Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Vol. 49 nº 5 - Set. / Out.  of 2016

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Ultrassonografia tridimensional em medicina fetal após 25 anos na prática clínica: muitos avanços e algumas dúvidas

Autho(rs): Edward Araujo Júnior

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O primeiro sistema de ultrassonografia tridimensional (US3D) em obstetrícia foi proposto por Baba et al.(1) em 1986 e consistia em um braço mecânico acoplado a um transdutor convexo bidimensional que realizava a captura de imagens bidimensionais, as quais eram enviadas para um computador e processadas em volumes tridimensionais. Contudo, o longo tempo necessário para o processamento e a baixa qualidade das imagens impediu sua aplicação clínica.

No início da década de 1990, com o advento dos transdutores volumétricos de varredura automática, abriu-se um novo horizonte na avaliação tridimensional do feto. Kuo et al.(2), em 1992, demonstraram a primeira aplicação da US3D na avaliação fetal. Desde então, diversas aplicações da US3D em medicina fetal foram descritas, como avaliação de malformações fetais(3), avaliação volumétrica de órgãos fetais(4), avaliação cardíaca(5) e do sistema nervoso central(6), além do uso do power Doppler(7). Mais recentemente, novos softwares, como o HDlive, permitem visão realística da face e superfície fetais(8). As principais vantagens da US3D seriam as seguintes: avaliação de uma estrutura fetal simultaneamente nos três planos ortogonais, avaliação do feto na ausência da gestante, menor dependência das habilidades do operador e possibilidade de envio de volumes tridimensionais para serem analisados em centros terciários(9).

Após 25 anos da introdução da US3D na prática clínica da medicina fetal, apesar da disponibilidade de aparelhos mais rápidos e com maior resolução de imagens, além de examinadores mais experientes na técnica, algumas dúvidas ainda permanecem sobre a real vantagem em relação à ultrassonografia bidimensional (US2D) convencional para o binômio materno-fetal.

Neste número da Radiologia Brasileira, Werner et al.(10) apresentam a experiência de seu grupo na construção de modelos 3D virtuais e físicos de 26 fetos únicos e 5 gemelares com diferentes malformações, obtidos por meio da US3D, ressonância magnética (RM) e tomografia computadorizada (TC). Referem que a técnica de adição de materiais permitiu a conversão de um modelo virtual 3D para um modelo físico, sendo este um processo rápido, fácil e de dimensões precisas. Concluem que os modelos 3D físicos permitem uma maior interação do casal com o feto, além de um método de educação médica continuada. Este grupo de pesquisa, desde 2010, tem proposto a utilização de modelos 3D virtuais e físicos por meio de dados de US3D, RM e TC, na avaliação de diversas malformações fetais(11–14), infecções intrauterinas(15,16) e interação materno-fetal em casais cegos(17). Em todos estes estudos, os modelos 3D permitiram um melhor entendimento da doença fetal pela equipe médica e pelo casal, além de possibilitar maior interação materno-fetal. Além disso, os modelos 3D virtuais permitiram a navegação virtual pela traqueia fetal em casos de teratomas cervicais, de forma a se avaliar o grau de compressão no período pré-natal e possibilitar o melhor manejo no parto e pós-parto(18). Apesar dos custos de impressão dos modelos 3D físicos ainda serem acessíveis apenas a pequena parcela da população, acreditamos que o maior desenvolvimento tecnológico e difusão do método tornará esta ferramenta diagnóstica disponível a uma maior parcela da população.

Em síntese, após 25 anos de prática clínica da US3D em medicina fetal, diversos avanços em diagnóstico pré-natal foram atingidos; contudo, algumas questões ainda necessitam de respostas, as quais poderão ser respondidas no futuro com o contínuo desenvolvimento tecnológico. Os modelos 3D virtuais e físicos possibilitam uma nova forma de avaliação do feto pela equipe médica, além de aumentar a interação materno-fetal, principalmente nos casos de casais cegos.


REFERÊNCIAS

1. Baba K, Satoh K, Sakamoto S, et al. Development of an ultrasonic system for three-dimensional reconstruction of the fetus. J Perinat Med. 1989;17:19–24.

