Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 50 nº 1 - Jan. / Fev.  of 2017

CARTA AO EDITOR
Print 

Page(s) 62 to 63



Hepatocarcinoma exofítico em fígado não cirrótico simulando tumor mesenquimal

Autho(rs): Glaucio Rodrigo Silva de Siqueira1; Marcos Duarte Guimarães2; Luiz Felipe Sias Franco1; Rafaela Batista e Silva Coutinho1; Edson Marchiori3

PDF Português      

PDF English

Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Mulher de 26 anos de idade foi atendida com história de cinco meses de dor epigástrica, náuseas e vômitos. Apresentou perda ponderal de 7 kg no mês anterior. No exame clínico foi palpada uma massa volumosa na região epigástrica.

A ressonância magnética (RM) (Figuras 1A, 1B e 1C) demonstrou lesão localizada no epigástrio, expansiva, sólida, encapsulada, heterogênea, de contornos lobulados, medindo aproximadamente 25 × 20 × 12 cm, volume de 3.120 cm3, com focos de permeio de hipersinal em T2 e hipossinal em T1, comprimindo corpo e cauda do pâncreas, veia esplênica, fundo gástrico e lobo esquerdo do fígado. A lesão apresentou discreto realce heterogêneo pelo meio de contraste paramagnético. Exames laboratoriais, incluindo alfa-fetoproteína, mostraram resultados dentro dos limites da normalidade.


Figura 1. A,B: RM aquisição FIESTA com supressão de gordura, cortes axial e coronal. Lesão expansiva sólida localizada no epigástrio, encapsulada (cabeça de seta), heterogênea, de contornos lobulados, com áreas hiperintensas (seta) compatíveis com áreas de necrose. C: RM aquisição T1 com supressão de gordura após infusão intravenosa de contraste paramagnético. Impregnação difusa e heterogênea da massa tumoral pelo contraste paramagnético. Áreas sem impregnação compatíveis com área de necrose (seta). D: Exame macroscópico. Espécime recebido em formalina, designado como produto de hepatectomia esquerda, consta de fragmento de fígado que pesou 2.354 g e mediu 23 × 17 × 11 cm, de formato irregular, superfície externa acastanhada, lisa e com área cruenta que mediu 10 × 6 cm.



A paciente foi submetida a procedimento cirúrgico, em que se realizou hepatectomia do lobo esquerdo e ressecção da massa tumoral (Figura 1D). O exame anatomopatológico revelou carcinoma hepatocelular grau II de Edmondson-Steiner, multifocal, com componentes macrotrabeculares, pseudoacinar e células claras (hepatocarcinoma moderadamente diferenciado).

O hepatocarcinoma é o tumor primário mais comum do fígado(1), embora outros tipos histológicos sejam relatados(2–5). O hepatocarcinoma ocorre tipicamente em pacientes cirróticos, porém, cerca de 20% dos casos se manifestam em pacientes sem cirrose hepática(6). Apresenta picos de incidência na segunda e na sétima décadas de vida, acometendo duas vezes mais homens do que mulheres(6). Apesar de apresentar aspecto variável na RM, tipicamente é hiperintenso ou isointenso em T2 e hipointenso em T1(7,8). Após administração do contraste paramagnético, apresenta realce intenso na fase arterial e hipossinal nas fases portal e de equilíbrio, caracterizando padrão de washout do meio de contraste(9). Os tumores com mais de 1,5 cm habitualmente apresentam cápsula fibrosa que aparece como uma banda hipointensa nas fases tardias(8,9). Eventualmente, pode manifestar-se como grande massa solitária(1,8).

O hepatocarcinoma exofítico/pedunculado é muitíssimo raro(10). Um estudo demonstrou que esse tipo de tumor representa 0,24% a 3,0% de todos os casos de hepatocarcinoma no Japão(11). Apresenta-se de maneira atípica, como massa extra-hepática nos exames de imagem, simulando outro tipo de tumor primário(12). Um outro estudo descreve sete casos de pacientes que apresentavam massas extra-hepáticas à tomografia computadorizada, simulando tumor de origem primária extra-hepática, nos quais o diagnóstico correto de hepatocarcinoma exofítico foi firmado apenas após biópsia percutânea, ressecção cirúrgica ou necropsia(13).

