Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 49 nº 6 - Nov. / Dez.  of 2016

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 410 to 411



Tuberculose: acometimento traqueal

Autho(rs): Brainner Campos Barbosa1; Viviane Brandão Amorim2; Luiz Flávio Maia Ribeiro2; Edson Marchiori3

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Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Paciente mulher, 22 anos, previamente hígida, procurou auxílio médico com queixa de tosse produtiva e rouquidão. Negava outros sintomas respiratórios ou constitucionais, observando-se ao exame físico discreto estridor. Foi realizada tomografia computadorizada (TC) do tórax, para elucidação diagnóstica, que mostrou opacidades centrolobulares agrupadas, ramificadas, com aspecto de "árvore em brotamento", sugerindo preenchimento bronquiolar distal; a traqueia e o brônquio principal esquerdo apresentavam contorno interno irregular, com espessamento parietal nodular (Figura 1), notando-se ainda discreta densificação da gordura mediastinal adjacente a estas alterações. Foi realizado exame de escarro, que foi positivo para tuberculose, confirmando a suspeita clínica e radiológica de tuberculose traqueobrônquica. O tratamento específico foi iniciado, com resolução dos achados.


Figura 1. A: TC em corte axial mostrando estreitamento luminal irregular da traqueia (setas). B: TC em corte axial mostrando opacidades centrolobulares com aspecto de "árvore em brotamento" no lobo inferior do pulmão esquerdo sugerindo preenchimento bronquiolar. C,D: Reconstruções coronal e coronal oblíqua mostrando a traqueia e o brônquio principal esquerdo com contornos internos irregulares, além de espessamento parietal (setas).



O acometimento traqueal da tuberculose é relativamente incomum, ocorrendo em 4% dos pacientes com a forma endobrônquica da doença(1–3). Este tipo de apresentação acomete principalmente pacientes jovens, com pico de incidência na terceira década de vida e preponderância pelo sexo feminino. A doença pode afetar grande extensão da traqueia, comprometendo também os brônquios, ou apenas pequeno segmento da traqueia ou de um brônquio(4,5). A apresentação clínica pode ser insidiosa, simulando carcinoma broncogênico, ou aguda, com quadro similar ao da asma, aspiração de corpo estranho ou pneumonia. Mais comumente, os pacientes acometidos por tuberculose traqueobrônquica apresentam tosse produtiva, hemoptise, dor torácica, fraqueza generalizada, febre, dispneia e broncorreia(1,3). Em casos mais graves, pode resultar em obstrução traqueal aguda(6). O desenvolvimento de cicatriz fibrótica e a estenose traqueobrônquica são as principais complicações, sendo fundamental o correto diagnóstico e o tratamento precoce(6).

O diagnóstico diferencial é feito com outras doenças de acometimento traqueal, incluindo as de comprometimento localizado (neoplasias traqueais primárias, lesões de origem traumática e algumas doenças infecciosas) e as de comprometimento difuso (amiloidose, traqueobroncopatia osteocondroplástica, policondrite recidivante, papilomatose laringotraqueobrônquica, traqueobroncomegalia, neurofibromatose, granulomatose de Wegener, linfomas e paracoccidioidomicose)(5,7–12).

Os exames de imagem têm tido importância crescente na avaliação das doenças torácicas, conforme observado recentemente na literatura radiológica brasileira(13–19). No estudo da traqueia, eles compreendem a radiografia e, principalmente, a TC de tórax, que podem demonstrar estreitamento luminal irregular e circunferencial, associado ou não a mediastinite. Na doença fibrótica a luz é mais lisa e a parede não está espessada. Linfonodomegalias estão em geral associadas à doença ativa(4,6).

A broncofibroscopia pode revelar mucosa inflamada, granuloma submucoso ou pólipo, ulceração, hipertrofia e estenose cicatricial, e histologicamente podem ser identificados granuloma com células gigantes e necrose de caseificação(1). Embora o padrão-ouro para o diagnóstico de tuberculose traqueobrônquica seja o achado de granulomas na mucosa traqueal/brônquica, o diagnóstico com base em achados de imagem e positividade no exame de escarro é aceito e viabiliza um tratamento imediato(2).

A tuberculose traqueobrônquica exige suspeição, sendo necessária a correlação das manifestações clínicas com os achados radiológicos. O diagnóstico e o tratamento devem ser precoces, evitando, assim, as complicações da doença.


REFERÊNCIAS

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9. Marchiori E, Araujo Neto C, Meirelles GSP, et al. Laryngotracheobronchial papillomatosis: findings on computed tomography scans of the chest. J Bras Pneumol. 2008;34:1084–9.

10. Marchiori E, Escuissato DL, Souza Jr AS, et al. Computed tomography findings in patients with tracheal paracoccidioidomycosis. J Comput Assist Tomogr. 2008;32:788–91.

11. Azeredo F, Severo A, Zanetti G, et al. Floppy ears and tracheal wall narrowing. Neth J Med. 2012;70:417–21.

12. Hochhegger B, Guimarães MD, Marchiori E. Thacheal paraganglioma: differential diagnosis of a contrast-enhanced tracheal mass. AJR Am J Roentgenol. 2014;202:w598.

13. Lachi T, Nakayama M. Radiological findings of pulmonary tuberculosis in indigenous patients in Dourados, MS, Brazil. Radiol Bras. 2015; 48:275–81.

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1. Hospital Samaritano – Clínica Luiz Felippe Mattoso, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2. Clínica Felippe Mattoso, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
3. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Brainner Campos Barbosa
Rua das Laranjeiras, 371, ap. 303, Laranjeiras
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 22240-004
E-mail: brainnerc@gmail.com
 
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