2. Kuo HC, Chang FM, Wu CH, et al. The primary application of three-dimensional ultrasonography in obstetrics. Am J Obstet Gynecol. 1992;166:880–6.

3. Merz E, Bahlmann F, Weber G. Volume scanning in the evaluation of fetal malformations: a new dimension in prenatal diagnosis. Ultrasound Obstet Gynecol. 1995;5:222–7.

4. Araujo Júnior E, Guimarães Filho HA, Pires CR, et al. Validation of fetal cerebellar volume by three-dimensional ultrasonography in Brazilian population. Arch Gynecol Obstet. 2007;275:5–11.

5. Rocha LA, Rolo LC, Barros FS, et al. Assessment of quality of fetal heart views by 3D/4D ultrasonography using spatio-temporal image correlation in the second and third trimesters of pregnancy. Echocardiography. 2015;32:1015–21.

6. Caetano AC, Zamarian AC, Araujo Júnior E, et al. Assessment of intracranial structure volumes in fetuses with growth restriction by 3-dimensional sonography using the extended imaging virtual organ computer-aided analysis method. J Ultrasound Med. 2015;34:1397–405.

7. Bortoletti Filho J, Nardozza LM, Araujo Júnior E, et al. Embryo vascularization by three-dimensional power Doppler ultrasonography at 7-10 weeks of pregnancy. J Perinat Med. 2009;37:380–5.

8. Araujo Júnior E, Santana EF, Nardozza LM, et al. Assessment of embryo/fetus during pregnancy by three-dimensional ultrasonography using the HD live software: iconographic essay. Radiol Bras, 2015;48:52–5.

9. Gonçalves LF, Lee W, Espinoza J, et al. Three- and 4-dimensional ultrasound in obstetric practice: does it help? J Ultrasound Med. 2005;24:1599–624.

10. Werner H, Santos JL, Belmonte S, et al. Aplicabilidade da técnica tridimensional na medicina fetal. Radiol Bras. 2016;49:281–7.

11. Werner H, Rolo LC, Araujo Júnior E, et al. Manufacturing models of fetal malformations built from 3-dimensional ultrasound, magnetic resonance imaging, and computed tomography scan data. Ultrasound Q. 2014;30:69–75.

12. Werner H, Lopes J, Tonni G, et al. Physical model from 3D ultrasound and magnetic resonance imaging scan data reconstruction of lumbosacral myelomeningocele in a fetus with Chiari II malformation. Childs Nerv Syst. 2015;31:511–3.

13. Werner H, Lopez J, Tonni G, et al. Plastic reconstruction of fetal anatomy using three-dimensional ultrasound and magnetic resonance imaging scan data in a giant cervical teratoma. Case report. Med Ultrason. 2015;17:252–5.

14. Menezes GA, Araujo Júnior E, Lopes J, et al. Prenatal diagnosis and physical model reconstruction of agnathia-otocephaly with limb deformities (absent ulna, fibula and digits) following maternal exposure to oxymetazoline in the first trimester. J Obstet Gynaecol Res. 2016;42:1016–20.

15. Werner H, Fazecas T, Guedes B, et al. Intrauterine Zika virus infection and microcephaly: correlation of perinatal imaging and three-dimensional virtual physical models. Ultrasound Obstet Gynecol. 2016;47:657–60.

16. Werner H, Sodré D, Hygino C, et al. First-trimester intrauterine Zika virus infection and brain pathology: prenatal and postnatal neuroimaging findings. Prenat Diagn. 2016; 36:785-9.

17. Werner H, Lopes J, Tonni G, et al. Maternal-fetal attachment in blind women using physical model from three-dimensional ultrasound and magnetic resonance scan data: six serious cases. J Matern Fetal Neonatal Med. 2016;29:2229–32.

18. Werner H, Lopes dos Santos JR, Fontes R, et al. Virtual bronchoscopy for evaluating cervical tumors of the fetus. Ultrasound Obstet Gynecol. 2013;41:90–4.










Livre-docente, Professor Adjunto da Disciplina de Medicina Fetal do Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), São Paulo, SP, Brasil. E-mail: araujojred@terra.com.br
 
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