Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 3 - Maio / Jun.  of 2017

CARTAS AO EDITOR
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Page(s) 200 to 201



Síndrome da bossa carpal: os styloideum fusionado ao trapezoide

Autho(rs): Gabriel Clève Nicolodi; Cesar Rodrigo Trippia; Maria Fernanda F. S. Caboclo; Raphael Rodrigues de Lima; Wagner Peitl Miller

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Sr. Editor,

Paciente do sexo feminino, 29 anos de idade, branca, apresentando dor crônica à dorsiflexão da mão direita e proeminência de consistência endurecida nas bases do segundo e terceiro metacarpais, dolorosa à palpação. Na radiografia da mão (Figura 1A) observou-se a proeminência óssea na região em que foi palpada no exame físico, além de indefinição do espaço articular entre o trapezoide e o capitato, bem como no estudo tomográfico (Figuras 1B e 1C), no qual, mediante reconstruções multiplanares e tridimensionais, demonstrou-se com maiores detalhes o os styloideum fusionado com o osso trapezoide e neoarticulando-se com a base do terceiro metacarpal. A ressonância magnética (Figura 1D) mostrou hipointensidade de sinal em T1 e aumento da intensidade em T2 STIR, com edema ósseo adjacente à neoarticulação, indicando apofisite.


Figura 1. A: Radiografia digitalizada com indefinição do espaço articular entre o trapezoide e o capitato. B,C: Tomografia computadorizada em reconstrução tridimensional e em corte axial identificando o os styloideum fusionado ao trapezoide e neoarticulando-se ao capitato. D: Ressonância magnética em sequência T1 demonstrando o os styloideum, com edema ósseo adjacente à neoarticulação (neoapofisite).



Os styloideum é uma variação anatômica caracterizada por um ossículo acessório localizado no dorso do punho, entre os ossos trapezoide, capitato, segundo e terceiro metacarpais(1). Quando associada a sintomas, principalmente dor local, caracteriza a síndrome da bossa carpal(2,3). A real incidência desta entidade é desconhecida, provavelmente subestimada e muito confundida clinicamente com outras causas de tumor no dorso do carpo(4).

Bossa carpal pode ser classificada em adquirida (osteófitos), congênita (os styloideum), ou mista, mas as apresentações clínicas parecem ser semelhantes entre os grupos(3). Os styloideum é também conhecido como o nono osso do carpo(5). A principal dificuldade em seu reconhecimento reside na inespecificidade dos sintomas, frequentemente atribuídos a cistos dorsais, já que ambos compartilham localização muito semelhante(4).

O caso aqui relatado consiste na forma mais rara de bossa carpal congênita, em que o os styloideum apresenta-se fusionado ao trapezoide (0,5%). Ocorre mais comumente fusionado à base do segundo e terceiro metacarpais (94%), fusionado ao capitato (3,5%) ou de forma isolada (2%)(2,6). A apresentação clínica é muito variável, podendo ser assintomática, apresentar dor espontânea, precipitada pelo uso excessivo da articulação ou pela flexão palmar do punho(2).

O conhecimento dessa doença e estudos por imagem são fundamentais para o diagnóstico e distinção de seus principais diagnósticos diferenciais (cistos sinoviais, fraturas, osteoartrose, exostoses, neoplasias ósseas e de partes moles)(7). Estudos tomográficos permitem a análise das relações do ossículo acessório com os ossos adjacentes, e a ressonância magnética é importante para a avaliação da integridade óssea, das ênteses e ligamentos(5). A proximidade da bossa carpal com os tendões extensores radiais do carpo curto e longo pode provocar tenossinovite insercional, agravando os sintomas, principalmente em atletas que realizam esforço repetitivo, mais especificamente a extensão forçada do punho(5,8,9).

O tratamento costuma ser inicialmente conservador, com anti-inflamatórios e eventual imobilização, mas a excisão cirúrgica pode ser realizada nos casos refratários(6,7).


REFERÊNCIAS

1. Karmazyn B, Siddiqui AR. Painful os styloideum in a child. Pediatr Radiol. 2002;32:370–2.

2. Gomes AF, Paganella VC, Paganella MC, et al. Computed tomography and magnetic resonance imaging findings of os styloideum in a symptomatic athlete. Radiol Bras. 2010;43:207–9.

3. Apple JS, Martinez S, Nunley JA. Painful os styloideum: bone scintigraphy in carpe bossu disease. AJR Am J Roentgenol. 1984;142:181–2.

4. Castro AA, Skare TL, Nassif PAN, et al. Sonographic diagnosis of carpal tunnel syndrome: a study in 200 hospital workers. Radiol Bras. 2015;48:287–91.

5. Poh F. Carpal boss in chronic wrist pain and its association with partial osseous coalition and osteoarthritis – a case report with focus on MRI findings. Indian J Radiol Imaging. 2015;25:276–9.

6. Conway WF, Destouet JM, Gilula LA, et al. The carpal boss: an overview of radiographic evaluation. Radiology. 1985;156:29–31.

7. Park MJ, Namdari S, Weiss AP. The carpal boss: review of diagnosis and treatment. J Hand Surg Am. 2008;33:446–9.

8. Kissel P. Conservative management of symptomatic carpal bossing in an elite hockey player: a case report. J Can Chiropr Assoc. 2009;53:282–9.

9. Linscheid RL, Dobyns JH. Athletic injuries of the wrist. Clin Orthop Relat Res. 1985;(198):141–51.










Hospital São Vicente - Funef, Curitiba, PR, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Gabriel Clève Nicolodi
Rua Francisco Rocha, 1435, ap. 31, Bigorrilho
Curitiba, PR, Brasil, 80730-390
E-mail: gabrielnicolodi@gmail.com
 
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