Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

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Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 48 nº 6 - Nov. / Dez.  of 2015

CARTA AO EDITOR
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Page(s) 399 to 400



Tromboflebite plantar: um diagnóstico diferencial raro em pacientes com dor plantar

Autho(rs): Maurício Fabro; Sara Raquel Madalosso Fabro; Rafael Santiago Oliveira Sales; Cesar Augusto Machado; Gustavo Lopes de Araújo

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Texto em Português English Text

Sr. Editor,

Paciente do sexo feminino, 42 anos de idade, tabagista e com histórico de púrpura trombocitopênica trombótica, em terapia com corticosteroides e plasmaferese, deu entrada hospitalar com quadro de dor importante na região plantar do pé direito e dificuldade na deambulação, quadro iniciado há cerca de uma semana. Negava qualquer evento traumático, procedimento cirúrgico ou viagem recente. Ao exame físico percebia-se apenas hiperalgia à palpação. Foi solicitada ressonância magnética (RM) do pé direito, que demonstrou espessamento e falha de enchimento em toda a extensão da veia plantar lateral, associados a realce perivenular e edema das estruturas adjacentes, inferindo tromboflebite plantar (Figura 1). Foi realizada ultrassonografia suplementar, que mostrou material hipoecogênico no interior da veia plantar lateral associado a ectasia e não compressibilidade do vaso, assim como ausência de fluxo ao estudo Doppler, achados que corroboravam a hipótese inicial (Figura 2). A paciente recebeu alta hospitalar com orientações de repouso e tratamento com anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), apresentando melhora dos sintomas no acompanhamento ambulatorial.


Figura 1. A: Sequência DP com saturação da gordura demonstrando espessamento parietal da veia plantar lateral, associado a edema perivascular (seta). B,C: Sequência T1 pós-injeção de contraste mostrando falha de enchimento endoluminal e realce perivascular (cabeças de setas).


Figura 2. Ultrassonografia da região plantar mostrando material hipoecogênico no interior da veia plantar lateral, associado a ectasia e não compressibilidade do vaso, assim como ausência de fluxo ao estudo Doppler.



Tromboflebite plantar (TFP) é uma condição rara(1), havendo menos de 100 casos publicados atualmente(2), caracterizada pela formação de trombo intraluminal nas veias plantares. Acomete preferencialmente mulheres com idade média de 58,2 anos(3). A veia, geralmente trombosada, é a plantar lateral, acometida em 96% dos casos, seguida pela plantar média, em 41% das vezes(3). São especulados diversos agentes causais, entre eles, traumas(4,5), síndromes paraneoplásicas(6,7), estado pós-cirúrgico(4,7), trombofilias(2,6), uso de anticoncepcionais(2,4), imobilização(5,6) e infecção pelo HIV(7). Contudo, a maioria dos casos é classificada como idiopática(2).

Os sinais e sintomas cardinais de TFP são a dor plantar(1-3) de início recente(7,8) e o edema local, com apresentação tipicamente unilateral(1), associados a limitação da deambulação(2).

Como a lista de diagnósticos diferenciais é vasta, os métodos de diagnóstico por imagem tornam-se uma ferramenta útil na correta caracterização da doença.

A ultrassonografia é considerada o principal método no diagnóstico da TFP(1,3), demonstrando conteúdo venoso hipoecoico(2,6) associado a ectasia(2,5,6), perda da compressibilidade vascular(2,4) e ausência de fluxo ao estudo Doppler(2,6). Entretanto, as veias plantares são negligenciadas no exame de rotina(1,2,4), o que pode explicar a baixa taxa de diagnóstico da doença.

A RM tem ganhado destaque, pois, além de fazer o diagnóstico de TFP, consegue excluir outras possíveis causas de dor plantar(2). Tem como achados principais a caracterização de falha de enchimento intraluminal das veias plantares(2,4,6), associada a edema(5,6) e realce perivenular(5). Esses achados foram encontrados em 100% dos casos, em um dos maiores estudos versando sobre o tema(5). Em contrapartida, somente em 2008 foi descrito o primeiro caso de TFP diagnosticado pela RM(9).

A TFP não possui tratamento definido(1,3), havendo a possibilidade de uso de anticoagulação(1-4,6), AINES(1,3,6), meias elásticas(3,6) e repouso(6). Todavia, as terapias têm mostrado resultados semelhantes.

As complicações mais importantes da TFP são a progressão da trombose para as veias profundas da perna(7) e a ocorrência de tromboembolismo pulmonar(1).

Dentre os diagnósticos diferenciais da TFP, podemos destacar: fasciite plantar(2,4,5), afecções tendíneas(3,5), bursites(5), neuroma de Morton(4,5), fraturas de estresse(2,4,5), sesamoidite(5) e cistos gangliônicos(5). Não há descrição de óbito relacionado à TFP.


REFERÊNCIAS

1. Barros M, Nascimento I, Barros T, et al. Plantar vein thrombosis and pulmonary embolism. Phlebology. 2015;30:66-9.

2. Bruetman JE, Andrews JA, Finn BC, et al. Plantar vein thrombosis as a cause of local pain. Medicina (B Aires). 2014;74:87-8.

3. Czihal M, Röling J, Rademacher A, et al. Clinical characteristics and course of plantar vein thrombosis: a series of 22 cases. Phlebology. 2014. [Epub ahead of print].

4. Karam L, Tabet G, Nakad J, et al. Spontaneous plantar vein thrombosis: state of the art. Phlebology. 2013;28:432-7.

5. Miranda FC, Carneiro RD, Longo CH, et al. Tromboflebite plantar: achados em ressonância magnética. Rev Bras Ortop. 2012;47:765-9.

6. Geiger C, Rademacher A, Chappell D, et al. Plantar vein thrombosis due to busy night duty on intensive care unit. Clin Appl Thromb Hemost. 2011;17:232-4.

7. Barros MV, Labropoulos N. Plantar vein thrombosis - evaluation by ultrasound and clinical outcome. Angiology. 2010;61:82-5.

8. Bernathova M, Bein E, Bendix N, et al. Sonographic diagnosis of plantar vein thrombosis: report of 3 cases. J Ultrasound Med. 2005;24:101-3.

9. Siegal DS, Wu JS, Brennan DD, et al. Plantar vein thrombosis: a rare cause of plantar foot pain. Skeletal Radiol. 2008;37:267-9.










Hospital Santa Catarina de Blumenau, Blumenau, SC, Brasil

Endereço para correspondência:
Dr. Maurício Fabro
Rua Tobias Barreto, 266, ap. 304, Vila Nova
Blumenau, SC, Brasil, 89035-070
E-mail: mauriciofabro@hotmail.com
 
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