Neste nosso relato descrevemos uma paciente jovem, sem antecedentes de doença hepática prévia ou fatores de risco conhecidos para cirrose hepática, com níveis séricos de alfa-fetoproteína normais, que apresentava volumosa massa epigástrica com padrão hipovascular de contrastação, em contato com o fígado. Os principais diagnósticos considerados foram sarcoma mesentérico e variante epitelioide de tumor estromal gastrintestinal. Em conformidade com outros estudos já publicados, a análise dos dados clínicos e das imagens obtidas pela RM não foi suficiente para indicar o diagnóstico correto.

O diagnóstico de hepatocarcinoma exofítico é difícil. Portanto, devemos considerar esta possibilidade diagnóstica nos casos que se apresentam como massa volumosa em contato com a superfície hepática, mesmo nos pacientes que não tenham fatores de risco para essa afecção(14).


REFERÊNCIAS

1. Abou-Alfa GK, Jarnagin W, Lowery M, et al. Liver and bile duct cancer. In: Niederhuber JE, Armitage JO, Doroshow JH, et al., editors. Abeloff's clinical oncology. 5th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2014. p. 1373–96.

2. Szejnfeld D, Nunes TF, Fornazari VAV, et al. Transcatheter arterial embolization for unresectable symptomatic giant hepatic hemangiomas: single-center experience using a lipiodol-ethanol mixture. Radiol Bras. 2015;48:154–7.

3. Bormann RL, Rocha EL, Kierzenbaum ML, et al. The role of gadoxetic acid as a paramagnetic contrast medium in the characterization and detection of focal liver lesions: a review. Radiol Bras. 2015;48:43–51.

4. Candido PCM, Pereira IMF, Matos BA, et al. Giant pedunculated hemangioma of the liver. Radiol Bras. 2016;49:57–8.

5. Giardino A, Miller FH, Kalb B, et al. Hepatic epithelioid hemangioendothelioma: a report from three university centers. Radiol Bras. 2016; 49:288–94.

6. Gaddikeri S, McNeeley MF, Wang CL, et al. Hepatocellular carcinoma in the noncirrhotic liver. AJR Am J Roentgenol. 2014;203:W34–47.

7. Hennedige T, Venkatesh SK. Imaging of hepatocellular carcinoma: diagnosis, staging and treatment monitoring. Cancer Imaging. 2013; 12:530–47.

8. Chung YE, Park MS, Park YN, et al. Hepatocellular carcinoma variants: radiologic-pathologic correlation. AJR Am J Roentgenol. 2009; 193:W7–13.

9. Ros PR, Erturk SM, Malignant tumors of the liver. In: Gore RM, Levine MS, editors. Textbook of gastrointestinal radiology. 4th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2015. p. 1561–607.

10. Kimura H, Inoue T, Konishi K, et al. Hepatocellular carcinoma presenting as extrahepatic mass on computed tomography. J Gastroenterol. 1997;32:260–3.

11. Horie Y, Katoh S, Yoshida H, et al. Pedunculated hepatocellular carcinoma. Report of three cases and review of literature. Cancer. 1983;51: 746–51.

12. Roumanis PS, Bhargava P, Kimia-Aubin G, et al. Atypical magnetic resonance imaging findings in hepatocellular carcinoma. Curr Probl Diagn Radiol. 2015;44:237–45.

13. Longmaid HE 3rd, Seltzer SE, Costello P, et al. Hepatocellular carcinoma presenting as primary extrahepatic mass on CT. AJR Am J Roentgenol. 1986;146:1005–9.

14. Winston CB, Schwartz LH, Fong Y, et al. Hepatocellular carcinoma: MR imaging findings in cirrhotic livers and noncirrhotic livers. Radiology. 1999;210:75–9.










1. Hospital Heliópolis, São Paulo, SP, Brasil
2. A.C.Camargo Cancer Center, São Paulo, SP, Brasil
3. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Glaucio Rodrigo Silva de Siqueira
Rua Inácio Manuel Álvares, 1000, Bloco 2, ap. 24, Jardim Ester
São Paulo, SP, Brasil, 05372-111
E-mail: glauciosiqueira@yahoo.com.br
 
RB RB RB
GN1© Copyright 2024 - All rights reserved to Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
Av. Paulista, 37 - 7° andar - Conj. 71 - CEP 01311-902 - São Paulo - SP - Brazil - Phone: (11) 3372-4544 - Fax: (11) 3372-4554