Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Vol. 50 nº 2 - Mar. / Abr.  of 2017

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Doença diverticular dos cólons: evolução da abordagem terapêutica e papel da tomografia computadorizada nos quadros agudos

Autho(rs): Valdair Francisco Muglia

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A doença diverticular dos cólons é uma enfermidade extremamente comum no mundo ocidental, com incidência estimada em 5% em pessoas de meia-idade (quarta década de vida), podendo atingir até 60% em pacientes com mais de 80 anos(1). Esta condição tem sido associada com baixa ingestão de fibras, aumento do tempo de trânsito colônico e da pressão intraluminal no cólon, levando ao desenvolvimento dos divertículos(2).

É importante a correta definição dos termos "diverticulose" e "doença diverticular". O primeiro refere-se à ocorrência de divertículos, independente da presença de sintomas, geralmente associada a alterações parietais do cólon como deposição de elastina, espessamento do músculo liso, encurtamento das tenias e consequente redução da luz intestinal(3). Já a doença diverticular refere-se à presença dos divertículos associada a sintomas importantes, constituindo quadros como a diverticulite aguda ou associada a condições crônicas. A diverticulite aguda pode ser dividida em complicada ou não complicada.

Embora a possibilidade de doença diverticular possa ser aventada pelos sintomas e sinais clínicos, a acuidade diagnóstica do quadro clínico e exame físico é baixa. Além disto, mesmo quando o diagnóstico clínico é bastante sugestivo, a extensão do processo inflamatório não é bem caracterizada clinicamente. Deste modo, exames subsidiários como a endoscopia e métodos de imagem desempenham papel importante na condução destes casos(2,4). Uma série de estudos recentes na literatura radiológica brasileira tem demonstrado a importância da tomografia computadorizada (TC) na avaliação das doenças dos cólons(5–11).

Neste número da Radiologia Brasileira, Naves et al.(12) discutem o papel dos métodos de imagem, particularmente a TC, na avaliação da diverticulite aguda dos cólons (DAC). Considerada como método de imagem de escolha na avaliação da DAC, a TC possibilita, além da confirmação diagnóstica, a distinção entre DAC não complicada daquela associada a complicações. Esta última, desde 1978 é classificada segundo a descrição de Hinchey(13), porém, como existem importantes limitações desta classificação, por exemplo, a diferenciação entre Hinchey III e IV só possível pela laparoscopia ou, eventualmente, laparotomia, recentemente outras tentativas de estratificar a DAC têm surgido(4) e este tema também é apreciado pelos autores(12).

Além da discussão sobre as principais complicações da DAC, amplamente ilustrada, Naves et al.(12) também focam uma questão extremamente relevante que é o diagnóstico diferencial entre DAC e neoplasia colorretal, uma vez que estas duas condições são relativamente comuns em pacientes idosos e, portanto, não raro coexistem(14,15). Esta diferenciação torna-se particularmente difícil quando a doença diverticular cursa com espessamento parietal e redução luminal significativos. A coexistência destas duas condições levou vários grupos a indicarem a realização de colonoscopia após a resolução de um episódio de diverticulite aguda, geralmente avaliado por TC(16). Porém, mais recentemente, alguns estudos e uma meta-análise sugerem que não há dados para suportar esta indicação(17).

A DAC complicada era, na maioria das vezes, indicação de tratamento cirúrgico(1,18). No entanto, recentemente, as indicações cirúrgicas são mais restritas e novos algoritmos de instituições internacionais preconizam opções mais conservadoras, reservando a cirurgia para casos mais agudos que requeiram medidas mais incisivas(19). Nesta abordagem, a definição da extensão do processo inflamatório é crucial, requerendo um exame de TC dedicado a este objetivo, com protocolo específico. Outra contribuição da TC, nesta nova concepção terapêutica da DAC, é que o tratamento de eventuais coleções infectadas secundárias à diverticulite deixou de ser uma indicação cirúrgica absoluta, sendo realizada por abordagem percutânea, guiada por TC ou ultrassonografia, sempre que possível.

