Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 1 - Jan. / Fev.  of 2017

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 64 to 65



Malignidades primárias múltiplas: carcinoma urotelial vesical e adenocarcinoma colônico sincrônicos

Autho(rs): Rodolfo Mendes Queiroz; Daniel Roque; Eduardo Miguel Febronio

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Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Homem, 75 anos, branco, apresentando dor no hipocôndrio esquerdo há três meses. Relatou episódio de hematúria macroscópica há seis meses. Ex-tabagista há 20 anos, fumou por 30 anos (30 cigarros/dia). Antecedente de cirurgia de úlcera gástrica há 20 anos. Negou outras comorbidades. Tomografia computadorizada do abdome mostrou lesão expansiva sólida e irregular, concêntrica e estenosante no terço médio do cólon descendente, com captação heterogênea pelo meio de contraste iodado intravenoso e densificação dos planos adiposos adjacentes, sugerindo extensão extrapolando os limites da serosa, além de lesão vegetante na parede posterolateral direita da bexiga, de bordas irregulares e apresentando realce pelo meio de contraste (Figuras 1A, 1B e 1C).


Figura 1. A,B: Tomografia computadorizada do abdome, fase portal após administração de meio de contraste intravenoso, corte axial e reconstrução coronal oblíqua, respectivamente, exibindo lesão expansiva sólida e irregular, concêntrica e estenosante no colón descendente, apresentando realce heterogêneo, associada a densificação dos planos adiposos adjacentes (A,B – seta grande). Notase, também, lesão vegetante vesical realçante e de contornos irregulares (B – seta pequena). C: Corte tomográfico axial, fase porta após administração de agente iodado intravenoso, demonstrando lesão vegetante realçante e de contornos irregulares, localizada na parede posterolateral direita da bexiga (seta). D: Ultrassonografia vesical via abdominal confirmando a lesão mural.



Após colonoscopia e biópsia da lesão intestinal, com diagnóstico histológico de adenocarcinoma colônico moderadamente diferenciado, realizou-se colectomia segmentar e confecção de colostomia. Estudo anatomopatológico revelou massa tumoral anelar, dura e ulcerovegetante infiltrando a parede intestinal e gordura circunjacente, confirmando o resultado da biópsia na microscopia. Posteriormente, ultrassonografia do aparelho urinário confirmou nodulação vesical (Figura 1D), sem fluxo perceptível ao estudo com Doppler colorido. Realizou-se ressecção transuretral completa da nodulação, com diagnóstico histopatológico de carcinoma urotelial papilífero superficial de baixo grau (grau I – OMS). Urotomografia subsequente para estadiamento não demonstrou outras lesões suspeitas. Diagnóstico final: malignidades primárias múltiplas, sincrônicas, provavelmente secundárias ao tabagismo.

O câncer colônico é quarta malignidade mais comum nos homens, ocorrendo em 90% dos casos após a quinta década de vida, prevalecendo os adenocarcinomas(1). Em 5–10% das vezes estão associados a síndromes hereditárias, notadamente em adultos jovens (por exemplo: poliposes adenomatosas familiares, câncer colorretal hereditário não polipoide, etc.)(1). Relacionam-se a obesidade, sedentarismo, dieta escassa em fibras e doenças inflamatórias intestinais(1–4). Tabagismo e alcoolismo também podem contribuir(2–4).

Neoplasia maligna mais frequente do trato urinário, o câncer vesical atinge majoritariamente indivíduos acima dos 55–60 anos, sendo 75–80% homens, com predomínio de carcinomas uroteliais(5,6). Podem ser multifocais/multicêntricos no trato urinário superior e inferior, e altamente recorrentes(5). O tabagismo é responsável por 50–65% dos casos em homens e 20–30% nas mulheres(4). Outras causas menos usuais são exposição a quimioterápicos, aminas aromáticas e heterocíclicas, radioterapia e infecções crônicas(2,4–6).

Malignidades primárias múltiplas são tumores malignos confirmados, independentes, de origem não metastática(7).

Classificação: sincrônicas – identificação em até seis meses após a primeira lesão; metacrônicas – diagnóstico após seis meses do reconhecimento do primeiro tumor(7). A prevalência geral é de 0,7–11,7%, elevando-se proporcionalmente com a idade do paciente(2,3,7,8). Calcula-se que 75% dos portadores tenham mais de 50 anos(7). Esses valores estão em ascensão em razão da eficácia dos tratamentos, tipos de técnicas terapêuticas, melhoria dos métodos diagnósticos, aumento da longevidade populacional e estilo de vida contemporâneo(3,7). Hayat et al. relataram probabilidade de desenvolver uma segunda malignidade, baseada nos tumores primários diagnosticados, variando de 1% (antecedente de neoplasia hepática) a 16% (tumores vesicais prévios)(2). Braisch et al. observaram que 1,2–2,5% dos pacientes oncológicos tabagistas em seguimento desenvolviam, em até um ano, outra lesão maligna distinta(4).

Malignidades primárias múltiplas em fumantes acometem vários órgãos, destacadamente pulmões, vias aerodigestivas superiores, rins e tratos urinários superior e inferior. Outros possíveis sítios de acometimento são tireoide, estômago, cólon, reto e pâncreas(4,6,8).


REFERÊNCIAS

1. Tiferes DA, Jayanthi SK, Liguori AAL. Cólon, reto e apêndice. In: D'Ippolito G, Caldana RP, editores. Gastrointestinal – Série CBR. São Paulo: Elsevier; 2011. p. 203–51.

2. Hayat MJ, Howlader N, Reichman ME, et al. Cancer statistics, trends, and multiple primary cancer analyses from the Surveillance, Epidemiology, and End Results (SEER) Program. Oncologist. 2007;12:20–37.

3. VanderWalde AM, Hurria A. Second malignancies among elderly survivors of cancer. Oncologist. 2011;16:1572–81.

4. Braisch U, Meyer M, Radespiel-Tröger M. Risk of tobacco-related multiple primary cancers in Bavaria, Germany. BMC Cancer. 2012;12:250.

5. Prando A. Tumores uroteliais. In: Prando A, Baroni RH, editores. Urinário – Série CBR. São Paulo: Elsevier; 2013. p. 321–58.

6. Bermejo JL, Sundquist J, Hemminki K. Bladder cancer in cancer patients: population-based estimates from a large Swedish study. Br J Cancer. 2009;101:1091–9.

7. Demandante CGN, Troyer DA, Miles TP. Multiple primary malignant neoplasms: case report and a comprehensive review of the literature. Am J Clin Oncol. 2003;26:79–83.

8. Tabuchi T, Ito Y, Ioka A, et al. Tobacco smoking and the risk of subsequent primary cancer among cancer survivors: a retrospective cohort study. Ann Oncol. 2013;24:2699–704.










Documenta – Hospital São Francisco, Ribeirão Preto, SP, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Rodolfo Mendes Queiroz
Documenta – Centro Avançado de Diagnóstico por Imagem
Rua Bernardino de Campos, 980, Centro
Ribeirão Preto, SP, Brasil, 14015-130
E-mail. rod_queiroz@hotmail.com
 
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