Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 49 nº 4 - Jul. / Ago.  of 2016

CARTA AO EDITOR
Print 

Page(s) 273 to 274



Degeneração caseosa do anel mitral: aspectos tomográficos

Autho(rs): Fernanda Boldrini Assunção1; Diogo Costa Leandro de Oliveira1; Alair Augusto Sarmet Moreira Damas dos Santos2; Marcelo Souto Nacif2

PDF Português      

PDF English

Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Paciente de 62 anos, com insuficiência renal crônica em tratamento dialítico intermitente, foi admitido com queixa de dispneia progressiva, apesar do tratamento dialítico otimizado. Foi realizada ecocardiografia, que demonstrou uma formação expansiva na valva mitral, e para melhor avaliação deste achado foi solicitada tomografia computadorizada cardíaca (TCC). Neste exame identificou-se calcificação grosseira do tipo caseosa entre as comissuras anterior e posterior, associada a restrição importante da abertura da valva mitral, com abertura máxima de 0,7 cm3 pela técnica da planimetria (Figura 1). As imagens na TCC permitiram estabelecer o diagnóstico de degeneração caseosa do anel mitral.


Figura 1. Degeneração caseosa da valva mitral. A: Eixo longo duas câmaras demonstrando as calcificações grosseiras do tipo caseosas entre as comissuras anterior e posterior. B: Eixo curto, no plano da valva mitral, em que se observa, além das calcificações caseosas, restrição importante de abertura da valva mitral. C: Reconstrução volumétrica em volume rendering permitiu estabelecer o diagnóstico de degeneração caseosa do anel mitral.



O aprimoramento nos métodos de imagem na avaliação das doenças cardiovasculares tem sido objetivo de uma série de estudos recentes publicados por autores nacionais(1–5). A degeneração caseosa do anel mitral é um processo crônico degenerativo que normalmente envolve o anel mitral posterior(6), sendo mais prevalente em idosos do sexo feminino(7) e nos pacientes com insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico(8–10). É uma doença rara, correspondendo a 0,5–1% das calcificações do anel mitral. Apesar de rara, é um importante diagnóstico diferencial com tumores cardíacos, trombos, vegetações e abscessos(11).

Na maioria dos casos os pacientes são assintomáticos e o diagnóstico é feito por exame de imagem cardíaca realizado com outro propósito. Os sintomas, quando presentes, correspondem a palpitações, dispneia e síncope(11). O prognóstico da degeneração caseosa do anel mitral é bom, principalmente em pacientes assintomáticos; entretanto, alguns pacientes podem desenvolver disfunção valvar grave sintomática e nestes casos o prognostico é ruim e a cirurgia deve ser considerada(9,12).

Na TCC observa-se massa hiperdensa em forma de crescente ou massa oval bem definida com calcificação periférica, geralmente ao longo do anel mitral posterior, que não realça após administração de contraste(13). A heterogeneidade do conteúdo da massa é confirmada pela variação de densidade, que pode ser desde unidades Hounsfield negativas, sugerindo degeneração gordurosa, até unidades Hounsfield elevadas, sugerindo o alto teor proteico e calcificação estrutural(14). A hipodensidade central é secundária a liquefação do cálcio que preenche o centro da massa(11,13,15).

Neste contexto, pode-se concluir que a TCC auxilia na confirmação diagnóstica, permite avaliar o grau de estenose da valva mitral e oferece medidas para a melhor estratégia terapêutica, principalmente na programação de implante transcateter ou percutâneo transapical de valva mitral, sendo por isso considerada excelente ferramenta neste diagnóstico.


REFERÊNCIAS

1. Neves PO, Andrade J, Monção H. Coronary anomalies: what the radiologist should know. Radiol Bras. 2015;48:233–41.

2. Araújo Neto CA, Oliveira Andrade AC, Badaró R. Intima-media complex in the investigation of atherosclerosis in HIV-infected patients [Letter]. Radiol Bras 2014;47(1):x.

3. Brasileiro Junior VL, Luna AHB, Sales MAO, et al. Reliability of digital panoramic radiography in the diagnosis of carotid artery calcifications. Radiol Bras. 2014;47:28–32.

4. Ramos SMO, Glavam AP, Kubo TTA, et al. Optimization of a protocol for myocardial perfusion scintigraphy by using an anthropomorphic phantom. Radiol Bras. 2014;47:217–22.

5. Barranhas AD, Santos AASMD, Coelho-Filho OR, et al. Cardiac magnetic resonance imaging in clinical practice. Radiol Bras. 2014;47:1–8.

6. Stamou SC, Braverman AC, Kouchoukos NT. Caseous calcification of the anterior mitral valve annulus presenting as intracardiac mass. J Thorac Cardiovasc Surg. 2010;140:e9–e10.

7. França LA, Rodrigues ACT, Vieira MLC, et al. Calcificação caseosa do anel mitral: relato de caso. Einstein. 2013;11:370–2.

8. Sequeira A, Morris L, Patel, B, et al. Calcific mitral stenosis in the hemodialysis patient. Hemodial Int. 2014;18:212–4.

9. Mozenska O, Sypula S, Celinska-Spoder M, et al. Mitral annulus caseous calcification mimicking cardiac mass in asymptomatic patient – multimodality imaging approach to incidental echocardiographic finding. Pol J Radiol. 2014;79:88–90.

10. Stone E, Cohn D, Deal C, et al. Calcific atrial mass in end-stage renal failure. Nephrol Dial Transplant. 1997;12:807–10.

11. Elgendy IY, Conti CR. Caseous calcification of the mitral annulus: a review. Clin Cardiol. 2013;36:E27–31.

12. Mallat N, Limeme M, Zaghouani H, et al. Caseous calcification of the mitral annulus on MDCT: a rare intracardiac mass. Acta Radiol Short Rep. 2013;2:2047981613502177.

13. Vanovermeire OM, Duerinckx AJ, Duncan DA, et al. Caseous calcification of the mitral annulus imaged with 64-slice multidetector CT and magnetic resonance imaging. Int J Cardiovasc Imaging. 2006;22:553–9.

14. Harpaz D, Auerbach I, Vered Z, et al. Caseous calcification of the mitral annulus: a neglected, unrecognized diagnosis. J Am Soc Echocardiogr. 2001;14:825–31.

15. Ribeiro S, Salgado A, Salomé N, et al. Caseous calcification of the mitral annulus: a multi-modality imaging perspective. Rev Port Cardiol. 2012;31:313–6.











1. Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), Niterói, RJ, Brasil
2. Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ, Brasil

Endereço para correspondência:
Dra. Fernanda Boldrini Assunção
Hospital Universitário Antonio Pedro – Radiologia
Rua Marquês do Paraná, 303, 2º andar, Centro
Niterói, RJ, Brasil, 24030-900
E-mail: fernandabassuncao@gmail.com
 
RB RB RB
GN1© Copyright 2024 - All rights reserved to Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
Av. Paulista, 37 - 7° andar - Conj. 71 - CEP 01311-902 - São Paulo - SP - Brazil - Phone: (11) 3372-4544 - Fax: (11) 3372-4554