CARTA AO EDITOR
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Autho(rs): Laís Bastos Pessanha; André Ribeiro Nogueira de Oliveira; Luiz Felipe Alves Guerra; Diego Lima Nava Martins; Ronaldo Garcia Rondina; Melissa Bozzi Nonato Mello |
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Sr. Editor,
Paciente adolescente, sexo feminino, 15 anos de idade, iniciou com quadro insidioso de emagrecimento e febre baixa. Após biópsia de linfonodomegalia palpável, foi diagnosticado linfoma de Hodgkin. Uma PET/CT com FDG-F-18 foi realizada durante o estadiamento inicial, que mostrou linfonodomegalia hipermetabólica mediastinal, axilar e cervical (Figura 1). Os achados foram interpretados como linfoma em atividade nos sítios referidos. No estudo basal de PET/CT não era observada atividade metabólica em projeção de gordura marrom. Foi iniciada quimioterapia com protocolo adriblastina, bleomicina, vimblastina e dacarbazina nos dias D1 e D15 de cada ciclo, com ciclos a cada 28 dias. Foram realizados seis ciclos, sem intercorrência. Novo estudo de PET/CT com FDG para avaliação da resposta terapêutica, realizado após pouco mais de três meses, demonstrou regressão completa de todas as lesões interpretadas como linfoma em atividade no primeiro estudo. Observou-se também o surgimento de atividade em projeção de tecido adiposo, com distribuição típica de gordura marrom (na base do pescoço e nos ombros - Figura 2). Figura 1. Exame de PET/CT mostrando linfonodomegalias hipermetabólicas nas cadeias cervicais pré-tratamento quimioterápico. Figura 2. Exame de PET/CT para controle após três meses de tratamento quimioterápico demonstrando surgimento de atividade em projeção de tecido adiposo, com distribuição típica de gordura marrom. A gordura marrom é um tecido adiposo especializado na geração de calor mediante metabolização de glicose (diferentemente da gordura branca, cuja função é apenas o armazenamento de energia sob a forma de lipídios)(1,2). Quando comparada à gordura branca, a gordura marrom é rica em vascularização e inervação pelo sistema nervoso simpático. Muitas vezes a atividade metabólica na gordura marrom pode obscurecer lesões hipermetabólicas (por exemplo: linfonodos metastáticos) em meio a ela(1,2). O surgimento de atividade em gordura marrom com desaparecimento de lesões suspeitas para linfoma em atividade após o término da quimioterapia é descrito na literatura em crianças e adolescentes e está relacionado a resposta terapêutica completa no linfoma(3,4). Esta relação inversa entre a ausência de tumor e a presença de tecido adiposo marrom foi observada em pacientes de ambos os sexos, sendo independente da massa corporal e temperatura(3,4). Os possíveis mecanismos para a supressão da gordura marrom pelo linfoma são desconhecidos. No entanto, pacientes com linfomas malignos têm altos níveis circulantes de fator de necrose tumoral alfa, importante citocina capaz de induzir um grande número de efeitos biológicos, em múltiplos sistemas, incluindo a degeneração apoptótica de adipócitos marrons(1-4). A PET/CT com uso do FDG tem sido amplamente adotada como uma modalidade de imagem principal na avaliação do linfoma(5,6). A identificação do tecido adiposo marrom em humanos, por PET/CT, reavivou o interesse na função e importância destas células, uma vez que existia o pensamento de que estas eram vistas somente em recém-nascidos, sendo atualmente identificadas pela PET/CT também em crianças e adultos jovens(7,8). O conhecimento de que o tecido adiposo marrom é preditor de estado de doença contribui para a correta análise de estudos em crianças e adolescentes com linfoma, sendo útil no acompanhamento e terapêutica clínicas. REFERÊNCIAS 1. Cannon B, Nedergaard J. Brown adipose tissue: function and physiological significance. Physiol Rev. 2004;84:277-359. 2. Kleis M, Daldrup-Link H, Mathay K, et al. Diagnostic value of PET/CT for the staging and restaging of pediatric tumors. Eur J Nucl Med Mol Imaging. 2009;36:23-36. 3. Gilsanz V, Hu HH, Kajimura S. Relevance of brown adipose tissue in infancy and adolescence. Pediatr Res. 2013;73:3-9. 4. Gilsanz V, Hu HH, Smith ML, et al. The depiction of brown adipose tissue is related to disease status in pediatric patients with lymphoma. AJR Am J Roentgenol. 2012;198:909-13. 5. Bitencourt AGV, Lima ENP, Chojniak R, et al. Correlation between PET/ CT results and histological and immunohistochemical findings in breast carcinomas. Radiol Bras. 2014;47:67-73. 6. Soares Junior J, Fonseca RP, Cerci JJ, et al. Lista de recomendações do exame PET/CT com 18F-FDG em oncologia. Consenso entre a Sociedade Brasileira de Cancerologia e a Sociedade Brasileira de Biologia, Medicina Nuclear e Imagem Molecular. Radiol Bras. 2010;43:255-9. 7. Oliveira CM, Sá LV, Alonso TC, et al. Suggestion of a national diagnostic reference level for 18F-FDG/PET scans in adult cancer patients in Brazil. Radiol Bras. 2013;46:284-9. 8. Curioni OA, Souza RP, Amar A, et al. Value of PET/CT in the approach to head and neck cancer. Radiol Bras. 2012;45:315-8. Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil Endereço para correspondência: Dra. Laís Bastos Pessanha Departamento de Clínica Médica/CCS/UFES Avenida Marechal Campos, 1468, Nazareth Vitória, ES, Brasil, 29043-900 E-mail: laispessanha@hotmail.com |