A abordagem terapêutica da DAC, condição extremamente prevalente, vem sendo objeto de constantes discussões, com recentes e importantes mudanças de paradigmas nos últimos anos(20). No entanto, em todas as opções sugeridas, mantém-se como central o papel da TC, como importante meio de diagnóstico e extensão da avaliação do processo inflamatório, cabendo ao radiologista um papel bem definido e importante nesta abordagem multidisciplinar.


REFERÊNCIAS

1. Elisei W, Tursi A. Recent advances in the treatment of colonic diverticular disease and prevention of acute diverticulitis. Ann Gastroenterol. 2016;29:24–32.

2. Aldoori WH, Giovannucci EL, Rockett HRH, et al. A prospective study of dietary fiber types and symptomatic diverticular disease in men. J Nutr. 1998;128:714–9.

3. Flor N, Maconi G, Cornalba G, et al. The current role of radiologic and endoscopic imaging in the diagnosis and follow-up of colonic diverticular disease. AJR Am J Roentgenol. 2016;207:15–24.

4. Klarenbeek BR, de Korte N, van der Peet DL, et al. Review of current classifications for diverticular disease and a translation into clinical practice. Int J Colorectal Dis. 2012;27:207–14.

5. Vermelho MBF, Correia AS, Michailowsky TCA, et al. Abdominal alterations in disseminated paracoccidioidomycosis: computed tomography findings. Radiol Bras. 2015;48:81–5.

6. Melo ELA, Paula FTM, Siqueira RA, et al. Biliary colon: an unusual case of intestinal obstruction. Radiol Bras. 2015;48:127–8.

7. Gava P, Melo ASA, Marchiori E, et al. Intestinal and appendiceal paracoccidioidomycosis. Radiol Bras. 2015;48:126–7.

8. Rocha EL, Pedrassa BC, Bormann RL, et al. Abdominal tuberculosis: a radiological review with emphasis on computed tomography and magnetic resonance imaging findings. Radiol Bras. 2015;48:181–91.

9. Fajardo L, Ramin GA, Penachim TJ, et al. Abdominal manifestations of extranodal lymphoma: pictorial essay. Radiol Bras. 2016;49:397–402.

10. Sala MAS, Ligabô ANSG, Arruda MCC, et al. Intestinal malrotation associated with duodenal obstruction secondary to Ladd's bands. Radiol Bras. 2016;49:271–2.

11. Nicolodi GC, Trippia CR, Caboclo MFFS, et al. Intestinal perforation by an ingested foreign body. Radiol Bras. 2016;49:295–9.

12. Naves AA, D'Ippolito G, Souza LRMF, et al. What radiologists should know about tomographic evaluation of acute diverticulitis of the colon. Radiol Bras. 2017; 50:126–31.

13. Hinchey EJ, Schaal PG, Richards GK. Treatment of perforated diverticular disease of the colon. Adv Surg. 1978;12:85–109.

14. Schultz JK, Yaqub S, Øresland T. Management of diverticular disease in Scandinavia. J Clin Gastroenterol. 2016; 50 Suppl 1:S50–2.

15. Lips LM, Cremers PT, Pickhardt PJ, et al. Sigmoid cancer versus chronic diverticular disease: differentiating features at CT colonography. Radiology. 2015;275:127–35.

16. Choi YH, Koh SJ, Kim JW, et al. Do we need colonoscopy following acute diverticulitis detected on computed tomography to exclude colorectal malignancy? Dig Dis Sci. 2014;59:2236–42.

17. Sai VF, Velayos F, Neuhaus J, et al. Colonoscopy after CT diagnosis of diverticulitis to exclude colon cancer: a systematic literature review. Radiology. 2012; 263:383–90.

18. Templeton AW, Strate LL. Updates in diverticular disease. Curr Gastroenterol Rep. 2013;15:339.

19. Fingerhut A, Veyrie N. Complicated diverticular disease: the changing paradigm for treatment. Rev Col Bras Cir. 2012;39:322–7.

20. Gehrman J, Angenete E, Björholt I, et al. Health economic analysis of laparoscopic lavage versus Hartmann's procedure for diverticulitis in the randomized DILALA trial. Br J Surg. 2016;103:1539–47.










Professor Associado, Departamento de Clínica Médica, Centro de Ciências da Imagem e Física Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil. E-mail: fmuglia@fmrp.usp.br
 
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