-se que a idade média de acometimento é em torno de 46 anos, sem predominância de sexo, e localização preferencial na cúpula vesical(1,4,5). No entanto, no presente caso, trata-se de paciente pediátrica, com sete anos de idade e lesão localizada na parede lateral direita, indicando ausência de relação com o úraco. O tratamento conservador não é eficaz, sendo necessária ressecção cirúrgica por meio de cistectomia parcial, padrão ouro atualmente(2–5).

As lesões xantogranulomatosas podem ser observadas em diversos sítios além da bexiga, incluindo rins mais frequentemente, vesícula biliar, pâncreas, apêndice, cólon, ovário, endométrio e cérebro, geralmente simulando malignidade(2–4).

A cistite xantogranulomatosa é uma doença extremamente rara e permanece sendo alvo de muitos estudos, pois pouco se conhece a respeito de sua real causa e comportamento em longo prazo. Com este caso destaca-se a importância do reconhecimento de uma lesão incomum que pode se apresentar em qualquer faixa etária e dificultar o diagnóstico final.


REFERÊNCIAS

1. Yamamoto S, Yoshida K, Tsumura K, et al. Xanthogranulomatous cystitis treated by transurethral resection. Urol Case Rep. 2015;3:143–5.

2. Izquierdo García FM, García Diez F, Miguelez Simon A, et al. Cistitis xantogranulomatosa: presentación de un caso. Arch Esp Urol. 2001;54:263–5.

3. Hayashi N, Wada T, Kiyota H, et al. Xanthogranulomatous cystitis. Int J Urol. 2003;10:498–500.

4. Wang Y, Han XC, Zheng LQ, et al. Xanthogranulomatous cystitis imitating bladder neoplasm: a case report and review of literature. Int J Clin Exp Pathol. 2014;7:8255–8.

5. Ekici S, Ekici I, Ruacan S, et al. Xanthogranulomatous cystitis: a challenging imitator of bladder cancer. ScientificWorldJournal. 2010;10:1169–73.










1. Medimagem, Teresina, PI, Brasil
2. UDI 24 horas, Teresina, PI, Brasil

Endereço para correspondência:
Dra. Camila Soares Moreira de Sousa
Medimagem – Radiologia. Rua Paissandu, 1862, Centro
Teresina, PI, Brasil, 64001-120
E-mail: camilasoares__@hotmail.com
 
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