Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 49 nº 5 - Set. / Out.  of 2016

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 340 to 342



Corpo estranho brônquico em criança: a importância do diagnóstico correto

Autho(rs): Antonio Gabriel de Jesus Barbosa1; Diana Penha2; Gláucia Zanetti1; Edson Marchiori1

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Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Paciente do sexo feminino, 7 anos de idade, chegou na emergência com queixas de, há 24 horas, dispnéia, febre e episódio de síncope. No exame físico foram detectados temperatura axilar de 38°C e murmúrio vesicular abolido à esquerda. O hemograma mostrou 21.000 leucócitos, com 8 bastões. Após realizar tomografia computadorizada (TC) de tórax, a paciente foi internada com diagnóstico presuntivo de pneumonia comunitária. No primeiro dia de internação apresentou queda da saturação de oxigênio, cianose e parada cardiorrespiratória, revertidas após manobras habituais de ressuscitação. Após trinta dias de cuidados intensivos e antibioticoterapia, houve melhora dos parâmetros clínicos e laboratoriais. No entanto, mantinha, na ausculta pulmonar, redução do murmúrio vesicular no hemitórax esquerdo. Diante deste achado, realizou-se nova TC de tórax.

A primeira TC de tórax mostrou atelectasia do pulmão esquerdo (Figura 1A), que foi erroneamente interpretada como pneumonia. Nova TC, realizada um mês após, mostrava redução difusa do coeficiente de atenuação do parênquima do pulmão esquerdo, com hiperinsuflação (Figuras 1B e 1C). Foi sugerida a possibilidade de obstrução brônquica parcial, hipótese fortalecida pela visualização de imagem arredondada, com diâmetro de 20 mm, localizada no terço distal do brônquio principal esquerdo. A paciente foi submetida a procedimento broncoscópico, que identificou e retirou o corpo estranho, um componente plástico de caneta esferográfica (Figura 1D), recebendo alta dias depois.


Figura 1. Em A, TC de tórax mostra atelectasia total do pulmão esquerdo. Em B e C, nova TC realizada um mês após exibe redução difusa da atenuação do pulmão esquerdo, com discreta hiperinsuflação. Nota-se também, em C, imagem densa no interior do brônquio principal esquerdo (setas). Em D, fotografia do corpo estranho removido por broncoscopia.



A aspiração de corpo estranho (ACE) é um evento comum, com significativo potencial de morbimortalidade(1–4). Crianças, particularmente as com menos de três anos de idade e do sexo masculino, são as vítimas mais frequentes(1,5,6).

O diagnóstico de ACE nem sempre é fácil, pois na maior parte dos casos os pais não presenciam o acidente e a suspeita deve ser feita com base na história clínica, exame físico e métodos diagnósticos complementares(1). De modo geral, a apresentação clínica depende de fatores como o tipo, o tamanho e a localização do corpo estranho, além da idade do paciente. Vale ressaltar que uma parcela das vítimas pode estar assintomática e sem alterações ao exame físico(1,5,6).

A maioria dos corpos aspirados é radiotransparente, de modo que os achados de imagem no exame radiográfico são alterações secundárias à sua presença na via aérea e dependem do tamanho do corpo estranho, do local de impactação e do grau de obstrução causado(3,5). Os principais achados radiológicos são atelectasia, aprisionamento aéreo/hiperinsuflação pulmonar, individualização do corpo estranho radiopaco e, menos frequentemente, pneumomediastino e pneumotórax(2).

A TC é o exame de escolha para a avaliação de grande parcela das doenças pulmonares, conforme mostra a recente literatura radiológica nacional(7–12). A TC e a broncoscopia são úteis na investigação dos quadros respiratórios persistentes, em que a ACE figura como hipótese diagnóstica. O diagnóstico de ACE deve ser precoce, pois o retardo no seu reconhecimento e tratamento pode determinar sequelas definitivas ou dano fatal. Muitos pacientes são tratados por semanas a meses para doenças respiratórias recorrentes, até que haja suspeita de ACE(1).

Em conclusão, a presença de quadro respiratório agudo associado a atelectasia em crianças deve ser um sinalizador para a probabilidade de ACE, determinando indicação precoce de exame broncoscópico, uma vez que se trata de método tanto diagnóstico como terapêutico.


REFERÊNCIAS

1. Fraga AMA, Reis MC, Zambon MP, et al. Foreign body aspiration in children: clinical aspects, radiological aspects and bronchoscopic treatment. J Bras Pneumol. 2008;34:74–82.

2. Mu LC, Sun DQ, He P. Radiological diagnosis of aspirated foreign bodies in children: review of 343 cases. J Laryngol Otol. 1990;104:778–82.

3. Hochhegger B, Irion KL, Andrade CF, et al. Congenital lobar emphysema: the role of multislice computed tomography with virtual bronchoscopy in the differential diagnosis with bronchial foreign bodies. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2012;269:2015–6.

4. Hochhegger B, Irion KL, Zanetti G, et al. A curious case of pill aspiration. Chest. 2015;147:e234–5.

5. Oliveira CF, Almeida JF, Troster EJ, et al. Complications of tracheobronchial foreign body aspiration in children: report of 5 cases and review of the literature. Rev Hosp Clin Fac Med Sao Paulo. 2002;57:108–11.

6. Bittencourt PFS, Camargos PAM. Aspiração de corpos estranhos. J Pediatr (Rio J). 2002;78:9–18.

7. Franco RM, Guimaraes MD, Moreira BL, et al. Enhancing survival with early surgical resection of endobronchial metastasis in a follow-up of ovarian carcinoma. Radiol Bras. 2015;48:130.

8. Barbosa BC, Marchiori E, Zanetti GMR, et al. Catamenial pneumothorax. Radiol Bras. 2015;48:128–9.

9. Francisco FAF, Rodrigues RS, Barreto MM, et al. Can chest high-resolution computed tomography findings diagnose pulmonary alveolar microlithiasis? Radiol Bras. 2015;48:205–10.

10. Batista MN, Barreto MM, Cavaguti RF, et al. Pulmonary artery sarcoma mimicking chronic pulmonary thromboembolism. Radiol Bras. 2015;48:333–4.

11. Fernandes GL, Teixeira AA, Antón AGS, et al. Churg-Strauss syndrome: a case report. Radiol Bras. 2014;47:259–61.

12. Nishiyama KH, Falcão EAA, Kay FU, et al. Acute tracheobronchitis caused by Aspergillus: case report and imaging findings. Radiol Bras. 2014;47:317–9.










1. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2. Heart and Chest Hospital NHS Foundation Trust, Liverpool, UK

Endereço para correspondência:
Dr. Edson Marchiori
Rua Thomaz Cameron, 438, Valparaíso
Petrópolis, RJ, Brasil, 25685-120
E-mail: edmarchiori@gmail.com
 
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