Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 4 - Jul. / Ago.  of 2017

CARTAS AO EDITOR
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Page(s) 272 to 273



Prolapso da gordura subconjuntival: uma entidade pouco conhecida dos radiologistas

Autho(rs): Cynthia Ramos Tejo; Péricles Almeida da Costa; Rafaella Martins Batista; Yuri Raoni Ramalho Rocha; Marcelle Alves Borba

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Sr. Editor,

Paciente do sexo masculino, 69 anos de idade, procurou o ambulatório com queixa de massa gordurosa no canto lateral dos olhos há cerca de 10 anos, mais bem caracterizada com a retropulsão dos globos oculares. Foi realizada tomografia computadorizada (TC) de órbitas, que demonstrou prolapso da gordura intraconal no canto lateral das órbitas para a região epibulbar (Figura 1). Considerando a apresentação clínica e de imagem, foi feito o diagnóstico de prolapso da gordura subconjuntival.


Figura 1. A: Massa gordurosa no canto lateral das órbitas, mais bem caracterizada com a retropulsão dos globos oculares. TC de órbitas no plano coronal (B), em reformatação volumétrica coronal (C) e no plano axial (D) demonstrando a massa nos cantos laterais (setas retas), contígua com a gordura intraconal (pontas de setas) e rechaçando as glândulas lacrimais (setas curvas).



O prolapso da gordura subconjuntival é uma lesão adquirida, geralmente bilateral, caracterizada por herniação da gordura intraconal decorrente da fraqueza da bainha do bulbo do olho e do septo intermuscular por envelhecimento, trauma ou cirurgia(1). É mais comum em homens obesos entre a 7ª e 8ª décadas de vida e manifesta-se clinicamente como massa amarelada no canto lateral dos olhos, que se torna mais evidente com a retropulsão do globo ocular(2).

Os exames de imagem que podem auxiliar no diagnóstico são a TC e a ressonância magnética (RM) de órbitas, cujo achado radiológico mais importante é de massa com densidade de gordura ou intensidade de sinal semelhante a tecido gorduroso, respectivamente, localizada no aspecto temporal das órbitas, que se continua com a gordura intraconal.

O tratamento consiste em excisão cirúrgica transconjuntival, um procedimento simples, seguro e eficaz, com relatos de recorrência em cerca de 9%(3).

Apesar de o prolapso da gordura subconjuntival ser de fácil diagnóstico clínico, em razão da sua raridade pode ser erroneamente diagnosticado como dermolipoma conjuntival, linfoma, cisto epidermoide e prolapso da glândula lacrimal(4). O principal diagnóstico diferencial é o dermolipoma conjuntival, uma lesão benigna, em geral presente ao nascimento(5), que acomete preferencialmente mulheres jovens com idade média de 22 anos(6). A apresentação clínica é semelhante à do prolapso da gordura subconjuntival, porém, é geralmente unilateral e pouco móvel. Ao estudo por TC e por RM, apresenta-se como massa gordurosa em forma de crescente no aspecto temporal da órbita, sem comunicação com a gordura intraconal(1).

O tratamento cirúrgico para ressecção do dermolipoma conjuntival é indicado principalmente para fins estéticos, tende a ser mais conservador(1), e apesar de ser um procedimento simples, há sérias complicações associadas, como blefaroptose, diplopia e ceratoconjuntivite seca. São descritas, portanto, várias técnicas cirúrgicas diferentes, entre elas a ressecção com rotação de flap conjuntival, visando um menor índice de complicações e bons resultados estéticos(7).

O prolapso da gordura subconjuntival e o dermolipoma apresentam-se clinicamente como massa gordurosa epibulbar no canto lateral das órbitas e, em alguns casos, sua diferenciação por aspectos clínicos pode ser difícil. O tema é pouco conhecido entre os radiologistas e há poucos relatos na literatura radiológica. Dessa forma, considerando-se a diferença de tratamento entre estas duas entidades, é necessário que os radiologistas estejam familiarizados com estas doenças, para o pronto reconhecimento e diagnóstico diferencial por exames de imagem.


REFERÊNCIAS

1. Kim E, Kim HJ, Kim YD, et al. Subconjunctival fat prolapse and dermolipoma of the orbit: differentiation on CT and MR imaging. AJNR Am J Neuroradiol. 2011;32:465–7.

2. Schmack I, Patel RM, Folpe AL, et al. Subconjunctival herniated orbital fat: a benign adipocytic lesion that may mimic pleomorphic lipoma and atypical lipomatous tumor. Am J Surg Pathol. 2007;31:193–8.

3. Siban M, Weijtens O, van den Bosch W, et al. Efficacy of transconjunctival excision of orbital fat prolapse: a long-term follow-up study. Acta Ophthalmol. 2014;92:291–3.

4. Wang X, Yan J. Subconjunctival orbital fat prolapse: an unsuspecting rare lesion. J Craniofac Surg. 2015;26:e92–4.

5. Ferraz LCB, Schellini AS, Wludarski SCL, et al. Dermolipoma e prolapso de gordura orbital – duas entidades distintas. Arq Bras Oftalmol. 2002;65:327–31.

6. McNab AA, Wright JE, Caswell AG. Clinical features and surgical management of dermolipomas. Aust N Z J Ophthalmol. 1990;18:159–62.

7. Sa HS, Kim HK, Shin JH, et al. Dermolipoma surgery with rotational conjunctival flaps. Acta Ophtalmol. 2012;90:86–90.










Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN, Brasil

Endereço para correspondência:
Dra. Cynthia Ramos Tejo
Hospital Universitário Onofre Lopes
Avenida Nilo Peçanha, 620, Petrópolis
Natal, RN, Brasil, 59012-300
E-mail: cynthiatejo@gmail.com
 
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