CARTA AO EDITOR
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Autho(rs): Bruna Maria Thompson1 ; Flávio Ferrarini de Oliveira Pimentel1 ; Jaime Afonso Coelho Nogueira Diógenes1 ; Marcelo Hajime Kohayagawa2 ; Maria Regina Vianna2 |
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Sr. Editor,
Paciente do sexo masculino, 53 anos de idade, admitido no Hospital Alemão Oswaldo Cruz em 2014 com dor lombossacra intensa há três meses e piora progressiva. Foi realizada tomografia computadorizada (TC), que mostrou lesões ósseas na coluna e bacia, compatíveis com comprometimento secundário. Prosseguiu-se a investigação com biópsia de bacia orientada por TC, com resultado de adenocarcinoma metastático, e imuno-histoquímica mostrando receptores de estrógeno e progesterona positivos, condizente com sítio primário da mama. O paciente relatou um nódulo palpável na mama direita há três anos, de consistência endurecida, medindo 2,0 cm. A ultrassonografia mostrou nódulo sólido, hipoecogênico, irregular e espiculado na região retroareolar, adjacente à papila (Figura 1A), categorizado como BI-RADS 5(1), cuja biópsia de fragmento mostrou carcinoma invasivo de tipo não especial (carcinoma ductal invasivo) (Figura 1B), com receptores hormonais positivos e HER2 negativo. Figura 1. A: Ultrassonografia identificando nódulo sólido, hipoecogênico, irregular e espiculado, adjacente à papila da mama direita. B: Biópsia de mama direita demonstrando infiltração maciça por carcinoma invasivo de tipo não especial, grau III. Coloração hematoxilina-eosina. O tumor de mama foi classificado como estádio clínico IV, com metástase para pulmão (linfangite carcinomatosa à TC) e ossos, sem indicação de cirurgia para a lesão mamária. Quimioterapia seguida de hormonioterapia foi o tratamento de escolha. Após um ano o paciente foi reestadiado. A TC de abdome superior mostrou nódulos parenquimatosos sugestivos de implantes secundários no baço, também vistos no ultrassom (Figura 2A). Biópsia percutânea esplênica orientada por ultrassom diagnosticou metástase de carcinoma mamário (Figura 2B), iniciando-se novo esquema quimioterápico por progressão exclusiva esplênica. Figura 2. A: Ultrassonografia mostrando múltiplos nódulos esplênicos hipoecogênicos, um deles apontado pela seta. B: Biópsia demonstrando infiltração esplênica pelo carcinoma mamário. Coloração hematoxilina-eosina. O câncer de mama masculino é raro, representando 0,6% dos cânceres de mama e menos de 1% dos carcinomas em homens. A idade média ao diagnóstico é de 65 anos(2). A queixa mais frequente é nódulo palpável, geralmente > 2,0 cm(3). Mamografia e ultrassonografia são utilizadas para o diagnóstico, seguindo critérios de malignidade do câncer de mama feminino(2,4–6). O subtipo histológico mais comum é o carcinoma ductal invasivo, frequentemente positivo para estrógeno e progesterona(2). O tratamento de escolha é mastectomia e possível esvaziamento axilar ipsilateral (envolvimento linfonodal de 50–60%)(3). Quimioterapia e radioterapia extrapolam indicações utilizadas para o câncer de mama feminino, bem como a hormonioterapia, sendo o tamoxifeno a droga de escolha(3). O padrão metastático do câncer de mama masculino segue o feminino, sendo ossos, pulmão e fígado os sítios mais comuns. A metástase esplênica relacionada ao câncer de mama, conforme apresentando neste caso, é rara na literatura, havendo poucos relatos e todos relacionados a mulheres. Metástases para o baço são bastante incomuns, podem ser únicas ou múltiplas e frequentemente ocorrem num contexto de carcinoma metastático multivisceral, geralmente sem relevância clínica, sendo a esplenectomia paliativa no caso de sintomas. São detectadas incidentalmente por meio de exames de imagem para seguimento do tumor primário (melanoma é o principal) e radiologicamente indistinguíveis de lesões primárias. O significado clínico dessas metástases não está bem estabelecido na literatura. Quando isoladas, 60% são assintomáticas, entretanto, o paciente pode apresentar fadiga, esplenomegalia, entre outros sintomas. Quando solitária, não há estudos na literatura sobre a abordagem preferencial. O diagnóstico pode ser feito por biópsia percutânea, com baixas taxas de complicação (0–2%)(7). REFERÊNCIAS 1. American College of Radiology. ACR BI-RADS® Atlas, 2013. Reston, VA: American College of Radiology; 2013. 2. Oger AS, Boukerrou M, Cutuli B, et al. Male breast cancer: prognostic factors, diagnosis and treatment: a multi-institutional survey of 95 cases. Gynecol Obstet Fertil. 2015;43:290–6. 3. Harlan LC, Zujewski JA, Goodman MT, et al. Breast cancer in men in the United States: a population-based study of diagnosis, treatment, and survival. Cancer. 2010;116:3558–68. 4. Valentim MH, Monteiro V, Marques JC. Primary neuroendocrine breast carcinoma: a case report and literature review. Radiol Bras. 2014;47:125–7. 5. Bitencourt AGV, Lima ENP, Chojniak R, et al. Correlation between PET/ CT results and histological and immunohistochemical findings in breast carcinomas. Radiol Bras. 2014;47:67–73. 6. Pinheiro DJPC, Elias S, Nazário ACP. Axillary lymph nodes in breast cancer patients: sonographic evaluation. Radiol Bras. 2014;47:240–4. 7. Compérat E, Bardier-Dupas A, Camparo P, et al. Splenic metastases: clinicopathologic presentation, differential diagnosis, and pathogenesis. Arch Pathol Lab Med. 2007;131:965–9. 1. Grupo Fleury/Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, SP, Brasil 2. Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, SP, Brasil Endereço para correspondência: Dra. Bruna Maria Thompson Rua Afonso de Freitas, 78, ap. 71, Paraíso São Paulo, SP, Brasil, 04006-050 E-mail: thompsonbruna@gmail.com |