Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 49 nº 4 - Jul. / Ago.  of 2016

EDITORIAIS
Print 

Page(s) V to V



A importância da tomografia computadorizada do tórax na suspeição do diagnóstico das micobacterioses não tuberculosas (Mycobacterium kansasii)

Autho(rs): Miriam Menna Barreto1; Rosana Souza Rodrigues2

PDF Português      

PDF English

Texto em Português English Text

A avaliação por métodos de imagem de pacientes com tuberculose tem sido motivo de um série de publicações recentes na literatura radiológica nacional(1–5). As micobactérias não tuberculosas (MNTBs) são cada vez mais reconhecidas como causa importante de infecção pulmonar em pacientes imunocompetentes. Ao contrário do Mycobacterium tuberculosis, que é um patógeno humano obrigatório, as MNTBs são comumente isoladas de fontes ambientais como a água e o solo e podem cursar com doença pulmonar grave, sendo causa crescente de morbidade e mortalidade(6–8). A doença pulmonar ocorre principalmente em idosos, com ou sem comorbidades, mais frequentemente ocasionada pelo M. aviumintracellulare, seguido pelo M kansasii(9).

O diagnóstico de infecção pelas MNTBs é geralmente difícil, pois as manifestações clínicas são inespecíficas e o isolamento da bactéria no escarro ou lavado broncoalveolar pode representar apenas colonização das vias aéreas. A American Thoracic Society(10) estabelece critérios para a confirmação do diagnóstico que incluem dados clínicos, identificação da micobactéria e alterações nos exames de imagem. Sendo assim, os aspectos radiológicos e tomográficos da infecção pelo M. kansasii tem papel relevante para o diagnóstico definitivo.

O artigo de Mogami et al.(11), publicado neste número da Radiologia Brasileira, é um excelente estudo no qual os autores abordam os principais aspectos encontrados na tomografia computadorizada (TC) do tórax em 19 pacientes com infecção pulmonar por M. kansasii confirmada por todos os critérios estabelecidos.

A infecção pulmonar por MNTBs, tomograficamente, pode apresentar-se de três formas: a clássica, semelhante à tuberculose; a bronquiectásica; ou como pneumonite de hipersensibilidade(12). A forma bronquiectásica, comum em mulheres de meia-idade, tem um padrão mais característico, apresentando-se como nódulos centrolobulares com ou sem padrão de árvore em brotamento associada a bronquiectasias cilíndricas geralmente no lobo médio e língula(13). No estudo de Mogami et al.(11) houve predomínio das bronquiectasias nos lobos superiores, o que demonstra que o radiologista deve conhecer e suspeitar de infecção por MNTB em casos não típicos. O estudo possui grande valor principalmente em países com alta prevalência de tuberculose, como ocorre no Brasil, onde é da maior relevância o diagnóstico diferencial entre as micobacterioses, pois é sabido que o início do tratamento antituberculose presuntivo é uma prática comum. As manifestações tomográficas da infecção pelo M. kansasii podem ser indistinguíveis da infecção causada pelo M. tuberculosis, como foi demonstrado no estudo. Os autores concluíram que houve predomínio de cavidades e do padrão de acometimento de pequenas e grandes vias aéreas (caracterizado por bronquiectasias e alterações por preenchimento de bronquíolos). Foi ainda destacado pelos autores um achado interessante: a presença de distorção arquitetural, encontrada em quase 90% dos pacientes, o que pode ser devido à alta prevalência de tuberculose na população estudada.

Concluindo, o trabalho de Mogami et al.(11) demonstra com detalhes os aspectos tomográficos que podem ajudar o radiologista a suspeitar da infecção pulmonar pelo M. kansasii e incluí-la no diagnóstico diferencial.


REFERÊNCIAS

1. Araujo ALE. Relevance of imaging in the evaluation of abdominal tuberculosis [Editorial]. Radiol Bras. 2015;48(3):vii.

2. Rocha EL, Pedrassa BC, Bormann RL, et al. Abdominal tuberculosis: a radiological review with emphasis on computed tomography and magnetic resonance imaging findings. Radiol Bras. 2015;48:181–91.

3. Lachi T, Nakayama M. Radiological findings of pulmonary tuberculosis in indigenous patients in Dourados, MS, Brazil. Radiol Bras. 2015;48:275–81.

4. Guimarães MD. Pulmonary tuberculosis in Brazilian indians: a picture of this context depicted through radiography [Editorial]. Radiol Bras. 2015;48(5):v–vi.

5. Ceratti S, Pereira TR, Velludo SF, et al. Pulmonary tuberculosis in a patient with rheumatoid arthritis undergoing immunosuppressive treatment: case report. Radiol Bras. 2014;47:60–2.

6. O'Brien RJ, Geiter LJ, Snider DE Jr. The epidemiology of nontuberculous mycobacterial diseases in the United States. Results of a national survey. Am Rev Respir Dis. 1987;135:1007–14.

7. Koh WJ, Kwon OJ, Lee KS. Nontuberculous mycobacterial pulmonary diseases in immunocompetent patients. Korean J Radiol. 2002;3:145–57.

8. Goo JM, Im JG. CT of tuberculosis and nontuberculous mycobacterial infections. Radiol Clin North Am. 2002;40:73–87.

9. Erasmus JJ, McAdams HP, Farrell MA, et al. Pulmonary nontuberculous mycobacterial infection: radiologic manifestations. Radiographics. 1999;19:1487–505.

10. Griffith DE, Aksamit T, Brown-Elliott BA, et al. An official ATS/IDSA statement: diagnosis, treatment, and prevention of nontuberculous mycobacterial diseases. Am J Respir Crit Care Med. 2007;175:367–416.

11. Mogami R, Goldenberg T, Marca PGC, et al. Pulmonary infection caused by Mycobacterium kansasii: findings on computed tomography of the chest. Radiol Bras. 2016;49:209–13.

12. Martinez S, McAdams HP, Batchu CS. The many faces of pulmonary nontuberculous mycobacterial infection. AJR Am J Roentgenol. 2007;189:177–86.

13. Koh WJ, Lee KS, Kwon OJ, et al. Bilateral bronchiectasis and bronchiolitis at thin-section CT: diagnostic implications in nontuberculous mycobacterial pulmonary infection. Radiology. 2005;235:282–8.










1. Serviço de Radiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: miriam.menna@gmail.com
2. Serviço de Radiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF-UFRJ), Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: rosana.souzarodrigues@gmail.com
 
RB RB RB
GN1© Copyright 2024 - All rights reserved to Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem
Av. Paulista, 37 - 7° andar - Conj. 71 - CEP 01311-902 - São Paulo - SP - Brazil - Phone: (11) 3372-4544 - Fax: (11) 3372-4554